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> O Estado de São Paulo, 06/03/2012 -
São Paulo SP Hierarquia inibe inovação no Brasil, diz engenheira norte-americana Para diretora de Desenvolvimento da CH2M Hill, este é um dos desafios enfrentados por jovens profissionais Carlos Lordelo, do Estadão.edu | ||
SÃO PAULO - O respeito à hierarquia inibe
a inovação nas empresas brasileiras, enquanto nos EUA produzir novas tecnologias
está no DNA da população. A análise é da diretora de Desenvolvimento da CH2M
Hill na América Latina, Eleanor Allen. Nesta terça-feira, 6, a executiva deu uma
palestra sobre oportunidades e desafios para os jovens engenheiros no Brasil, no
câmpus da PUC-SP na Consolação, centro. "A base da nossa cultura (dos EUA) é
produzir tecnologia e inovação. Aqui, sinto uma diferença: não é muito bom
oferecer uma ideia nova porque pode te trazer problemas, pode ser visto como
falta de respeito", afirmou Eleanor, por telefone, antes da conferência. "Aqui,
é mais complexo quebrar paradigmas." A engenheira norte-americana, de 43 anos, vive no Brasil desde janeiro do ano passado. Mora no Rio de Janeiro com o marido e dois filhos, um de 11 e outro de 6 anos. Como já havia trabalhado em Porto Rico por cinco anos, teve facilidade para aprender português. Mas ainda fala com um forte sotaque espanhol. Dominar outras línguas, aliás, é uma das habilidades que os estudantes de Engenharia devem desenvolver, segundo Eleanor. "Há coisas que ele não encontra na formação universitária, então deve correr atrás, como aprender a se comunicar, escrever e |
trabalhar em equipe." A executiva ressalta o bom
momento para a engenharia brasileira em razão do crescimento da economia e dos
grandes eventos esportivos que serão realizados por aqui nos próximos cinco
anos. "Existe demanda por engenheiros de todas as formações", diz.
Recomendações - Para aproveitar essa onda, Eleanor recomenda que os alunos busquem se qualificar no exterior ainda durante a faculdade, em programas de intercâmbio acadêmico. Ela, por exemplo, cursou o 3.º ano de Engenharia na Holanda e aproveitou os créditos quando voltou aos EUA. Outra dica da executiva: estagiar em multinacionais, para "entender como funciona o mundo fora da faculdade e do Brasil". Também é importante conversar com quem já está trabalhando na área, perguntar sobre o dia a dia da profissão e aconselhar-se. "É importante se inspirar na carreira de alguém para traçar metas." Para quem está pensando em desistir do curso, Eleanor lembra da consistência da formação. "A faculdade é uma pequena parte de sua vida. Ela te dá ferramentas para o futuro, te ensina a pensar como resolver problemas, amplia sua visão e desenvolve seu raciocínio lógico. Isso é útil para várias coisas no futuro." A norte-americana destaca ainda |
que após a colação de grau o jovem
engenheiro deve trabalhar em áreas diferentes para escolher no que se
especializar. "Eu trabalhei por cinco anos com saneamento, e isso foi
fundamental para eu escolher o meu mestrado. Já queria fazer a pós na área
ambiental durante a faculdade, mas não tinha 100% de certeza", conta Eleanor.
Engenheira Civil formada pela Universidade Tufts, no Estado do Massachusetts, a
executiva fez mestrado em Engenharia Ambiental na Universidade da Califórnia em
Berkeley e completou o programa de formação executiva da London Business
School. Maratona - A palestra de Eleanor ocorreu durante a etapa nacional da 8.ª Maratona Global de Engenharia. O encontro ocorreu em São Paulo e foi transmitido para todo o mundo via internet. A maratona termina no sábado, com conferências em outros continentes. É possível acompanhar as atividades online. Basta se cadastrar no site 15 minutos antes de cada ciclo de palestras. Todas as apresentações são lideradas por mulheres que atuam nas áreas de engenharia e tecnologia. O evento visa a discutir os desafios de alimentar os 7 bilhões de habitantes da Terra. |
iG: Muitos jovens profissionais
reclamam que a faculdade está distante das salas de aula, com professores que
não conhecem a realidade atual e oferecem uma formação técnica e prática muito
deficiente. As licenciaturas precisam de uma reformulação para formar melhor os
nossos professores? Maria Lúcia: Não há diálogo entre a universidade e a educação básica. Há um fosso. A universidade continua fazendo o que ela acha que deve fazer sem conhecer a realidade e as necessidades dos professores. Não vejo como melhorar a qualidade da formação sem mexer nas licenciaturas e na valorização do professor. Daqui a pouco vamos ter um colapso na educação básica pela falta de professores. Já estamos com uma crise braba, para algumas disciplinas como história e geografia em que é muito difícil encontrar professores. Tem que valorizar a carreira, torná-la mais atraente. iG: Governos dos Estados reclamam do reajuste do piso e sugerem que ele siga a inflação... Maria Lúcia: Estamos defasados no valor do piso salarial dos professores. Dado o tamanho da defasagem, só dar inflação não vai resolver nada. Tem que haver investimento do Estado no professor. É uma profissão estratégica. iG: No livro a senhora comenta sobre o exercício da autoridade docente. A indisciplina é um dos principais problemas enfrentados em sala de aula e também causa perda de tempo de aula. Como enfrentar esse problema? Maria Lúcia: A indisciplina afasta o professor da própria profissão, um ambiente desorganizado não é atraente. A autoridade tem que ser exercida em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes. O professor deve exercer a autoridade, porque o papel dele assim exige. Quando o aluno toma as rédeas, as coisas se perdem, e o professor se sente impotente. Nessa ânsia de se aproximar dos alunos, ele acaba perdendo a noção de que os papeis são diferentes. O professor tem que estar melhor preparado para chegar em sala de aula, ter segurança do que ele faz, e saber que ele vai chegar onde quer, sem abrir concessões. iG: A alfabetização deficiente e a evasão no ensino médio são os principais problemas da educação básica? Maria Lúcia: Certamente. Se você não tem uma criança bem alfabetizada, ela vai levar essa dificuldade para o resto de sua vida escolar e não terá prazer em aprender. Não podemos fechar os olhos para o fato de que crianças caminham pela idade escolar com fragilidades. Precisa haver continuidade nas políticas públicas. O ensino médio é outro grave problema, porque não responde a nada. Se ele tiver uma clientela fortemente focada no vestibular, pode ser um preparatório. Mas se não, ele não tem sentido para o aluno. Precisa haver uma resignificação do ensino médio, para que o aluno perceba a utilidade daquilo. Não é mais uma criança que está aprendendo, mas um jovem que tem perspectivas, que muitas vezes quer entrar no mercado de trabalho. Precisa voltar para uma coisa mais prática, mais efetiva. No Estado de São Paulo há uma experiência de colocar no contraturno aulas profissionalizantes. Talvez o caminho seja esse. iG: A cobertura jornalística sobre os temas de educação tem crescido nos últimos anos. Qual é a análise feita pela senhora deste trabalho? Maria Lúcia: Peguei vários editoriais de jornais e compus um texto só com frases tiradas desses textos. Você não identifica posicionamentos diferentes dos jornais, o olhar é praticamente o mesmo. A abordagem é muito parecida: ‘ainda que a gente tenha caminhado em alguns índices, as coisas não vão bem. A qualidade deixa a desejar’. Concordo com este olhar mais crítico, porque o que a gente pode concluir é que a educação nunca foi uma preocupação real das políticas públicas, com isso as reformas não são feitas, não há continuidade. Educação está na pauta na imprensa, mas não está na pauta política. Só entra na pauta política em época de campanha. Já acordamos para a importância da educação, mas ainda não revertemos em ações concretas de políticas públicas. |
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opiniões
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