Páginas

quinta-feira, 8 de março de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL, SEGUNDA 27 DE FEVEREIRO DE 2012





Matérias de Hoje
  • Pagamento de piso do magistério será retroativo a janeiro, diz MEC > O Globo - Rio de Janeiro RJ
  • Após carnaval, greves de professores ameaçam parar aulas no País > IG Educação
  • Bolsistas de pós ficam sem receber desde janeiro > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Justiça dos EUA pode rever legalidade de ações afirmativas > O Globo - Rio de Janeiro RJ
  • Inep vai fazer oficinas para ampliar banco de questões do Enem > Portal G1



Editoriais, artigos e opiniões
  • Por trás dos números da educação > Estado de Minas - Belo Horizonte MG
  • A falta de engenheiros > O Estado de São Paulo - São Paulo SP




Matérias
> O Globo, 27/02/2012 - Rio de Janeiro RJ
Pagamento de piso do magistério será retroativo a janeiro, diz MEC
Enquanto não é feito o anúncio oficial, governadores e prefeitos não reajustam os salários
Agência Brasil
BRASÍLIA – Mais um ano letivo começou e permanece o impasse em torno da Lei do Piso Nacional do Magistério. Pela legislação aprovada em 2008, o valor mínimo a ser pago a um professor da rede pública com jornada de 40 horas semanais deveria ser reajustado anualmente em janeiro, mas muitos governos estaduais e prefeituras ainda não fizeram a correção. Apesar de o texto da lei deixar claro que o reajuste deve ser calculado com base no crescimento dos valores do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), governadores e prefeitos justificam que vão esperar o Ministério da Educação (MEC) se pronunciar oficialmente sobre o patamar definido para 2012. De acordo com o MEC, o valor será divulgado em breve e estados e municípios que ainda não reajustaram o piso deverão pagar os valores devidos aos professores retroativos a janeiro. O texto da legislação determina que a atualização do piso deverá ser calculada utilizando o mesmo percentual de crescimento do valor mínimo anual por aluno do Fundeb. As previsões para 2012 apontam que o aumento no fundo deverá ser
em torno de 21% em comparação a 2011. O MEC espera a consolidação dos dados do Tesouro Nacional para fechar um número exato, mas em anos anteriores não houve grandes variações entre as estimativas e os dados consolidados. “Criou-se uma cultura pelo MEC de divulgar o valor do piso para cada ano e isso é importante. Mas os governadores não podem usar isso como argumento para não pagar. Eles estão criando um passivo porque já devem dois meses de piso e não se mexeram para acertar as contas”, reclama o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão. A entidade prepara uma paralisação nacional dos professores para os dias 14,15 e 16 de março. O objetivo é cobrar o cumprimento da Lei do Piso.

Se confirmado o índice de 21%, o valor a ser pago em 2012 será em torno de R$ 1.430. Em 2011, o piso foi R$1.187 e em 2010, R$ 1.024. Em 2009, primeiro ano da vigência da lei, o piso era R$ 950. Na Câmara dos Deputados tramita um projeto de lei para alterar o parâmetro de reajuste do piso que teria como base a variação da
inflação. Por esse critério, o aumento em 2012 seria em torno de 7%, abaixo dos 21% previstos. A proposta não prosperou no Senado, mas na Câmara recebeu parecer positivo da Comissão de Finanças e Tributação.

A Lei do Piso determina que nenhum professor pode receber menos do valor determinado por uma jornada de 40 horas semanais. Questionada na Justiça por governadores, a legislação foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. Entes federados argumentam que não têm recursos para pagar o valor estipulado pela lei. O dispositivo prevê que a União complemente o pagamento nesses casos, mas desde 2008 nenhum estado ou município recebeu os recursos porque, segundo o MEC, não conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim. “Os governadores e prefeitos estão fazendo uma brincadeira de tremendo mau gosto. É uma falta de respeito às leis, aos trabalhadores e aos eleitores tendo em vista as promessas que eles fazem durante a campanha de mais investimento na educação”, cobra Leão.

> IG Educação, 26/02/2012
Após carnaval, greves de professores ameaçam parar aulas no País
Rondônia já tem paralisação, Rio de Janeiro começa nesta quarta-feira e 44 sindicatos farão ato nos dias 14, 15 e 16 de março
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo
Após um primeiro mês letivo tumultuado pelo feriado de carnaval, discussões sobre a jornada de trabalho dos professores em São Paulo e fechamento das escolas por causa da greve de policiais na Bahia, as redes públicas de todo o Brasil podem ficar sem aulas nos próximos dias. Professores prometem – e em alguns casos já iniciaram – greves pelo cumprimento da lei do piso nacional da categoria. Na rede estadual de Rondônia, a paralisação já começou na quinta-feira, logo após o carnaval. No Rio de Janeiro, a categoria fará uma paralisação na próxima terça-feira, 28, com ato em frente à Assembleia. Nos dias 14, 15 e 16 de março, outros 42 sindicatos de docentes, incluindo todos os estaduais, se unirão a estes em greve de três dias. A paralisação já estava marcada com duas reivindicações. A primeira é pressionar pelo pagamento do piso nacional que até 2011 era de R$ 1.187 e, em 2012, deve ser reajustado para R$ 1.430. A segunda é a campanha para que o Plano Nacional de Educação para a década 2011-2020 preveja 10% do PIB para a área e não 8% como o atual projeto no Senado. Uma terceira demanda da greve surgiu às vésperas do carnaval e revoltou os professores.

Governadores querem reduzir reajuste - Os governadores Sérgio
Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, Antonio Anastasia (PSDB), de Minas Gerais, Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, Cid Gomes (PSB), do Ceará, e Jaques Wagner (PT), da Bahia, pressionam o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT) para votar um recurso que muda a forma como o piso para professor é reajustado. Pela lei, a variação é baseada no aumento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o que deve representar 21% este ano. Os governadores querem que seja pela inflação, que ficaria em 6%. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) isso modificaria o objetivo da lei do piso, que era valorizar o profissional. Para a entidade, repor a inflação, não ajudará a equiparar a remuneração dos docentes a dos demais profissionais com ensino superior – razão da criação da lei.

Ano passado, 16 Estados tiveram geve - Em 2011, além da paralisação unificada pelo piso, que durou apenas um dia, 16 Estados fizeram greve. As aulas foram interrompidas por períodos que variaram de 8 dias, na Bahia, a 113 dias, em Minas Gerais. Por conta disso, oito unidades da federação tiveram as férias escolares adiadas. Outras não chegaram a ter os 200 dias letivos mínimos anuais previstos em lei.
São Paulo - No caso de São Paulo, já está marcada uma votação no dia 16 de março, após a paralisação conjunta, para decidir se o sindicato (Apeoesp) apoia a continuidade da greve. Em 2011, a categoria deu uma “trégua” no ano passado para que o novo secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, começasse a trabalhar, porém agora está descontente com o resultado. O principal problema foi uma mudança na carga horária dos professores, que motivou uma briga judicial ainda não encerrada. Pela lei, todo professor deve ter ao menos um terço de sua carga horária remunerada (33%) reservada para trabalho extraclasse, como a formação e o preparo de aulas. Até o ano passado, São Paulo previa apenas 17%, mas o governo anunciou a revogação de uma lei que fez o tempo obrigatório do professor aumentar apenas derrubando uma lei anterior que igualava aulas de 50 minutos a uma hora. Com os 10 minutos que sobravam em cada aula e apenas uma aula a menos por semana em uma carga horária de 40 horas semanais, o porcentual subiu para 33%. A manobra revoltou o sindicato que está em campanha nas regionais para reverter a medida. “Se precisar, vamos para a greve”, disse a presidente da entidade, Maria Isabel Noronha.


> Folha de São Paulo, 27/02/2012 - São Paulo SP
Bolsistas de pós ficam sem receber desde janeiro
Atraso atinge alguns bolsistas da Capes, vinculada ao Ministério da Educação. Cientistas se mobilizam pelo pagamento em redes sociais; governo diz que situação será normalizada em breve
GIULIANA MIRANDA / SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO
A principal agência que financia bolsas de pós-graduação no país está atrasando o pagamento de pesquisadores de universidades federais. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, não fez os depósitos relativos ao mês de janeiro de alguns estudantes. O problema está no repasse dos recursos da Capes às universidades federais do programa Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). O órgão admitiu o problema, mas não detalhou quantos foram afetados. Por meio de sua assessoria, informou que o pagamento estava condicionado à publicação de uma portaria conjunta da Capes e da Sesu (Secretaria de Ensino Superior), do MEC. Embora o documento (Portaria Conjunta Número 23) tenha saído no Diário Oficial do dia 17 de fevereiro, os bolsistas ouvidos pela Folha dizem que ainda não receberam.

Os estudantes, que na maioria das vezes têm dedicação exclusiva à pesquisa, dizem estar sofrendo para pagar as próprias contas. "Em 2011 tivemos o mesmo problema. Os bolsistas ficaram três meses sem receber os pagamentos. Estamos apreensivos e com medo de que isso se repita", diz a bióloga Juliana Carlota Kramer Soares, que faz pós-doutorado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A mulher de um bolsista também da Unifesp relata que, entre os afetados, ninguém sabe muito o que fazer. Os atrasos em pagamentos da Capes são assunto recorrente nos corredores acadêmicos há alguns anos. "Quando meu marido fez doutorado no exterior, a Capes atrasou em três meses o pagamento. Nós só não passamos necessidades
porque, já conhecendo os problemas, fomos prevenidos", disse ela.

Em 2004, a ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos) já havia publicado uma nota sobre os atrasos. Em 2010, a mesma associação se reuniu com a Capes para discutir formas de evitar os atrasos nos depósitos. Sem saber o que fazer, os "sem bolsa" têm se mobilizado nas redes sociais, especialmente no Twitter, onde não faltam relatos de problemas. Hoje, a Capes tem 71.957 bolsistas de pós-graduação e também é responsável pela avaliação dos programas de pós-graduação. Procurada pela reportagem, a Capes informou que, em atrasos anteriores, a culpa muitas vezes foi dos bolsistas, que não preencheram direito seus dados cadastrais e outras informações.


> O Globo, 23/02/2012 - Rio de Janeiro RJ
Justiça dos EUA pode rever legalidade de ações afirmativas
Decisão de 2003 liberou universidades para utilizar raça como critério nas suas seleções
The New York Times
WASHINGTON - A decisão de 2003 da Suprema Corte americana que permitiu a faculdades e universidades utilizarem o critério de raça em seus processos de admissão era esperada para durar 25 anos. Contudo, o tribunal sinalizou na última terça-feira que essa ação afirmativa pode terminar bem antes disso. Ao aceitar um processo movido por uma estudante branca, Abigail Fisher, que alega não ter sido aceita na Universidade do Texas por conta de sua raça, a Corte colocou de volta no debate público e político um tema que andava sumido. Tanto apoiadores quanto críticos das políticas de ações afirmativas viram a decisão - e a mudança na composição do tribunal desde 2003 - como um sinal de que os cinco membros mais conservadores estão dispostos a acabar com as preferências de raça na entrada no ensino superior.

Em 2003, a decisão tomada por um placar apertado, 5 a 4, julgou que não era permitido as instituições criarem um sistema de pontos para aumentar as matrículas das minorias, mas a raça poderia ser considerada de forma mais vaga para assegurar a diversidade acadêmica. Caso a política atual seja revista, todos concordam que o número de negros e latinos em quase todos os cursos de graduação e pós-graduação iria diminiuir, com seus lugares ocupados por estudantes asiáticos e brancos.xOs defensores das ações afirmativas estão alarmados com a possibilidade de revisão da medida. Lee Bolinger, presidente da Universidade de Columbia e
que, quando era presidente da Universidade de Michigan, foi réu na ação de 2003, considerou “ameaçadora” a situação. - Eu acho que é ameaçador. É uma ameaça para desfazer várias décadas de esforço no ensino superior para construir um ambiente mais integrado, justo e educacionalmente enriquecido - afirmou Bollinger. Já os opositores enxergam no julgamento uma nova chance de derrubar as ações afirmativas de vez, um tema que estava esquecido. - Qualquer forma de discriminação, seja ela a favor ou contra, é errado - defende Hans von Spakovsky, da Heritage Foundation, cuja filha está aplicando para diversas faculdades. - A ideia de que ela pode ser discriminada e não ser admitida por causa de sua raça é inacreditável para mim.

Debate sobre cotas raciais pode contaminar eleição - É bastante provável que os argumentos do novo julgamento sejam apresentados na Corte pouco antes da eleição presidencial, em novembro. O novo caso pode forçar os candidatos a abordarem uma questão adormecida e incendiária, que divide o eleitorado. Por enquanto a reação nas campanhas em Washington foi pequena, possivelmente por ser um grande risco político para democratas e republicanos. Pesquisas apontam que a maioria dos americanos apoiam alguma forma de ação afirmativa, mas muitos têm reservas quanto as suas aplicações. A decisão de 2003 permite, mas não obriga os estados a levarem em conta raça nos processos de
admissão. Na Califórnia e no Michigan, por exemplo, essa prática é até proibida, e os dois estados observam uma entrada cada vez menor de estudantes vindos de minorias em suas universidades públicas. Em outros locais e nas instituições privadas, as autoridades geralmente olham à raça e etnia como um dos fatores, o que tem levado à admissão significativamente maior de hispânicos e negros.

Nova composição do tribunal pode influenciar na decisão - As mudanças da composição do tribunal também podem influenciar em um novo julgamento. A entrada de Samuel Alito Jr. no lugar de Sandra Day Connor, relatora do caso há nove anos e uma defensora das ações afirmativas, forma com John G. Roberts Jr., Antonin Scalia e Clarence Thomas um time conservador e que já se posicionou contra classificações raciais em decisões anteriores. Completando o quinteto contrário às medidas está Anthony M. Kennedy, um juiz que ora vota com os liberais, ora com os conservadores, mas que já se manifestou contrário a essas políticas. Nas primeiras instâncias, os argumentos de Abigail Fischer, de que a universidade não pode ter uma única entrada em que a raça tem um peso indefinido, foram rejeitados. Como a estudante está se formando pela Universidade Estadual da Louisiana (a ação foi aberta em 2008), a Universidade do Texas alega que ela não foi prejudicada.


> Portal G1, 24/02/2012
Inep vai fazer oficinas para ampliar banco de questões do Enem
Portaria no 'Diário Oficial' prevê 'força-tarefa' para criação de novos itens. Segundo Inep, ideia é permitir, no futuro, duas edições anuais do Enem.
Do G1, em São Paulo
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) planeja ampliar o volume do Banco Nacional de Itens (BNI) para poder, no futuro, fazer duas edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por ano. Nesta sexta-feira (24), uma portaria publicada no "Diário Oficial da União" instituiu a realização de oficinas "de elaboração e revisão de itens para o BNI", que contarão com a participação de professores de universidades federais já credenciados pelo banco de colaboradores do Inep. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a portaria é um complemento a um edital publicado em 2011 que credencia universidades federais a participarem do processo de elaboração de questões para exames do MEC. Pelo edital, as instituições têm um ano para que seus professores, já capacitados pelo ministério, produzam as questões, que podem ou não ser usadas nas provas oficiais, já que cada questão é avaliada e aprovada por meio de um pré-teste.

A portaria desta sexta-feira, segundo o Inep, permitirá que esses mesmos professores possam ser convocados a qualquer momento para eventuais oficinas de "força-tarefa", caso o MEC identifique no BNI a necessidade de elaboração de mais itens de alguma disciplina ou área do conhecimento específica. O BNI é o banco de dados que reúne as questões usadas em todos os exames realizados pelo MEC. Segundo a assessoria de imprensa, além do Enem, o BNI alimenta as provas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), da Provinha Brasil, do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), do Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), da Revalidação dos Diplomas Médicos (Revalida), da Prova Nacional de Concurso para o Ingresso na Carreira Docente, do
Certificado de Proficiência na Língua Brasileira de Sinais (Prolibras) e do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa (Celpe-Bras).

Pelo trabalho instituído pela portaria, os colaboradores eventualmente convocados para a "força-tarefa" receberão o valor fixado por decreto em 2007, e atualizado em 2011, para esse tipo de atividade: R$ 400 por dia pela participação nas oficinas, R$ 200 por item elaborado e aceito no BNI, R$ 100 por item revisado e aceito no BNI, R$ 100 por parecer emitido após revisão de itens e R$ 1.500 pela coordenação da oficina. Segundo o site do Inep, 15 universidades e institutos federais foram credenciados em maio do ano passado por meio do edital. Em junho, os coordenadores foram treinados e indicaram os professores que, em julho, também passaram por uma capacitação sobre a elaboração de itens.


Editoriais, artigos e opiniões
> Estado de Minas, 27/02/2012 - Belo Horizonte MG
Por trás dos números da educação
Jacques Schwartzman - Professor Adjunto da UFMG, aposentado
No começo do ano letivo das escolas e faculdades é comum encontrar na imprensa matérias sobre elevação de alguns preços que afetam estudantes e instituições de ensino. Trata-se do reajuste das mensalidades e da longa e histórica luta dos estudantes pelo passe livre nos transportes coletivos. Quanto às mensalidades é preciso fazer alguns esclarecimentos. Inicialmente deve-se constatar que não trabalhamos com um índice que reflita fielmente e especificamente os custos educacionais. Geralmente utiliza-se o IPCA do IBGE ou o IGP-M da Fundação Getulio Vargas (FGV), que dificilmente podem servir de substitutos de um índice próprio do setor. Basta lembrar o elevado peso dos preços por atacado no índice da FGV. O reajuste das mensalidades também deveria ser constante em termos reais. Isto é, o aluno não pode ser surpreendido por um aumento real de mensalidades acima do valor contratado quando decidiu por determinada instituição, em que o valor da mensalidade certamente foi um elemento importante na sua tomada de decisão. No entanto, a cada ano, para os novos alunos, pode-se estipular outro valor que reflita um simples desejo de faturar mais e até o de cobrir custos adicionais, que antes não estavam previstos. Esse aumento é livre, mas deve estar baseado no mercado que determinará seu ponto d equilíbrio.

Outra importante consideração é a de que os aumentos de
mensalidades podem estar relacionados a uma tentativa de melhorar a qualidade do ensino, seja por meio de novos equipamentos, seja por aumentos salariais para garantir a permanência de bons docentes e bons funcionários. Nesse caso, as reinvidicações por menores mensalidades podem resultar em piores condições de ensino. Da mesma forma, é incompatível querer ao mesmo tempo redução de mensalidades e uma pós graduação strictu sensu de boa qualidade. Na maioria das universidades privadas, que têm cursos de mestrado e doutorado, somente parte dos custos são cobertos por mensalidade. O maior deles, de longe, é o custo do professor doutor em tempo integral, sem o qual não pode haver pós-graduação e que raramente é coberto por órgãos como CAPES e CNPq. Por isso, a discussão sobre mensalidades restringe-se à graduação. É certo o prejuízo com a pós-graduação no setor privado, razão pela qual é pequeno o seu papel no contexto brasileiro. Por outro lado, não cabe aos alunos de graduação se preocupar com o destino da pós, que, na maioria dos casos, está fora dos planos desses alunos. Deve-se reconhecer também que nem todas as instituições privadas distribuem seus eventuais lucros aos acionistas. Nesse caso, estão as fundações sem finalidade de lucro, que quando os tem são internalizados na própria instituição. É fato que temos um número decrescente de instituições desse tipo, mas é preciso reconhecê-las quando surgem.

Quanto ao passe livre para os estudantes em transporte coletivo, o assunto está mais relacionado aos estudantes do nível básico, pouco se vendo estudantes de nível superior nessas manifestações. Nesse caso, preocupa-nos a questão distributiva. Como se sabe o ensino fundamental (até a nona serie) é obrigatório em nosso país e como tal accessível a qualquer cidadão. Na prática, os mais ricos vão para o ensino privado e os mais pobres para o setor público. Seria razoavelmente justo limitar esse benefício a alunos do fundamental do ensino público. Mas quem pagaria a conta? Em princípio, esse custo seria transferido para o preço da passagem e pago por todos. Como é generalizada a distribuição de vale-transporte para os trabalhadores, o resultado seria mais um pouco de inflação para aquelas empresas que não conseguirem evitar a transferência de seus custos. Mas passagens de coletivos são apenas um dos itens que afetam o custo da educação. Temos também o livro didático, merenda escolar, o uniforme e outros materiais de ensino. É preciso também melhorar a questão da carreira dos professores de ensino básico, que é o item mais caro dessa lista. A gratuidade do ensino, juntamente com a sua obrigatoriedade, para ser efetiva para alunos de baixa renda, deve cobrir todos esses custos, e a passagem grátis nos coletivos é apenas um deles.


> O Estado de São Paulo, 27/02/2012 - São Paulo SP
A falta de engenheiros
Editorial
Enquanto o Brasil forma cerca de 40 mil engenheiros por ano, a Rússia, a India e a China formam 190 mil, 220 mil e 650 mil, respectivamente. Entidades empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria, têm feito estudos sobre o impacto da falta de engenheiros no desenvolvimento econômico brasileiro. E órgãos governamentais, como a Financiadora de Projetos (Finep), patrocinam desde 2006 programas de estímulo à formação de mais engenheiros no País. Segundo estimativas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), o Brasil tem um déficit de 20 mil engenheiros por ano - problema que está sendo agravado pela demanda por esses profissionais decorrente das obras do PAC, do Programa Minha Casa, Minha Vida, do pré-sal, da Copa de Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

No País há 600 mil engenheiros, o equivalente a 6 profissionais para cada mil trabalhadores. Nos Estados Unidos e no Japão, a proporção é de 25 engenheiros por mil trabalhadores, segundo publicações da Finep. Elas também informam que, dos 40 mil engenheiros que se diplomam anualmente no Brasil, mais da metade opta pela engenharia civil - a área que menos emprega tecnologia. Assim, setores como os de petróleo, gás e biocombustível são os que mais sofrem com a escassez desses profissionais.
Para atenuar o problema, o governo federal lançou no ano passado o Pró-Engenharia - projeto elaborado com o objetivo de duplicar o número de engenheiros formados anualmente no País, a partir de 2016, e de reduzir a altíssima taxa de evasão nos cursos de engenharia, que em algumas escolas chega a 55%. Das 302 mil vagas oferecidas pelas escolas brasileiras de engenharia, apenas 120 mil estão preenchidas. O problema da evasão é agravado pela falta de interesse dos jovens pela profissão, que decorre, em parte, da falta de preparo dos vestibulandos, principalmente nas disciplinas de matemática, física e química. Elaborado por uma comissão de especialistas nomeada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o projeto prevê investimentos de R$ 1,3 bilhão.

Mas, apesar de sua importância para a remoção de um dos gargalos do desenvolvimento econômico do País, o Pró-Engenharia ainda não saiu do papel. O projeto está à espera do aval dos novos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. "O Pró-Engenharia poderia ter deslanchado, mas tomamos duas bolas nas costas", diz o presidente da Capes, Jorge Guimarães. Segundo ele, o maior problema que o Pró-Engenharia vem enfrentando, para ser implementado, é o que ele chama de "fogo amigo" no âmbito do governo. "Primeiramente, foi um
documento do Ipea dizendo que o País não precisa de engenheiro, que já tem muitos deles nos bancos. Mas isso ocorreu numa época em que a engenharia não tinha demanda. Em segundo lugar, foram os reitores de universidades federais que soltaram um documento mostrando um aumento de cerca de 12% nas matrículas dos cursos de engenharia. Se não se atacar a evasão, o número de matrículas poderá ser aumentado em 300%, mas o problema da falta de engenheiros não será resolvido", afirma Guimarães.

Ele também lembra que, para reduzir a taxa de evasão dos cursos de engenharia, a Capes, além do Pró-Engenharia, vem reformulando os currículos, para torná-los mais próximos do mercado de trabalho. Em vez de estimular a especialização precoce, como ocorre hoje, a ideia é valorizar uma formação básica e interdisciplinar, na qual as disciplinas de engenharia são complementadas por matérias como economia, planejamento estratégico, gestão e empreendedorismo. "No 4.º e no 5.º ano o aluno vai se especializar no que quiser e ganhar visão de mercado", diz o presidente da Capes. Desde sua posse, a presidente Dilma Rousseff tem falado muito em crescimento econômico. Mas, para que ele ocorra, é preciso que seus ministros sejam mais eficientes na implementação dos projetos anunciados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário