“Não! Não! Não nos representa!”, repetem
estudantes em coro. Registrado em vídeo no Youtube, o grito de guerra começou
segundos após a vitória da chapa Aliança pela Liberdade nas eleições para o DCE
da UnB, em outubro. A recusa de radicais em aceitar o resultado de eleições
definidas pelos estudantes que eles dizem representar ilustra um desafio do
universitário brasileiro: enfrentar a esquerda mais estridente. Irina Cezar, de
22 anos e prestes a concluir o curso de Ciências Sociais na USP, conta que não
fala mais nas assembleias estudantis. “Uma vez peguei o microfone e defendi o
fim da greve na frente de umas 1.500 pessoas. Os militantes ficaram loucos,
vaiaram. Eles se dizem a favor da liberdade de expressão, mas se você pensar
diferente eles são os primeiros a jogar pedra”, reclama ela, que também se
considera de esquerda. Certo dia, Irina deixou no saguão um cartaz anunciando um
evento da empresa júnior. À noite, flagrou uma menina do grupo radical LER-QI
tentando tirar o cartaz. “Eu não deixei, aí ela me xingou e chamou mais dois
rapazes. Disseram que eu era reacionária”, conta. “É engraçado, porque vim para
a USP por ser bolsista numa escola particular. Eles me xingam mas são filhos de
empresários, desembargadores.”
Camila Silvestre, de 22 anos, estuda na
Letras, onde no semestre passado manifestantes a favor da |
greve de alunos impediram aulas com
cadeiraços. Em uma das assembleias, Camila votou contra a greve e foi alvo de
deboche: “É tão opressivo, você chega lá e alguém vai te chamar de reaça. Não é
para debater - eles vão com uma ideia formada.” Mariana Sinício, de 19 anos,
conta que já teve sua época de querer salvar o mundo. “Na escola tive um
professor de esquerda, que dizia ‘isso é ruim’, ‘isso é bom’. Aí você cresce e
vê que as coisas não são bem assim.” Hoje integrante do DCE da UnB, ela acredita
que os termos esquerda e direita não se aplicam mais. Gosta de Adam Smith e
Keynes: “Todos têm algo a acrescentar.”
Fábio Ostermann, de 27 anos, é diretor do
Instituto de Estudos Empresariais (IEE), que organiza em Porto Alegre o Fórum da
Liberdade. Mas, segundo ele próprio, fazia a linha “esquerdista ingênuo” no
começo do curso de Direito na UFRGS. “Tive a sorte de fazer amigos que começaram
a ler Milton Friedman, Frédéric Bastiat (economistas). Aos poucos fui me
convencendo que eles faziam mais sentido do que (o linguista Noam) Chomsky,
Boaventura (de Sousa Santos, autor português), esses cânones do Fórum Social
Mundial”, relata. Foi o evento de 2005, aliás, o divisor de águas para Fábio.
“Percebi que não era para mim. Sempre fui cético em relação a ditaduras, e lá
havia gente louvando Cuba e a URSS.” O advogado Leonardo Bruno de
|
Oliveira, de 35 anos, mais conhecido como
Conde por causa de seu blog, provoca esquerdistas desde o tempo em que estudava
Direito na Federal do Pará. Produziu cerca de 30 edições de um jornalzinho no
qual criticava o posicionamento predominante na universidade. “Pelo menos em
Ciências Humanas, é um pensamento totalitário, querem cubanizar o Brasil”,
afirma. “É devastador para a educação, porque intelectuais e professores se
vendem por política e subsídios e adotam uma ideologia radical.”
Marina
Gladstone, de 22, apoia a chapa Reação para as eleições do DCE da USP, que serão
realizadas de 27 a 29 de março. “Quando entrei na faculdade, não tinha a menor
motivação para participar do movimento estudantil”, conta ela, que estuda
Ciências Atuariais. Até que perdeu um colega de sala - Felipe Paiva, morto com
um tiro no câmpus em 2011. “Era uma tragédia anunciada, havia muitos sequestros
e roubos na época. Eu fazia o mesmo curso, usava o mesmo estacionamento. Pensei:
se não fizer nada, posso ser a próxima.” A Reação é a única chapa a favor da
presença da PM na universidade. “Quando você é de direita e vai a uma
assembleia, é uma grande vaia, não há respeito pela opinião diferente”, diz.
Mesmo assim, Marina persiste. “Se você não cuida do que é seu, quem vai
cuidar?” |
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