Sexta posição no PIB mundial, o Brasil, segundo dados da ONU, está à frente de apenas sete nações que apresentam distribuição de renda pior do que a nossa: Colômbia, Bolívia, Honduras, África do Sul, Angola, Haiti e União das Comores. No IDH, o Brasil tem progredido, porém, sua posição geral, 84º lugar, ainda o exclui do grupo mais seleto. Temos coeficientes que nos catapultam para alturas e abismos, orgulho e vergonha: é a montanha-russa brasileira num percurso cheio de números. A ideia deste artigo, porém, é apresentar outra "medição" possível: a dos pés-descalços de Bunker Roy.
O indiano Roy fundou nos anos 1970 a Universidade dos Pés-Descalços, que ensina mulheres e homens do meio rural a tornarem-se dentistas, médicos, engenheiros solares e artesãos, tudo isso sem sair de suas aldeias. Inspirado pelo estilo de vida e trabalho de Mahatma Gandhi, o Barefoot College tem como objetivo resolver problemas nas comunidades rurais, equipando seu povo com as | habilidades e conhecimentos necessários para torná-las autossuficientes e sustentáveis. É a única faculdade no mundo construída e gerida pelos pobres e para os pobres, que ganham menos de US$ 1 por dia. Desde sua fundação, mais de 20 universidades de pés-descalços foram criadas em mais de 13 Estados indianos.
A primeira construção foi feita em 1986 por arquitetos pés-descalços, que não sabem ler nem escrever. Foi construída ao preço de R$ 20,80 o metro quadrado. O jardim do campus, outrora um terreno arenoso, foi replantado seguindo uma metodologia tradicional local, florescendo a despeito do desencorajamento de engenheiros florestais. A vedação do telhado é uma mistura feita com açúcar mascavo, urens (planta local) e outros segredos exclusivos das mulheres que realizam esse trabalho. O fato é que o telhado não vaza desde sua construção, em 1986. É a única faculdade eletrificada completamente com energia solar. E nos próximos 25 anos tudo deverá funcionar | somente a partir dela. "Enquanto o sol brilhar não teremos problemas com eletricidade", comenta o bem-humorado Bunker Roy.
O indiano é o exemplo vivo de que soluções eficientes não precisam ser importadas e, sim, criadas com o tesouro humano que se tem. Fiquei pensando em quantos pés-descalços temos em nosso país, ao nosso lado, e nem sabemos. Miríades de soluções regionais estão espalhadas nas mãos de pessoas do mundo inteiro, e, não, concentradas nas mãos de poucos detentores de poder. Elas não são espetaculares, ultratecnológicas, nem milagreiras. Elas não excluem, dignificam o saber humano, proativo e regional. Fico sem fôlego ao pensar nas imensas dificuldades que Roy e seus cúmplices tiveram em todos esses anos e como seria se aqui no Brasil nós nos inspirássemos neles... Ou será que já existem e precisam ser apenas conhecidos? Vou terminar com palavras do Roy, que cita Gandhi: "Primeiro, eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, e, então, você vence". |
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