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quinta-feira, 8 de março de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL, QUARTA 07 DE MARÇO DE 2012





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  • Hierarquia inibe inovação no Brasil, diz engenheira norte-americana > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
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  • Pais poderão faltar ao trabalho para participar de reunião em escola de filho > Correio Braziliense - Brasília DF
  • Ministro diz que não vai prejulgar denúncias contra Unip > Folha.com
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  • A educação básica terá um colapso por falta de professores” > IG Educação

Editoriais, artigos e opiniões
  • As distorções do Enade > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Opinião equivocada sobre cursos de medicina > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Quanto vale um professor? > Gazeta de Alagoas - Maceió AL

Matérias
> O Estado de São Paulo, 06/03/2012 - São Paulo SP
Hierarquia inibe inovação no Brasil, diz engenheira norte-americana
Para diretora de Desenvolvimento da CH2M Hill, este é um dos desafios enfrentados por jovens profissionais
Carlos Lordelo, do Estadão.edu
SÃO PAULO - O respeito à hierarquia inibe a inovação nas empresas brasileiras, enquanto nos EUA produzir novas tecnologias está no DNA da população. A análise é da diretora de Desenvolvimento da CH2M Hill na América Latina, Eleanor Allen. Nesta terça-feira, 6, a executiva deu uma palestra sobre oportunidades e desafios para os jovens engenheiros no Brasil, no câmpus da PUC-SP na Consolação, centro. "A base da nossa cultura (dos EUA) é produzir tecnologia e inovação. Aqui, sinto uma diferença: não é muito bom oferecer uma ideia nova porque pode te trazer problemas, pode ser visto como falta de respeito", afirmou Eleanor, por telefone, antes da conferência. "Aqui, é mais complexo quebrar paradigmas."

A engenheira norte-americana, de 43 anos, vive no Brasil desde janeiro do ano passado. Mora no Rio de Janeiro com o marido e dois filhos, um de 11 e outro de 6 anos. Como já havia trabalhado em Porto Rico por cinco anos, teve facilidade para aprender português. Mas ainda fala com um forte sotaque espanhol. Dominar outras línguas, aliás, é uma das habilidades que os estudantes de Engenharia devem desenvolver, segundo Eleanor. "Há coisas que ele não encontra na formação universitária, então deve correr atrás, como aprender a se comunicar, escrever e 
trabalhar em equipe." A executiva ressalta o bom momento para a engenharia brasileira em razão do crescimento da economia e dos grandes eventos esportivos que serão realizados por aqui nos próximos cinco anos. "Existe demanda por engenheiros de todas as formações", diz.

Recomendações - Para aproveitar essa onda, Eleanor recomenda que os alunos busquem se qualificar no exterior ainda durante a faculdade, em programas de intercâmbio acadêmico. Ela, por exemplo, cursou o 3.º ano de Engenharia na Holanda e aproveitou os créditos quando voltou aos EUA. Outra dica da executiva: estagiar em multinacionais, para "entender como funciona o mundo fora da faculdade e do Brasil". Também é importante conversar com quem já está trabalhando na área, perguntar sobre o dia a dia da profissão e aconselhar-se. "É importante se inspirar na carreira de alguém para traçar metas." Para quem está pensando em desistir do curso, Eleanor lembra da consistência da formação. "A faculdade é uma pequena parte de sua vida. Ela te dá ferramentas para o futuro, te ensina a pensar como resolver problemas, amplia sua visão e desenvolve seu raciocínio lógico. Isso é útil para várias coisas no futuro."

A norte-americana destaca ainda
que após a colação de grau o jovem engenheiro deve trabalhar em áreas diferentes para escolher no que se especializar. "Eu trabalhei por cinco anos com saneamento, e isso foi fundamental para eu escolher o meu mestrado. Já queria fazer a pós na área ambiental durante a faculdade, mas não tinha 100% de certeza", conta Eleanor. Engenheira Civil formada pela Universidade Tufts, no Estado do Massachusetts, a executiva fez mestrado em Engenharia Ambiental na Universidade da Califórnia em Berkeley e completou o programa de formação executiva da London Business School.

Maratona - A palestra de Eleanor ocorreu durante a etapa nacional da 8.ª Maratona Global de Engenharia. O encontro ocorreu em São Paulo e foi transmitido para todo o mundo via internet. A maratona termina no sábado, com conferências em outros continentes. É possível acompanhar as atividades online. Basta se cadastrar no site  15 minutos antes de cada ciclo de palestras. Todas as apresentações são lideradas por mulheres que atuam nas áreas de engenharia e tecnologia. O evento visa a discutir os desafios de alimentar os 7 bilhões de habitantes da Terra.

> Correio Braziliense, 06/03/2012 - Brasília DF
Paulo Davim critica reabertura de vagas em faculdades de medicina consideradas inadequadas em avaliação do governo
Agência Senado
O senador Paulo Davim (PV-RN) criticou nesta terça-feira (06) a reabertura de vagas em faculdades de medicina que, em 2008, foram consideradas inadequadas pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Ele opinou que o país necessita prezar pela boa formação dos profissionais de saúde. A Secretaria de Ensino Superior (Sesu) resolveu diminuir o número de vagas nas faculdades consideradas inadequadas para o ensino médico. Entretanto, recentemente, o Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu por reabrir algumas dessas vagas.

- Nós precisamos nos esmerar na formação dos nossos médicos. O Brasil já dispõe de 375 mil médicos, numa proporção de 1,5 médico para cada mil habitantes – disse Paulo Davim, explicando que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerada satisfatória a proporção de um médico para cada mil habitantes. O senador também disse que o Brasil já possui 185 faculdades de medicina, o segundo
país com maior número de escolas médicas, ficando atrás apenas da Índia. Ou seja, o país precisa priorizar a qualidade da formação. - Não será dessa forma, atropelando a exigência de qualidade na formação dos médicos, formando médicos de forma negligente, aceitando faculdades e escolas médicas que não atendam aos pré-requisitos básicos para a formação do profissional, que nós vamos ter uma saúde pública digna, resolutiva, universal e confiável – declarou.


> Correio Braziliense, 06/03/2012 - Brasília DF
Pais poderão faltar ao trabalho para participar de reunião em escola de filho
Agência Senado
O trabalhador que precisar faltar ao trabalho para participar de reunião na escola de seus filhos, uma vez por semestre, poderá ter a ausência abonada, sem prejuízo do salário. A medida consta de projeto (PLS 620/ 2011) de autoria da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), aprovado nesta terça-feira (6) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A proposta inclui a participação em reuniões escolares entre as hipóteses de ausência justificada ao trabalho, previstas no artigo 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Para não ter o dia descontado, o trabalhador precisará comprovar o comparecimento à escola. Com a proposta, Lídice da Mata quer incentivar os pais a acompanharem mais de perto a educação dos filhos.

O relatório favorável do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foi lido pela relatora ad hoc Ivonete Dantas (PMDB-RN). Em seu voto, Randolfe observou que os pais devem contribuir para o desenvolvimento escolar dos filhos não apenas acompanhando na
realização de tarefas de casa, “mas também – e com crucial importância – no diálogo com a escola”. Randolfe observa que as reuniões escolares normalmente acontecem no período de trabalho dos pais, sendo essencial que eles contem com a possibilidade de abono da falta ao serviço, para que possam comparecer a esses encontros, sem prejuízos em seus salários. A proposta segue para a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) e depois para a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), onde será votada terminativamente.


> Folha.com, 06/03/2012
Ministro diz que não vai prejulgar denúncias contra Unip
RENATO MACHADO DE BRASÍLIA
O ministro da Educação Aloizio Mercadante disse nesta terça-feira que não quer fazer um "prejulgamento" em relação a Unip, que está sendo acusada de adotar práticas ilegais para melhorar o seu desempenho no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). MEC investiga denúncia de irregularidades em Enade da Unip. Segundo a denúncia recebida na semana passada, a instituição não preenche totalmente nos cadastros os dados de alunos com baixo desempenho em seus cursos. Assim, eles ficam inaptos a prestar o Enade. Após a prova, a situação é regularizada. Há casos de cursos bem avaliados em que o número de alunos que prestaram o Enade não chega a 10, como odontologia em Campinas.

Uma nota alta no exame nacional faz com que a instituição escape de fiscalizações do ministério, além de servir de publicidade para atrair novos estudantes para a escola. "Não quero me precipitar para não fazer nenhum prejulgamento e nem adiantar eventuais mudanças no processo sem estudar ainda o que aconteceu", disse Mercadante. O MEC encaminhou um ofício com questionamentos para a Unip, que terá um prazo de 10 dias para responder - a contar a partir desta segunda-feira. "A partir da resposta dela, nós vamos avaliar a qualidade das respostas, a consistência para verificar quais são as providências que poderão ser tomadas a partir
daí", afirmou o ministro.

OUTRO LADO - A Unip nega que tenha manipulado seu cadastro para selecionar os seus melhores alunos para o Enade. Segundo a vice-reitora da instituição, Marília Ancona Lopez, as avaliações internas da universidade ficaram mais rigorosas. Por isso, caíram o número de alunos aprovados nas disciplinas e o número de estudantes aptos ao Enade. "Montamos no final de 2008 comissão de qualificação de cursos. Entre as medidas, acompanhamos todas as avaliações que os professores fazem, o que modificou o número de aprovados, com avaliações mais completas e rigorosas", afirmou ela.


> Portal G1, 05/03/2012
Catadora de lixo vive primeiro dia de aula na Universidade Federal do ES
Ercília Stanciany, de 41 anos, estudava com livros achados no lixo. Ela teve o seu primeiro dia no curso de Artes Plásticas na Ufes, em Vitória
Leandro Nossa Do G1 ES
Uma nova jornada começou a ser trilhada pela catadora de materiais recicláveis, Ercília Stanciany, de 41 anos, nesta segunda-feira (5). Ela teve o seu primeiro dia de aula no curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), após ter sido aprovada estudando com livros que encontrava no lixo. A catadora disse que viveu um misto de emoções tão grande, que não conseguiu explicar o que sentiu quando chegou ao campus da Ufes, em Goiabeiras, na capital do estado, para estudar. Só que em vez de aulas, o primeiro dia foi marcado por confraternização e muitas brincadeiras. "É uma emoção inexplicável, parecia que meu coração ia explodir quando cheguei na Ufes. Realizei meu sonho de infância. Fui para meu primeiro dia de aula e fui pintada pelos meus veteranos no trote, estou cheia de tinta, teve muitas brincadeiras, mas valeu à pena. Agora preciso tomar um banho reforçado para tirar essa tinta toda", disse aos risos, Ercília. Ela conta que mesmo na universidade, vai continuar com os serviços de catadora para auxiliar a renda mensal da família. "No que eu puder ajudar meu esposo, eu vou ajudar. E tenho que ajudar porque vou ter que pagar matriais de estudo e o transporte de casa até a Ufes", conta a catadora, que mora na Serra, Grande Vitória. Mas o marido dela, Everaldo Mozer, de 47 anos, quer que ela foque nos estudos. "Sempre foi o sonho dela estudar, se formar. Sempre apoiei e agora que ela conseguiu quero que ela siga em frente com os estudos", afirma.

Reconhecimento na Ufes - Logo que chegou na universidade na manhã desta segunda-feira (5), Ercília disse que foi reconhecida pelos colegas de sala e por demais estudantes. "Todos me receberam muito bem, bateram palmas para mim e me cumprimentaram. Não entendi direito, mas todo mundo já me conhecia por causa da história que saiu na mídia. Eu não quero ser o xodó dos meus colegas de turma, mas quero fazer parte da história deles, porque eles com certeza vão 
fazer parte da minha", diz. Relação com as artes - Vivendo boa parte da vida como catadora de lixo, Ercília lembra que sempre foi fascinada pelo mundo das artes. Ela sempre quis ter uma caixa de lápis de cor, mas só teve a primeira aos 19 anos. "Sempre adorei cores, desenhos e artes. Queria ter uma caixa de lápis de cor quando criança, mas só tive quando ganhei de uma moça, e eu já tinha 19 anos. Sempre quis os lápis, mas não tive coragem de usar, a caixa está guardada comigo até hoje e vai para o meu museu", recorda. Apaixonada por livros, ela agora vai ter que se adaptar a estudar artes também por outro meio, o computador. "Estou juntando dinheiro para comprar um computador. Sempre estudei pelos livros achados no lixo, mas na faculdade já me falaram que eu preciso de computador e internet para muita coisa, então vou ter que dar um jeito, mas vai dar tudo certo. Espero que eu sirva de lição para muita gente que acha que não tem condições de estudar, sempre há jeito", finaliza.


> IG Educação, 06/03/2012
A educação básica terá um colapso por falta de professores”
Maria Lucia Vasconcelos, professora e ex-secretária, lançou livro sobre a etapa escolar e avalia que País deve investir no docente
Marina Morena Costa, iG São Paulo
Em meio ao debate sobre o reajuste e o cumprimento do piso salarial do magistério, Maria Lucia Vasconcelos é enfática: sem valorização da carreira, teremos um colapso na educação básica pela falta de professores. “Tem que haver investimento do Estado no professor. É uma profissão estratégica”, afirma a ex-secretária de Educação de São Paulo e atual presidente do Conselho Municipal de Educação da capital paulista. A professora e ex-reitora da Universidade Presbiteriana Mackenzie lançou nesta terça-feira o livro “Educação Básica” (Editora Contexto), no qual discute os principais temas e problemas dessa etapa com outros educadores. Os cinco capítulos abordam a formação do professor, a autoridade do docente, a ação do professor em sala de aula, o diálogo na escola e o olhar jornalístico para a educação.

“A autoridade tem que ser exercida
em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes”, destaca Maria Lucia. Para a educadora, os professores precisam chegar à sala de aula melhor preparados e mais seguros de seu trabalho para conduzir os alunos. E a formação universitária deve ser reformulada, para que esteja mais próxima da realidade escolar. Leia a entrevista concedida do iG:
iG: Muitos jovens profissionais reclamam que a faculdade está distante das salas de aula, com professores que não conhecem a realidade atual e oferecem uma formação técnica e prática muito deficiente. As licenciaturas precisam de uma reformulação para formar melhor os nossos professores?
Maria Lúcia: Não há diálogo entre a universidade e a educação básica. Há um fosso. A universidade continua fazendo o que ela acha que deve fazer sem conhecer a realidade e as necessidades dos professores. Não vejo como melhorar a qualidade da formação sem mexer nas licenciaturas e na valorização do professor. Daqui a pouco vamos ter um colapso na educação básica pela falta de professores. Já estamos com uma crise braba, para algumas disciplinas como história e geografia em que é muito difícil encontrar professores. Tem que valorizar a carreira, torná-la mais atraente.

iG: Governos dos Estados reclamam do reajuste do piso e sugerem que ele siga a inflação...
Maria Lúcia: Estamos defasados no valor do piso salarial dos professores. Dado o tamanho da defasagem, só dar inflação não vai resolver nada. Tem que haver investimento do Estado no professor. É uma profissão estratégica.

iG: No livro a senhora comenta sobre o exercício da autoridade docente. A indisciplina é um dos principais problemas enfrentados em sala de aula e também causa perda de tempo de aula. Como enfrentar esse problema?
Maria Lúcia: A indisciplina afasta o professor da própria profissão, um ambiente desorganizado não é atraente. A autoridade tem que ser exercida em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes. O professor deve exercer a autoridade, porque o papel dele assim exige. Quando o aluno toma as rédeas, as coisas se perdem, e o professor se sente impotente. Nessa ânsia de se aproximar dos alunos, ele acaba perdendo a noção de que os papeis são diferentes. O professor tem que estar melhor preparado para chegar em sala de aula, ter segurança do que ele faz, e saber que ele vai chegar onde quer, sem abrir concessões.

iG: A alfabetização deficiente e a evasão no ensino médio são os principais problemas da educação básica?
Maria Lúcia: Certamente. Se você não tem uma criança bem alfabetizada, ela vai levar essa dificuldade para o resto de sua vida escolar e não terá prazer em aprender. Não podemos fechar os olhos para o fato de que crianças caminham pela idade escolar com fragilidades. Precisa haver continuidade nas políticas públicas. O ensino médio é outro grave problema, porque não responde a nada. Se ele tiver uma clientela fortemente focada no vestibular, pode ser um preparatório. Mas se não, ele não tem sentido para o aluno. Precisa haver uma resignificação do ensino médio, para que o aluno perceba a utilidade daquilo. Não é mais uma criança que está aprendendo, mas um jovem que tem perspectivas, que muitas vezes quer entrar no mercado de trabalho. Precisa voltar para uma coisa mais prática, mais efetiva. No Estado de São Paulo há uma experiência de colocar no contraturno aulas profissionalizantes. Talvez o caminho seja esse.

iG: A cobertura jornalística sobre os temas de educação tem crescido nos últimos anos. Qual é a análise feita pela senhora deste trabalho?
Maria Lúcia: Peguei vários editoriais de jornais e compus um texto só com frases tiradas desses textos. Você não identifica posicionamentos diferentes dos jornais, o olhar é praticamente o mesmo. A abordagem é muito parecida: ‘ainda que a gente tenha caminhado em alguns índices, as coisas não vão bem. A qualidade deixa a desejar’. Concordo com este olhar mais crítico, porque o que a gente pode concluir é que a educação nunca foi uma preocupação real das políticas públicas, com isso as reformas não são feitas, não há continuidade. Educação está na pauta na imprensa, mas não está na pauta política. Só entra na pauta política em época de campanha. Já acordamos para a importância da educação, mas ainda não revertemos em ações concretas de políticas públicas.


Editoriais, artigos e opiniões
> O Estado de São Paulo, 07/03/2012 - São Paulo SP
As distorções do Enade
Editorial
Quando expirar o prazo de dez dias dado à Universidade Paulista (Unip), para que explique os critérios que a levaram a obter um extraordinário êxito no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2010, o Ministério da Educação (MEC) começará a estudar a reformulação dos mecanismos de avaliação do ensino superior, para aprimorá-lo. Pelas regras do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior, as universidades que não inscreverem os formandos habilitados ao Enade podem ser proibidas de abrir processos seletivos para os cursos avaliados em cada edição da prova. Pela denúncia encaminhada ao MEC, o número de formandos da Unip vem variando conforme o calendário do Enade. No ano de avaliação de cada área do conhecimento, o número de alunos cai - e isso permite à Unip inscrever no Enade um número reduzido de alunos, selecionando só os melhores para fazer as provas. Os formandos com pior desempenho são "escondidos", mediante o adiamento do lançamento de suas notas. Com isso, eles não precisam prestar as provas do Enade. As notas desses alunos são lançadas após a realização do Enade.

Em 2010, o Enade avaliou os cursos da área de saúde. Nesse ano, a Unip declarou ter 916 formandos em seus cursos de enfermagem - em 2009, teve 2.399. No câmpus de São José do Rio Preto, a Unip registrou 271
formandos, em 2009, e 24, em 2010. Segundo a denúncia feita ao MEC, a estratégia foi elaborada pela Unip com o objetivo de melhorar sua posição no ranking do Enade e de explorar sua ascensão ao bloco das melhores universidades do País numa agressiva campanha publicitária.

Graças a essa estratégia, a nota da Unip na área de nutrição subiu 207%, entre 2007 e 2010. Em enfermagem, o aumento foi de 107,9%; em farmácia, de 149%; em fisioterapia, de 54,7%; e em odontologia, de 49,5%. Em 2007, a Unip tinha 3 cursos na área de saúde com as notas 4 e 5 (a escala do Enade vai de zero a 5). Em 2010, estavam nessa situação 69 cursos. Em 2007, a unidade dos cursos de enfermagem da Unip mais bem classificada no Enade ficou na 150.ª posição. Em 2010, obteve a primeira colocação. Em nutrição, a Unip não teve nenhum curso classificado entre os 20% melhores, em 2007. Na prova de 2010, 16 dos 17 cursos de nutrição ficaram no grupo de ponta.

Quarta maior universidade do País, com cerca de 200 mil alunos, a Unip alega que o avanço de seus cursos na área de saúde decorreu das "medidas continuamente tomadas para qualificar os cursos". Ela também reconhece que os investimentos foram feitos conforme o calendário de avaliações do Enade. Conforme a área avaliada, a Unip atualizou os programas e as bibliografias, modernizou os
projetos pedagógicos, renovou o material didático e submeteu os professores a programas de capacitação. Mas, para alguns especialistas, o prazo de três anos é curto demais para que essas mudanças possam assegurar aos formandos um preparo equivalente ao das melhores universidades públicas. Para as instituições concorrentes, a estratégia da Unip compromete a credibilidade da avaliação do ensino superior.

Mas, para as autoridades educacionais e para outros especialistas, a Unip não fraudou a avaliação - ela só "maximizou" as regras do Enade. Conhecida pela expressão inglesa "gaming", essa estratégia é usada por empresas em todos os setores da economia. Em outras palavras, a Unip nada mais fez do que melhorar sua classificação no Enade, jogando de acordo com as regras vigentes. Os meios usados podem ser eticamente condenáveis, mas não são ilegais. Por isso, em vez de punir uma universidade que recorreu ao "gaming", premiando os estudantes aplicados que se saem bem nas provas do Enade, o que o MEC pretende fazer é aperfeiçoar o Enade, para evitar que aquela prática possa prosperar, produzindo graves distorções no sistema de avaliação do ensino superior. É esse sistema que está em jogo - e não a "criatividade" de uma instituição que explorou as brechas da legislação educacional pra melhorar a sua classificação.


> Folha de São Paulo, 07/03/2012 - São Paulo SP
Opinião equivocada sobre cursos de medicina
Queremos melhorar os cursos, não fechá-los apressadamente; não há pressão empresarial nas decisões, e não nos curvamos a quem quer reserva de mercado
Antonio Carlos Caruso Ronca
O artigo publicado na Folha do último dia 27 pelo médico Adib Jatene, sobre os cursos de medicina em nosso país, exige esclarecimentos e ressalvas do Conselho Nacional de Educação (CNE). A afirmação de que o CNE teria desconsiderado o trabalho da comissão de especialistas do ensino médico por ele presidida merece reparo. Essa comissão, por conta dos resultados do Enade de 2007, recomendou ao ministro da Educação a redução do número de vagas de ingressantes em cursos de medicina de 17 instituições de ensino superior. O MEC acatou a recomendação da comissão e determinou a implantação de medidas de saneamento das deficiências desses cursos. Das 17 instituições que se encontravam nesta situação em 2007, apenas oito entraram com recurso junto ao CNE contra as medidas do MEC. Trata-se de uma ação perfeitamente prevista pela legislação. Até o momento, o CNE julgou cinco destes recursos, todos apreciados depois da divulgação dos resultados do Enade de 2010. Os três recursos restantes ainda não foram apreciados. Vale destacar que comparativamente aos resultados do Enade de 2007, que deflagrou o processo de redução de vagas e de supervisão nos cursos pelo MEC, todas as cinco instituições demonstraram significativa melhoria tanto no desempenho de seus estudantes em 2010, com resultado igual ou superior a três no Enade, quanto nas condições de oferta.

Conclui-se, a partir do Enade de 2010, ao contrário do que diz Adib Jatene, que as recomendações da comissão foram acatadas. Os cursos melhoraram o seu desempenho, não havendo, portanto, razão para que fosse mantida a redução de vagas. É importante afirmar que a avaliação no ensino superior visa melhorar a qualidade dos cursos, não a punição das instituições ou o fechamento apressado de cursos. Além disso, no que se refere à autorização de novos cursos, o CNE sempre faz uma cuidadosa análise dos recursos. Nos últimos dois anos, apenas um, dentre oito recursos de medicina, foi deferido. As decisões do CNE não são determinadas por influencias políticas ou empresariais. Tampouco o órgão se submete a pressões de corporações que querem estabelecer reserva de mercado para o exercício de determinadas profissões.
Aliás, sobre esse assunto, convém registrar que a proporção de médicos por habitante no Brasil é de um para 1.800. Na Argentina, há um para 3.000. Nos EUA, um para 2.400. O Brasil tem carência de profissionais de saúde, sobretudo no interior. Evidentemente, essa carência, ainda que grave, não é um condicionante para as avaliações do CNE. Nossas preocupações envolvem as instalações de ensino, os laboratórios e os hospitais-escola. O governo federal tem empreendido um trabalho muito objetivo no sentido de recuperar e viabilizar os hospitais universitários, com a criação de uma empresa pública com o objetivo de fazer a gestão desses estabelecimentos, de forma a atender a população da melhor forma. O CNE reafirma o seu compromisso de lutar pela expansão do ensino superior, com qualidade e inclusão social, respeitando a legislação e o devido processo legal. Repudiamos afirmações infundadas sobre a sua conduta. ANTONIO CARLOS CARUSO RONCA, 66, doutor em psicologia pela PUC-SP, é presidente do Conselho Nacional de Educação


> Gazeta de Alagoas, 07/03/2012 - Maceió AL
Quanto vale um professor?
ALOÍSIO ALVES – publicitário e membro da Academia Palmeirense de Letras
O Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, do PT, anunciou um aumento de pouco mais de 22% para as quarenta horas semanais trabalhadas pelos professores de nível médio. Teoricamente, o reajuste deveria beneficiar todos os Estados brasileiros, por se tratar de piso salarial nacional aprovado pelo Congresso em 2008 e convertido em lei federal. Mas a realidade não é bem assim: muitos Estados não cumprem a lei porque seus governantes alegam não existir recursos para remunerar os educadores com um salário digno. Alagoas é uma exceção nesse contexto, já que, no ano passado, o governador equiparou o salário da rede de ensino público estadual ao piso nacional, que agora passa para R$ 1.451, retroativo ao mês de janeiro. É notória a carência de professores no Brasil, segundo dados coletados pelo próprio Ministério, que registra um deficit de 710 mil profissionais, dos quais 235 mil só no Ensino Médio.

Ao que tudo indica, o prazer de ensinar já não é tão atraente. Infelizmente, educação nunca foi prioridade neste País, menos ainda nos Estados do Nordeste, onde as escolas, em sua maioria, são sucateadas, entregues ao total abandono. Alunos de Estados e municípios, em geral, são tratados com desdém, mais parecendo ônus para os gestores que renegam a obrigação constitucional de estimular e oferecer condições de educação indistintamente para todos. Lembremos os casos recentes em Maceió onde escolas, há anos sem assistência da Secretaria de Educação, quase chegam a provocar tragédias imperdoáveis. A Escola Municipal Floriano Peixoto, no distrito de Ipioca, de tão abandonada pela gestão pública está invadida por bichos peçonhentos, ratos, baratas, escorpiões; o mato sobe no teto e
as salas são sujas, imprensadas, sem circulação de ar.

Um analista federal, sem nenhuma pós-graduação, ganha em torno de 8 a 12 mil reais. Um fiscal de renda ganha 16 mil. No Senado Federal, segundo o Correio Brasiliense, os auxiliares legislativos, como ascensoristas e motoristas – funções de nível fundamental –, podem ter o teto da carreira estipulado em quase 17 mil. Um motorista do Senado ganha mais que um oficial da Marinha para pilotar uma fragata. O chefe responsável pela garagem, também do Senado, ganha mais que um oficial-general do Exército. É muito difícil compreender tamanho disparate. Todas as profissões técnicas, intelectuais, religiosas, passam pelo professor. Qualquer que seja a atividade exercida, todas passam pelo professor. É humilhante ser professor no Brasil! 

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