Sauna, forno, estufa, chapa quente… Os
apelidos são muitos, mas todos usados por estudantes para descrever a
temperatura nas salas de aula de Belo Horizonte. Ontem, terceiro dia mais quente
do ano, enquanto os termômetros marcavam média de 31,2 graus, as escolas
públicas da capital eram ilhas de calor com temperaturas muito acima da máxima
registrada na cidade. O Estado de Minas percorreu, com termômetro profissional
nas mãos, três unidades de ensino estaduais e municipal e encontrou clima típico
de desertos, com ar seco e até 42,8 graus numa quadra esportiva. Dentro de uma
abafada sala, o recorde foi de 33,9 graus, apesar de a recomendação de
especialistas em conforto térmico fixar a média de 24 graus como a ideal no
ambiente escolar. Para tentar ensinar e aprender nessa panela de pressão, alunos
e professores apelam para ventiladores, bermuda e camiseta, leques, garrafas
d’água com muito gelo, sucos e frutas na merenda. Soluções paliativas que trazem
um breve refresco, mas não são capazes de afastar sintomas como dor de cabeça,
moleza, cansaço e dificuldade de concentração.
A pior situação foi constatada na Escola
Municipal Professor Pedro Guerra, no Bairro Mantiqueira, em Venda Nova. Telhas
de amianto recobrem o prédio e levam os efeitos da radiação direto para dentro
das salas de aula. Mesmo com janelas e portas abertas e pelo |
menos dois ventiladores em cada espaço, a
temperatura alcançou quase 34 graus por volta das 16h durante a aula de
matemática do professor Humberto Barbosa, de 51 anos. “Se eu viesse para o
trabalho de calça jeans, iria cozinhar. Com esse calor, não adianta tentar
prender a atenção dos meninos por mais de meia hora, pois ninguém consegue se
concentrar”, diz, vestido de bermuda e camiseta.
O termômetro chegou aos insuportáveis 42,8
graus, com umidade relativa do ar de 25%, durante uma partida de vôlei de alunos
do 8º ano do ensino fundamental. “Essa temperatura é de febre, de deserto, e
quanto mais calor, maior é o risco de desidratação. Estudar nessas condições é o
mesmo de estar dentro de uma sauna. Depois de um tempo, há sensação de cefaleia,
mal-estar, tonteira, dor nos olhos”, explica o médico Luiz Guilherme Pimenta de
Carvalho, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica em Minas Gerais. MORMAÇO Sem
nenhuma janela na sala de aula da Escola Estadual Barão do Rio Branco, que
funciona temporiamente num anexo do Instituto de Educação de Minas Gerais, no
Bairro Funcionários, Região Centro-Sul, a estratégia dos alunos para driblar o
calor são garrafas d’água congeladas. “Há dias tão abafados que é difícil
prestar atenção na aula”, diz Rayra Cristina da Silva, de 11, na hora em que o
termômetro marcava 29,9 graus, próximo das 14h. O |
mormaço não era amenizado sequer pelos
ventiladores funcionando a todo vapor.
“O ventilador não diminui a temperatura do
ar, apenas tira a umidade da pele e ajuda a transpirar melhor. No entanto, em
casos onde o problema é a incidência da radiação, ele não tem muito efeito”,
explica a subcoordenadora do Laboratório de Conforto Ambiental (Labcon), da
Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Iraci
Miranda Pereira. “Em BH, o ideal para ambientes é a temperatura em torno dos 24
graus. Para que 90% das pessoas se sintam confortáveis, ou seja, sem fazer
nenhum esforço para atingir o bem-estar, a variação deve ser de 2,5 graus para
mais ou para menos”, explica, com base em normas e estudos internacionais.
Segundo a professora, além de parâmetros como umidade, radiação, velocidade do
ar e temperatura, o conforto térmico também é influenciado por fatores como o
ruído. “O barulho induz a pessoa a sentir mais incômodo com o calor, por isso
nem sempre abrir a janela resolve”, afirma. “O melhor a fazer é procurar um
profissional para orientar sobre o conforto do ambiente, pois cada situação é
muito variável. De forma geral, o importante é sombrear a sala, evitando a
incidência da radiação solar, e ventilar, posicionando as janelas de forma que
não recebam sol em excesso”, diz. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário