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iG: Como identificar a criança com superdotação? A quais sinais os pais e professores devem estar atentos? Cristina Colavite: É muito complexo, porque são crianças heterogêneas. Geralmente elas têm uma facilidade muito grande de aprendizado em diversas áreas do conhecimento, profundidade na percepção de mundo, nas sensações, nas observações, nos detalhes e um senso de justiça, ética e moral muito aguçado. São crianças que ficam indignadas com a injustiça e têm uma necessidade absurda de conhecimento, de desafio. Tem facilidade para fazer analogias, associar desde muito cedo o que veem, leem e ouvem. A memória é maravilhosa e elas conseguem organizar as informações. Uma criança comum passa por um menino de rua passando fome e repara. Mas, se logo na sequência há uma vitrine de brinquedos, ela esquece o menino. O superdotado não, ele quer saber por que a criança está lá, quem vai cuidar dela, se ela vai à escola, se ela tem família, e não para de fazer perguntas. Eles se envolvem com os assuntos. Na sala de aula, elas acabam ficando com rótulos negativos. Porque o que o professor fala, para elas não é o suficiente e às vezes completamente banal. Então elas não prestam atenção e fazem bagunça, ou se fecham no seu mundo interno. São crianças desde muito cedo incompreendidas. Esses sintomas podem ser confundidos com distúrbios emocionais? Cristina Colavite: Sim. Erroneamente muitas crianças com altas habilidades são classificadas ou como apáticas, ou hiperativas e déficit de atenção. Elas sofrem e ficam com uma sensação de impotência fora do comum diante das injustiças, dos problemas sociais e políticos do País, por exemplo. Se não são orientadas, se fecham em uma redoma e muitas vezes não conseguem lidar com a frustração. Seu desenvolvimento cognitivo não é compatível com seu desenvolvimento emocional. Os superdotados têm ideais e profundidade no fazer acontecer, mas muitas vezes acabam sendo desestimulados pelos pais e professores, que dizem coisas do tipo “isso não é para a sua idade”, “quando você ficar mais velho vai entender”, “chega de tantas perguntas”, etc. Tenho recebido muitas crianças com diagnóstico errado de hiperatividade e TDA (Transtorno do Déficit de Atenção), que estão tomando Ritalina aos 8 anos de idade. Como eles devem ser tratados na escola? Cristina Colavite: Não se deve segregar. Eles devem conviver com as diferenças e devem ser geradas oportunidades para que eles encontrem seus pares. O ideal é ter um espaço extraclasse, com profissionais capacitados, no qual eles possam ter acesso a tudo o que necessitam para seu desenvolvimento pleno, inclusive cursos. Na minha concepção, deveria haver professores e psicólogos nas escolas. Educar significa dar amparo emocional também. O ideal é ter essa parceria, porque os psicólogos vão orientar como as crianças lidam com a aquisição do conhecimento, como se relacionam enquanto os professores vão transmitindo o conhecimento. Mas são poucas escolas com esses profissionais. O que os professores podem fazer para estimular esses alunos? Cristina Colavite: Não é uma coisa fácil e é por isso que estou dando este curso. Os professores precisam ter estratégias na elaboração de projetos para esses alunos. Cada uma vem com uma demanda. Eles têm que estar preparados para não minar essas crianças, e sim para estimulá-las. O papel é orientar essa demanda. Não pode falar “não” o tempo todo. “Agora não pode perguntar”, “isso você vai ver o ano que vem”. É direito da criança portadora de necessidades especiais ter um trabalho específico para seu desenvolvimento. Os superdotados também estão nesta classificação, pois a lei de diretrizes e bases diz que é necessário dar amparo específico. Estima-se que 5% a 10% da população seja superdotada. Isso significa que em praticamente toda classe há cerca de dois alunos superdotados. Estamos desperdiçando talentos? Cristina Colavite: A Organização Mundial de Saúde fala em 12% da população. Eu acho que este índice varia de 5 a 8% e acredito que em cada sala a gente tenha pelo menos um estudante com alta habilidade perceptível. Sem dúvida, estamos deixando de despertar nossos melhores políticos, administradores, matemáticos, cientistas, artistas, pesquisadores. Os superdotados tem um perfil emocional distinto? São tímidos, sofrem bullying, tem problemas emocionais, dificuldades de expressão ou isso varia muito de criança para criança? Cristina Colavite: Depende de cada criança. A maturidade significa desenvolver os recursos internos emocionais para lidar com as situações adversas do mundo. A criança não sabe fazer isso. Mediante a uma percepção de mundo muito aguçada, o desenvolvimento emocional estará sempre aquém. O desenvolvimento emocional tem que estar muito bem amparado para segurar essa percepção de mundo intensa. Educadores e pais têm que ouvir a criança, entender a demanda dela e não minar. Tentar entender suas necessidades. Olhar para a criança sem preconceito, sem a ideia de que todas são iguais. E procurar supri-las. |
Editoriais, artigos e opiniões
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> Folha de São Paulo, 13/03/2012 - São Paulo SP O impacto do estágio Estagiários não são 'escraviários': 64% acabam efetivados; o alto desemprego entre jovens e a bolsa-auxílio fazem do estágio uma grande oportunidade Ruy Martins Altenfelder Silva | ||
O jovem Edmilson Guimarães Nascimento conseguiu realizar um sonho que ninguém de sua família havia atingido. Venceu o vestibular para a Universidade Federal do Maranhão, localizada na cidade de Imperatriz, a 12 quilômetros do município de João Lisboa, onde vivia. Com a ajuda dos avós -que já sustentavam sua mãe e seus três irmãos com um pequeno roçado-, tinha o dinheiro do ônibus. Precisava ainda cobrir parte da distância de bicicleta e mais um quilômetro a pé, tanto na ida quanto na volta da faculdade. Assim mesmo, até o quarto semestre, ele conta que capinava terrenos para completar o custo do transporte. Chegou a pensar em desistir de tudo para trabalhar em uma fazenda no Mato Grosso. Sua história mudou quando foi aprovado para um estágio em uma empresa em Imperatriz, recebendo a bolsa-auxílio obrigatória, que até ajudou no orçamento familiar. Em um ano, assumiu as tarefas de um superior que mudou de emprego, foi efetivado como celetista e saiu para abrir o seu próprio negócio, um escritório de contabilidade em sociedade com um colega que conheceu no estágio. Hoje, casado e com três filhos, planeja trazer sua mãe para morar em Imperatriz. Qual o crédito do estágio nesse case de sucesso? "Afinal, 70% de tudo que aprendi na minha profissão foi como | estagiário." A história de Edmilson, disponível emwww.ciee.org.br, não é a única que comprova o valor do estágio como uma eficaz modalidade de qualificação de futuros profissionais, ao completar o aprendizado teórico com a indispensável experiência prática exigida pelo mercado de trabalho. Histórias similares se multiplicam aos milhares há quase meio século. Uma pesquisa do instituto TNS InterScience comprova o peso do estágio no acesso a um primeiro emprego formal: 64% dos estudantes são efetivados ao final do primeiro ou segundo período de estágio. Esse número ganha mais expressão ainda se comparado à taxa de desemprego jovem levantada pelo IBGE: enquanto a média nacional de desemprego beira os 6%, o índice chega a 12,6% na faixa etária dos 20 aos 24 anos -e é ainda maior no segmento dos 15 aos 17 anos, com 22,9%. Assim, a análise dos benefícios do estágio para a formação de novos talentos não pode partir de uma visão apenas laboral, até porque um jovem inexperiente não poderia ser avaliado como um profissional formado. Tal análise deve levar em conta que o estágio é uma atividade pedagógica, reconhecida e disciplinada por lei, que define os direitos e os deveres do estagiário. E, nessa condição, tem efeitos pedagógicos (está alinhado ao | currículo escolar) e de desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais requeridas pelo mercado de trabalho, tais como disciplina, espírito de equipe, aprendizado contínuo etc. Por tudo isso, constitui uma fonte de recrutamento muito utilizada por empresas de todos os portes e segmentos. Pois, como diz José Pastore, reconhecido especialista em relações de trabalho: "As organizações observam bem esse futuro profissional, analisam seu talento e sua competência, investindo, na medida do possível, em seu treinamento para acabar integrando essa pessoa no quadro definitivo. Esse é o indicador muito forte da eficiência do estágio." Um detalhe que desmente a ideia do chamado "escraviário": a média da bolsa-auxílio concedida a estagiários de nível superior no Maranhão é de R$ 494, enquanto a renda per capita em João Lisboa, onde Edmilson capinava terrenos para pagar o transporte até a faculdade, é de R$ 346 -números que falam por si sobre o impacto social do estágio nas condições de vida de estudantes, em especial os que vivem em regiões de menor renda. RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA, 72, é presidente do conselho de administração do CIEE-SP (Centro de Integração Empresa-Escola) e do conselho diretor do CIEE Nacional |
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