MATÉRIAS |
MARIANA DANTAS - DO NE10 - UOL EDUCAÇÃO, 12/04/2012 - SÃO PAULO, SP
Quatro faculdades particulares de Pernambuco são acusadas pelo Ministério Público Federal em Pernambuco de cobrar irregularmente dos seus alunos taxas de serviço como expedição de diploma, certidão de conclusão de curso e de colação de grau, realização de segunda chamada, entre outros documentos. O órgão ingressou com ações civis públicas na Justiça contra a Faculdade Luso-Brasileira (Falub); Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso); Faculdade Joaquim Nabuco e Faculdade de Comunicação, Tecnologia e Turismo de Olinda (Facottur).
De acordo com o MPF, as faculdades não podem receber por serviços decorrentes da própria prestação educacional. Nesses casos, o custo deve ser de responsabilidade exclusiva dos estabelecimentos. A única exceção que permite a cobrança de taxa é para solicitação de segunda via dos documentos.
Ainda que a cobrança das taxas estejam previstas em contrato, as cláusulas são nulas, segundo o MPF, por conterem obrigações abusivas que colocam o consumidor, nesse caso o aluno, em desvantagem, o que é vedado pelo Código de Defesa ao Consumidor.
O Ministério Público informou ainda que, antes de ingressar com as ações na Justiça, enviou recomendações para as faculdades para que não praticassem a cobrança das taxas.
RESPOSTAS - As quatro instituições afirmaram que ainda não foram notificadas pela Justiça sobre as ações e se defenderam das acusações.
O diretor da mantenedora da Faculdade Luso-Brasileira (Falub), Mauri Costa, disse que a instituição nunca cobrou taxa para expedir diplomas e, desde que recebeu a recomendação do Ministério Público, no segundo semestre de 2010, deixou de cobrar qualquer tipo de serviço. Aceitamos a recomendação e, desde então, não cobramos nada ao aluno, além da mensalidade. Vale ressaltar que as nossas taxas não eram altas, cerca de R$ 10, e só eram cobradas aos estudantes que, através de requerimento, solicitavam serviços que fugiam da rotina da faculdade. Muitos requerimentos, por exemplo, eram de ex-alunos que solicitavam documentos antigos, que exigiam pesquisa e tempo dos nossos funcionários , explicou o diretor.
A assessoria da Faculdade de Comunicação, Tecnologia e Turismo de Olinda (Facottur) disse que a instituição também suspendeu a cobrança de taxa desde que recebeu a recomendação do MPF, em 2011.
Em nota divulgada à imprensa, as Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso) afirmaram que respeitam a lei e que as acusações do Ministério Público são infundadas. A direção das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) vem a público informar que está plenamente respaldada na Portaria do MEC n0 40/2007, artigo 32 e incisos, que estabelece as diretrizes de funcionamento para as instituições de ensino superior. Todas as 15 taxas referentes à primeira via de documentos são gratuitas (...) Ao ser oficiada pelo Ministério Público Federal, em 2011, a direção da instituição apresentou, em detalhes, todos os documentos necessários à contestação das alegações do referido órgão, não restando qualquer dúvida quanto a legalidade das cobranças , traz a nota.
Já Grupo Ser Educacional, mantenedor das Faculdades Maurício de Nassau e Joaquim Nabuco, informou que não existe a cobrança de taxas abusivas nas instituições e que os serviços são cobrados de acordo com as normas regulares previstas em contrato. No caso da Faculdade Maurício de Nassau, unidade Recife, o Ministério Público Federal moveu ação civil pública, visando impedir a cobrança das taxas. Todavia, o juiz da 7ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco, indeferiu o pedido de liminar e, no mérito, sentenciou pela improcedência dos pedidos do Ministério Público, ou seja, reconheceu a legalidade da cobrança das aludidas taxas. Quanto à Faculdade Joaquim Nabuco, há igualmente ação civil pública tramitando na 10ª Vara Federal, todavia, por decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a cobrança é legítima e, portanto, deve permanecer até decisão final de mérito , informa a nota divulgada à imprensa.
FELIPE MARTINS - UOL EDUCAÇÃO, 11/04/2012 - RIO DE JANEIRO, RJ
Professores das instituições de ensino superior Univercidade e Gama Filho decidiram em assembléia terminada na tarde desta quarta-feira (11) continuar a paralisação iniciada na última segunda-feira (9). Os profissionais reivindicam o pagamento dos salários atrasados e a melhoria das condições de trabalho. Alunos das duas instituições compareceram à assembléia realizada na sede do Sinpro-Rio (Sindicato dos Professores), prestando solidariedade. Univercidade e Gama Filho são administradas pela Galileo Educaional e têm juntas cerca de 34 mil alunos.
Segundo os educadores, o 13º de 2007 ainda não foi pago, assim como 30% do salário de dezembro de 2011, 50% do salário de janeiro e 100% do salário de março não foram depositados. Eles denunciam ainda que as instituições não depositam desde 2003 o FGTS e não recolhem INSS desde 2006.
“Isso tudo é uma ilegalidade. Por esse motivo, os professores decidiram que sem salário não há aula. Além de todos esses problemas, a Galileo também não cumpriu o dissídio coletivo de 2006. Os professores vivem com o pior salário do mercado”, disse o vice-presidente do Sinpro, Antônio Rodrigues.
Um professor, que preferiu não se identificar por medo de retaliação, contou que muitos profissionais estão passando por graves dificuldades financeiras. Enquanto não houver acordo, os professores que aderiram à paralisação vão às unidades, mas não ministram as aulas.
“Tem muita gente sem fôlego para comprar comida, com cartão de crédito e cheque especial estourados. Os professores que tentaram montar uma associação para discutir os problemas da Univercidade com os gestores foram mandados embora. A situação está insustentável”, declarou.
Procurada pela reportagem do UOL Educação, a Galileo Educacional informou que não vai se pronunciar nesta quarta.
Fusão
Em junho do ano passado, quando as duas instituições anunciaram a fusão, ficou decidido que a Gama Filho passaria a adotar a marca Univercidade. O novo grupo já nasce como a segunda maior instituição de ensino do estado do Rio de Janeiro com 34 mil alunos, atrás apenas da Universidade Estácio de Sá.
Cerca de 300 funcionários da Gama Filho e mais 300 da Univercidade foram demitidos em dezembro do ano passado. As mensalidades foram reajustadas em cerca de 20% ou mais. No curso de Medicina, a mensalidade de R$ 2.700 passou para R$ 3.450. A unidade da Univercidade, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio, foi fechada.
A estudante de jornalismo Natália Aquino, 22 anos, reclama da falta de estrutura na unidade da Univercidade em Ipanema, zona sul do Rio, e do silêncio da instituição quanto a esses problemas.
“A gente ficou um mês sem a aula de uma disciplina por falta de professor. Semana passada a equipe de segurança não trabalhou por causa do atraso de salários. A limpeza também está deixando a desejar e ninguém aparece para explicar nada”, relatou.
Mofo
Estudando desenho industrial também na unidade de Ipanema da Univercidade, Andressa Zucheratte, 21 anos, confirma os problemas enfrentados e pede uma solução rápida.
“Eu estudo em uma sala de aula no subsolo do prédio que está sempre com forte cheiro de mofo. A estrutura é péssima. Muitos alunos sofrem reação alérgica. Os banheiros estão sempre sujos no horário da noite. É uma pena porque é um curso bom, mas caro e os pagamentos têm que ser feitos em dia”, declarou.
No próximo sábado (14), os professores fazem uma nova assembléia ao meio-dia que pode decidir pela greve caso não haja acordo com a administradora das duas instituições. Na próxima segunda-feira, 16, em protesto, os professores farão uma aula externa em frente à Univercidade de Ipanema.
LUIZ FRANCISCO - UOL EDUCAÇÃO, 11/04/2012 - SALVADOR, BA
Em assembleia realizada no final da manhã desta quarta-feira (11), os professores da rede estadual da Bahia decidiram entrar em greve por tempo indeterminado para forçar o governo a conceder um reajuste salarial de 22,22% e garantir a implantação do piso salarial da categoria, que é de R$ 1.451. Após a decretação da greve, que pode afetar cerca de 1,5 milhão de alunos nos 417 municípios da Bahia, os professores fizeram uma manifestação no centro de Salvador.
Em nota, a Secretaria da Educação informou “que todos os professores da rede estadual de ensino receberão o piso nacional estabelecido em lei. Segundo a secretaria, “o projeto de lei que garante o pagamento do piso para 5.210 professores de nível médio (carreira em extinção), que ficaram com os salários abaixo do novo patamar nacional, será enviado nesta quarta-feira à Assembleia Legislativa”. A nota informa, ainda, que as secretarias da Administração e Educação “asseguram que o cumprimento do piso nacional na Bahia é um compromisso do governo.”
A vice-coordenadora da APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Bahia), Marilene Betros, afirmou que os professores negociam o pagamento do piso nacional com o governo “há muito tempo”. “O governador [Jaques Wagner] alega que não tem dinheiro, mas faz propaganda todos os dias dizendo que a educação da Bahia melhorou, o que não corresponde à realidade.”
Segundo a APLB, todos os 45 mil professores da rede estadual aderiram à greve. “Nossa greve é mais do que justa, porque o governo não cumpriu a promessa de reajustar os nossos salários”, disse Rui Oliveira, presidente da APLB.
LUIZ CARLOS LIMA - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE JOÃO PESSOA - UOL EDUCAÇÃO, 12/04/2012 - JOÃO PESSOA, PA
Três adolescentes ficaram feridos após um aluno de uma escola da Paraíba disparar contra os colegas e fugir. Segundo uma das vítimas, o caso foi motivado por ciúmes.
Os tiros ocorreram por volta das 14h de ontem na escola estadual Enéas Carvalho, em Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa.
O atirador foi identificado, mas não havia sido localizado até a conclusão desta edição.
Um dos jovens feridos, que tem 15 anos e está no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, disse à polícia que era o alvo dos disparos.
Ele foi atingido no bebedouro do pátio do colégio. Aos policiais, disse que o motivo do ataque foi uma briga causada por ciúmes.
Duas adolescentes que estavam próximas do bebedouro, ambas de 17 anos, também foram baleadas.
Uma delas continua internada no mesmo hospital após sofrer ferimentos no braço e passar cirurgia. A outra, atingida no pé, foi atendida e depois liberada.
Segundo o vice-diretor da escola, Júnior Cavalcante, o atirador entrou no local com um colega, e ambos vestiam uniformes. O outro garoto não foi identificado.
Depois do incidente, todos os estudantes do colégio foram liberados das aulas.
DO G1 MA - O GLOBO, 12/04/2012 - SÃO LUÍS, MA
Os professores da rede municipal de ensino de São Luís decidiram que irão retornar para as salas de aula a partir de segunda-feira (16). O Sindicato dos Profissionais do Magistério do Ensino Público Municipal de São Luís (Sindeducação), que representa a categoria, pode, a qualquer momento, convocar uma assembleia extraordinária e deflagrar uma nova paralisação.
Os professores decidiram, ainda, que apenas retornarão às atividades normais desde que as escolas apresentem condições de infraestrutura para receber a demanda. As unidades de ensino que serão reformadas apenas voltarão a funcionar assim que os serviços forem concluídos. Até lá, os professores dessas escolas assinarão o ponto de frequência na Secretaria Municipal de Educação (Semed), na Rua 7 de Setembro, no Centro.
Da pauta de 30 reivindicações da categoria, vários itens começaram a ser atendidos, como, por exemplo, a reforma dos colégios. No dia 2 de março, foi realizada a primeira reunião oficial entre as partes envolvidas, mas somente no encontro de ontem é que algumas pendências foram resolvidas.
Outro ganho da categoria foi um reajuste salarial de 7% concedido por meio de um projeto do prefeito João Castelo e aprovado em caráter de urgência pela Câmara Municipal de São Luís.
No entanto, algumas reivindicações ainda não foram atendidas, o que justifica o estado de greve dos professores. O Sindeducação quer a atualização da tabela de vencimentos da categoria, a concessão das progressões horizontais e verticais e ainda a reestruturação da jornada de trabalho.
DO G1 DF, COM INFORMAÇÕES BDDF - O GLOBO, 12/04/2012 - BRASÍLIA, DF
Estudante transexual da Universidade de Brasília (UnB) luta pelo direito de ser chamado pelo nome que escolheu e não pelo que consta no registro civil. No início deste ano, um estudante de Ciência Política, que tem o nome de mulher em todos os documentos, entrou com recurso na reitoria da UnB pelo direito de ser chamado pelo nome que escolheu: Marcelo Caetano.
Marcelo Caetano diz já ter passado por diversas situações constrangedoras. “Na hora da chamada, quando é a lista só para assinar o nome, assino sem problema. Mas quando a chamada é oral eu converso diretamente com os professores, alguns têm ótima reação, mas nem todos são assim”, conta.
A Procuradoria da UnB já deu parecer favorável ao estudante, mas sugeriu que sejam mantidos os dois nomes na documentação do aluno. Agora, a decisão será levada para votação no Conselho de Graduação, formado por professores.
“Nós estamos apenas aguardando o pronunciamento do relator. E assim que tiver a primeira sessão, já com o parecer do relator, o processo provavelmente será votado”, garante o chefe de gabinete da reitoria da UnB, Davi Diniz.
A psicóloga Tatiana Lionço afirma que o impedimento do uso do nome social, aquele escolhido por opção, diferente do que consta no registro civil, pode deixar marcas, muitas irreparáveis. “Quando essa situação se coloca a pessoa transexual fica vulnerável à injúria, ao processo de bullying e sem contar a necessidade de se expor cotidianamente a condição transexual”, ressalta.
Mas o uso do nome social divide opiniões entre os estudantes da instituição. “Assim abre também a [possibilidade] para todas as outras pessoas que têm vontade de querer mudar o nome”, diz a estudante Michelle André.
Para o universitário Fernando Morbec deve prevalecer o direito de igualdade. “Muitas vezes as pessoas ficam desconfortável com o nome que elas têm civilmente e prefere ser chamada pelo nome social”, diz.
Se a UnB aprovar o pedido de Marcelo Caetano a decisão seguirá uma tendência. O Ministério da Educação e os Conselhos Regionais de Ensino orientam as instituições a permitirem o uso do nome social dentro de escolas e universidades. O mesmo acontece na administração pública.
Desde 2010, uma portaria do Ministério do Planejamento garante que servidores públicos federais possam usar o nome social nos crachás de identificação. É importante [essa medida] porque resguarda o direito dessas pessoas de não sofrerem constrangimentos na sua vida pública, nos seus relacionamentos. E nos queremos preservar, justamente, a dignidade dessas pessoas”, enfatiza o coordenador de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos.
CORREIO BRAZILIENSE, 12/04/2012 - BRASÍLIA, DF
Em reunião ontem com parlamentares da Comissão Especial do Plano Nacional da Educação (PNE), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, manteve a postura já conhecida do governo federal de aumentar dos atuais 5% para 7,5% o investimento em educação do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o deputado federal Newton Lima (PT-SP), o titular da pasta disse ainda que há uma chance de o valor ser reavaliado nos próximos cinco anos. Apesar da cobrança de um investimento de 10% feita por entidades ligadas ao tema, o relator da proposta na Câmara, o deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), disse estar convencido de que a quantia proposta “fará uma revolução na educação”. O encontro a portas fechadas, porém, foi criticado. “Mostra claramente a restrição do governo em debater o assunto. Se ele vai dizer que não tem como aumentar a quantidade do investimento do PIB, isso deveria ser dito publicamente”, defendeu o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
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EDITORIAIS |
NAHIMA MACIEL - CORREIO BRAZILIENSE, 12/04/2012 - BRASÍLIA, DF
Editora formada por moradores da Estrutural lançará dois títulos na Bienal de Brasília, com destaque para A menina e o rio, do estudante Almir Gomes da Silva, de 19 anos.
A ideia veio da Argentina. Quando Deuzani Noleto, 57 anos e bancária aposentada, foi apresentada ao grupo Eloisa Cartonera pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), logo fantasiou implantar o projeto na Estrutural. Reunidos em cooperativa em bairro carente de Buenos Aires, os vizinhos portenhos montaram uma editora de livros com material reciclado e textos em domínio público ou doados por escritores. A intenção era viabilizar a inclusão social da comunidade. Deuzani, uma das coordenadoras do Ponto de Memória da Estrutrural, achou que o formato podia funcionar por aqui. E, no ano passado, reuniu os jovens que frequentam o local para criar o Abadia Catadora.
Esta semana é a mais agitada da história da pequena editora. Os 10 integrantes se preparam para lançar os dois primeiros livros na 1ª Bienal do Livro e da Leitura de Brasília, que inaugura no sábado. “De repente vira até uma fonte de geração de renda para os meninos”, destaca Deuzani. Por enquanto, o catálogo da Abadia Catadora conta com apenas dois títulos. De mãos abertas e punhos fechados foi doado pelo autor, Carlos Rodrigues Brandão, e A menina e o rio é criação de Almir Gomes da Silva, estudante e morador da Estrutural.
Uma vez por semana, o grupo se reúne na sede do Ponto de Memória, na quadra 3, para confeccionar as capas e montar o miolo dos livros. Um acordo com uma catadora resolveu o problema do material: o papelão é entregue na porta do Ponto de Memória. Domingo foi dia de mutirão para dar conta de preparar os livros.
Agora resta incrementar a editora. Deuzani planeja um conselho formado por escritores para selecionar os textos e uma oficina de escrita, além de uma biblioteca que aos poucos ganha corpo. “A gente precisa é de espaço para os livros”, diz. Também espera doações de autores locais. Se forem da Estrutural, melhor ainda. O ilustrador Fernando Lopes já passou por lá com uma oficina de ilustração e o poeta Nicolas Behr, que conheceu o projeto durante um sarau literário, também quer ajudar. Na Bienal, cada livro será vendido por R$ 7.
Para os irmãos Douglas Hudson Mendes, de 14 anos, e Érica Afi Hamenoo, 18 anos, a iniciativa, além de divertida, é uma maneira de recuperar a autoestima do bairro de 26 mil habitantes. “Tem muito preconceito em relação à Estrutural”, constata Douglas. “E a gente tenta mostrar que não é um lugar ruim.” Valorizar o trabalho dos catadores também é motivo de orgulho para o garoto, filho de um casal de catadores e recicladores de madeira. “Meus pais trabalham muito e não deixaram a gente trabalhar com eles porque queriam que fôssemos alguém na vida. Sempre vi meus pais sendo discriminados, mas eles têm muita consciência e preocupação ambiental.”
A irmã Erica conta que a mãe sonha em abrir uma biblioteca e que, há anos, a família armazena livros. “Esse projeto é inovador, pelo menos em Brasília. A Estrutural tem uma história de luta muito grande e isso vai chamar a atenção para nossa comunidade.” Cada livro tem capa diferente criada pelos integrantes do grupo. A sistemática é simples: primeiro, eles leem os textos, depois discutem quais imagens seriam apropriadas para então realizar os desenhos. O miolo é impresso, copiado e revisado por um dos alfabetizadores que integram o grupo. Almir é o calígrafo da turma, o encarregado de escrever os títulos nas capas. “E cada capa é diferente, não tem outra igual. Esse é o diferencial da editora”, avisa Érica.
A menina e o rio é uma história destinada ao público infantojuvenil. A personagem acredita poder conversar com a natureza. A partir da fantasia, desenvolve uma amizade com um rio. Almir Gomes da Silva, 19 anos, gosta de histórias mágicas, ficção científica, suspense e aventura. Herdou o gosto das histórias em quadrinhos que costumava ler na infância e começou a escrever aos 13 anos. Entre meninos e meninas, amor ou orgulho, o que você escolheria? foi o primeiro livro de uma série de cinco destinados às aventuras de um grupo de estudantes.
A ligação de Almir com os livros nasceu de um incentivo escolar. Foi uma professora quem apresentou o mundo das letras ao menino. Desde então, Almir faz de tudo para conseguir um livro. Fica nervoso se ouve falar de algo que estimulou os colegas e no qual ainda não colocou as mãos. “Vou aonde for para conseguir”, avisa o rapaz, frequentador das bibliotecas e sebos do Plano Piloto. Recentemente, se atracou com Grandes esperanças, de Charles Dickens, e Drácula, de Bram Stoker. Gosta dos contos de Carlos Drummond de Andrade e das poesias de Fernando Pessoa. Está lendo A sombra do vento, do espanhol Carlos Ruiz Zafon, pela quinta vez. Quando começa a enfrentar as últimas páginas de um livro sente um comichão e fica inquieto se já não tiver outro na cabeceira. Acontece que é tudo muito caro e nem a mãe, dona de casa, nem o pai, serralheiro, têm condições de sustentar o hábito.
Publicar as histórias não é algo que realmente preocupe Almir. Aliás, ele é bem parcimonioso quanto a permitir a leitura a estranhos. Só deixa os melhores amigos e a namorada — “minha maior e mais importante crítica” — lerem. E não distribui cópias para ninguém. “Sou escritor de gaveta. Meus livros ficam guardados”, brinca. Quando começou a escrever, não tinha condições nem de comprar o papel. Preenchia o verso das provas da escola com as histórias até que ganhou uma bolsa e uma viagem para Paris em um programa socioeducativo da Embaixada da França. Estudou francês na Aliança Francesa e guardou parte do dinheiro da bolsa para comprar o notebook no qual passou a digitar os livros. “Melhorou muito”, diz. Lançar A menina e o rio na Bienal foi decisão pensada e repensada. Almir finalmente topou. Achou que a ocasião era apropriada. “Fui a todas as feiras do livro. Não perco uma”, explica.
RENATO ALVES - CORREIO BRAZILIENSE, 12/04/2012 - BRASÍLIA, DF
Em agosto de 1968, um estudante foi baleado na cabeça durante a invasão dos militares à UnB. Waldemar Alves da Silva Filho sobreviveu, depois de ficar em coma, mas perdeu 60% da visão do olho esquerdo e tem dificuldades de raciocínio. Até hoje, busca reparação.
Ao ouvirem a barulheira em 29 de agosto de 1968, alunos e professores deixaram as salas de aula da Universidade de Brasília (UnB) para ver o motivo da confusão. Entre eles, Waldemar Alves da Silva Filho, então com 27 anos e aluno do terceiro ano de engenharia mecânica. Logo, o jovem percebeu se tratar de mais uma invasão de militares para sufocar manifestação contra a ditadura. Mesmo não sendo um militante, ele acabou se tornando a principal vítima da repressão no câmpus naquele dia. Quando se debruçou do parapeito do andar superior do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão, uma bala de calibre .38 veio de baixo. O projétil parou em seu crânio, perto do olho esquerdo.
Passados 43 anos, Waldemar ainda busca uma reparação pela agressão e suas consequências. Não esconde a mágoa com os militares e os colegas da UnB, para onde voltou um ano após ser baleado e acabou jubilado por não conseguir acompanhar o ritmo das aulas. “Quando estava no hospital, o presidente Costa e Silva me abraçou e garantiu que eu voltaria à UnB com todo o apoio que o governo pudesse me dar. Mas nunca tive um coordenador, um psicólogo ao meu lado. Nunca recebi o abraço de um colega, de um professor”, lembra. Após o tiro, ele ficou nove dias em coma e meses internado em dois hospitais do Rio de Janeiro. Sobreviveu, mas perdeu 60% da visão do olho esquerdo e começou a ter dificuldades de raciocínio.
Em 29 de agosto de 1968, homens das polícias Militar, Civil, Política (Dops) e do Exército invadiram a UnB para reprimir manifestações e prender estudantes. Um dos alvos era Honestino Guimarães, principal líder estudantil da universidade. Detido diversas vezes, ele teve que fugir para viver na clandestinidade, até ser encontrado por militares da Marinha, no Rio de Janeiro, em 1973, e ser dado como desaparecido. “Para você ver o tamanho da injustiça que fizeram comigo, eu nem gostava do Honestino e dos seguidores deles. Achava um bando de arruaceiros. Não compactuava com suas ideias, com nenhuma ideia de esquerda”, conta Waldemar Filho. Além de estudar engenharia, Waldemar era fiscal do aeroporto, atividade civil, mas submetida ao Ministério da Aeronáutica.
O pai dele, Waldemar Alves da Silva, era motorista da Aeronáutica. Ele nunca escondeu a revolta com os militares. “Ele morreu (em 1995) desgostoso por não ter um filho engenheiro, culpando os militares por tudo o que aconteceu com o meu irmão. E uma das coisas que mais o chateou foi saber que um vizinho nosso, sargento, sabia da invasão à UnB com um dia de antecedência. Ele poderia ter avisado o nosso pai”, comenta Adilson Alves da Silva, 59 anos, irmão mais novo de Waldemar Filho. Médico, Adilson hoje cuida do irmão, que mora no Cruzeiro Novo. “Ele esquece as coisas, sem falar nas dificuldades financeiras, pois teve sete filhos”, ressalta Adilson.
Sonho
Jubilado da UnB em 1971, Waldemar Filho só conseguiu voltar a estudar dois anos depois, quando o então Centro Universitário de Brasília (Ceub) aceitou os seus créditos e o deixou se matricular em matemática. Curso que ele concluiu em 1974, quando começou a dar aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal. Waldemar acabou aposentado como professor em 1994, mas nunca se deu por satisfeito. “Ser professor não era a minha meta. Eu queria ser um engenheiro, o primeiro doutor da família, como dizia o meu pai, mas um tiro me tirou esse sonho”, lamenta. Ele ainda tentou retomar o posto no aeroporto, em 1984, mas diz não ter sido bem aceito pelos colegas e chefes. “Eu sofria muita perseguição. Parecia que ninguém confiava em mim.”
No entanto, levou anos para Waldemar e seus familiares manifestarem todo o descontentamento. “A gente vivia com medo. Tínhamos medo dos dois lados na guerra que o país travou durante os governos militares”, observa Adilson da Silva. Somente em 1999, a família entrou com um processo por pensão para Waldemar. Não deu em nada. Anos depois, contrataram outro advogado, dessa vez em busca de uma ação indenizatória contra o Estado. A resposta veio em dezembro de 2010. Waldemar ganhou R$ 15,3 mil, de uma vez. O valor só aumentou a indignação dele e da sua família. “Lamentamos a morte de estudantes, como Honestino. Sabemos que muita gente sofreu. Mas o valor pago ao meu irmão é irrisório, se comprado aos milhões recebidos por gente que sofreu apenas danos morais”, compara Adilson da Silva.
Waldemar e os parentes ainda lutam por uma reparação pública da Polícia Militar do Distrito Federal. Afirmam que o tiro saiu da arma de um sargento, hoje um coronel. “Há anos sabemos de quem se trata, mas não queremos vingança, nem mesmo uma punição exemplar a ele, até porque agia sob ordens. Mas queríamos ao menos uma desculpa formal da corporação”, afirma o irmão caçula do estudante baleado.
Linha-dura
O marechal Artur da Costa e Silva (1899-1969) foi o segundo presidente do regime militar instaurado pelo golpe militar de 1964. Seu governo (15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969) iniciou a fase mais dura e brutal do regime ditatorial.
Memória
Histórico de invasões
9 de abril de 1964
Nove dias após o golpe militar, tropas do Exército e da Polícia Militar de Minas Gerais invadem a UnB sob alegação de investigar denúncias de “subversão e indisciplina”. Prendem 12 professores para interrogatório. No mesmo mês, a ditadura extingue o mandato do reitor Anísio Teixeira. No lugar dele, é nomeado o médico Zeferino Vaz.
8 de setembro de 1965
Professores entram em greve por 24 horas, em resposta à demissão dos colegas Ernani Maria de Fiori, Edna Soter de Oliveira e Roberto Décio de Las Casas, afastados por “conveniência da administração”. Dias depois, os alunos aderem ao movimento. O reitor Laerte Ramos de Carvalho pede o envio de tropas ao câmpus.
11 outubro de 1965
As tropas chegam na madrugada e cercam as entradas do câmpus. Alunos e professores são impedidos de entrar. Os soldados ficam na entrada dos edifícios, proibiam qualquer agrupamento de pessoas.
28 de março de 1968
Comandados por Honestino Guimarães, cerca de 3 mil alunos da UnB protestam contra a morte do estudante secundarista Edson Luis, morto por PMs no Rio de Janeiro. Sete universitários acabam presos, entre eles, Honestino, que seria dado como desaparecido após ser preso por militares da Marinha, no Rio, em 1973.
29 de agosto de 1968
A UnB é invadida pelas polícias Militar, Civil, Política (DOPS) e do Exército. O estudante Waldemar Alves da Silva Filho é baleado na cabeça e passa meses em estado grave no hospital.
1977
A UnB sofre três invasões militares no ano. Em 31 de maio, estudantes decidem entrar em greve por tempo indeterminado. O reitor José Azevedo chama a PM para intimidar os universitários. É instalada uma comissão de inquérito para apurar as responsabilidades da greve. As aulas são suspensas por 30 dias. A reitoria decide punir 64 estudantes com expulsão ou suspensão de prazos diversos.
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