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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL, SEGUNDA 06 DE FEVEREIRO DE 2012


Matérias de Hoje
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  • Currículo desfalcado leva bomba em MG > Estado de Minas - Belo Horizonte MG
  • Ano letivo está ameaçado em 2 universidades de SP > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Situação será regularizada, dizem escolas > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Grandes grupos passaram a orientar as tendências no setor educacional > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Pronatec terá quase 1,2 milhão de vagas em 2012 > Terra Educação
  • Faculdades dos EUA mentem para melhorar posições em rankings > IG Educação

Editoriais, artigos e opiniões
  • Tablets para professores > Estado de Minas - Belo Horizonte MG
  • Pedagogia da licitação > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Ocupe o tablet > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Educação não é fotografia > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Ministério da Educação de Base > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Tecnologia, desperdícios e bobagens > Folha.com

Matérias
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> Estado de Minas, 06/02/2012 - Belo Horizonte MG Currículo desfalcado leva bomba em MG
Estado retoma grade tradicional para última etapa de educação básica e aposenta modelo adotado em 2009, que excluía disciplinas
A volta às aulas hoje nas escolas estaduais de Minas Gerais marca o fim do currículo do ensino médio desfalcado – com menos disciplinas – e aposenta um modelo de educação criticado por especialistas, professores, pais e alunos. Três anos depois da implantação do formato que dava ênfase a áreas do conhecimento nas salas de aula e eliminava a obrigatoriedade do ensino de todas as matérias no 2º e 3º anos do nível médio, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) recua, reconhecendo a ineficiência da iniciativa, e adota um novo sistema de aprendizagem. A partir deste ano, os 747 mil alunos do ensino médio de Minas terão direito à oferta de 12 disciplinas no 1º ano e de 10 nos dois anos finais. A mudança foi definida depois de pesquisa da SEE com as Superintendências Regionais de Ensino (SREs) sobre os principais entraves e dificuldades para o ensino médio no estado. No levantamento, feito em agosto, 88% das 47 SREs apontaram a ênfase curricular por área do conhecimento como o maior problema do nível médio. De acordo com o modelo, que vigorou de 2009 até o ano passado, as turmas de 2º e 3º anos foram divididas em três áreas: ciências humanas, exatas e biológicas. Em todas elas, eram obrigatórias apenas as disciplinas de língua portuguesa, matemática, filosofia, sociologia e educação física.

As demais matérias eram opcionais de acordo com a área de ênfase, sendo que a escola deveria oferecer um mínimo de nove disciplinas. Na prática, isso significava que, nas salas de ciências humanas, os alunos poderiam ficar sem aulas de física, química ou biologia. Nas turmas de ciências exatas, as unidades de ensino tinham liberdade para não ofertar química, biologia, geografia, história ou língua estrangeira. E, nas classes de ciências biológicas, os estudantes poderiam não estudar física, geografia, história ou língua estrangeira. A opção pela área do conhecimento para os estudos deveria ser feita pelo aluno, de acordo com os seus interesses pessoais, como foco no vestibular ou no mercado de trabalho.
Mas um dos pontos mais polêmicos da resolução que regia a ênfase é que a escola também tinha autonomia para apresentar proposta curricular diferenciada de acordo com o entendimento dela sobre as necessidades do aluno. Ou seja, um estudante com mau desempenho em física poderia, por exemplo, ser encaixado numa turma de humanas, independentemente da vontade dele. Outra limitação, segundo a Secretaria de Educação, é que muitas cidades do interior de Minas com menos de 50 mil habitantes tinham apenas uma ou duas turmas de ensino médio e, nesse caso, alguma área do conhecimento poderia não ser contemplada.

Segundo a superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da SEE, Audrey Regina Oliveira, a ênfase pode ter acarretado prejuízos para os estudantes, principalmente nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Na hora da prova, os alunos não tinham todos os conhecimentos necessários por não terem tido acesso à grade curricular completa nos 2º e 3º anos. Quando a ênfase foi criada, esperava-se que a escola optasse pela área do conhecimento depois de ouvir a comunidade. Com isso, a unidade de ensino seria um retrato da vocação da juventude ali inserida. Mas, na prática, isso não ocorreu. Então, estamos reestruturando o ensino médio para torná-lo mais viável e palpável para os interesses dos jovens”, explica Audrey.

GANHOS O fim do modelo de ênfase é comemorado em algumas escolas estaduais, como na Governador Milton Campos (o Estadual Central), no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul, e na Paschoal Comanducci, no Bairro Jaqueline, Regional Norte, em BH. Segundo o diretor do Estadual Central, Jefferson Pimenta, a proposta vai favorecer alunos na disputa por vaga nas universidades. “Acabar com a ênfase é um ganho. Apenas alunos com mais de 70% de aproveitamento no 1º ano podiam optar pela área de interesse deles. Os demais eram remanejados no 2º ano de acordo com o entendimento dos professores para a área que o estudante tinha mais
dificuldade. Isso deixava as turmas desmotivadas. Além disso, acarretava problemas quando os alunos queriam mudar de ênfase do 2º para o 3º ano, pois eles tinham dificuldade de acompanhar as aulas”, diz.

Cleverson de Oliveira Maurício, de 19 anos, que acaba de concluir o ensino médio no Estadual Central, reclama dos desafios impostos pela ênfase. Com planos de cursar engenharia ambiental na universidade, ele optou pela área de exatas no 2º ano. Mas, como teve muita dificuldade com física, optou no 3º ano por uma turma de humanas, que não oferece a disciplina. “Acho que não tive boa base para fazer o Enem. Quando mudei de turma, fiquei feliz por pensar que tinha me livrado de um problema: as aulas de física. Mas não pensava que seria prejudicado no futuro e teria dificuldades no vestibular”, lamenta. Maria Paula Ferreira, de 17, também teve de fazer uma “manobra” na escola para não comprometer seu aprendizado. Apesar de interessada no vestibular para psicologia, ela não optou pela ênfase em humanas. “Escolhi a área de biológicas para não abrir mão da física, que considero essencial. Mas, no Enem, senti dificuldade em matemática e química, que não eram foco das minhas aulas. A ênfase nos ajuda a conhecer mais de uma determinada área e permite aprofundar o conhecimento, mas é ruim porque exclui outras disciplinas”, avalia.

O novo modelo de grade do ensino médio exige que as 12 disciplinas básicas sejam oferecidas no 1º ano (línguas portuguesa e estrangeira, arte, educação física, matemática, física, química, biologia, geografia, história, sociologia e filosofia). No 2º e 3º anos, a escola deve oferecer no mínimo 10 disciplinas desse cardápio. As mudanças entram em vigor este mês, mas pode haver exceção para alunos que, em 2012, vão cursar o 3º ano nas escolas que trabalharam com ênfase em 2011. Com isso, apenas em 2013 o sistema de divisão do ensino por áreas do conhecimento será totalmente abolido das 2.157 escolas estaduais com oferta de ensino médio.



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Ano letivo está ameaçado em 2 universidades de SP
Caso mais grave é o da São Marcos, despejada do seu campus principal. Outras duas escolas estão com pagamentos atrasados; juntas, as 4 instituições possuem cerca de 30 mil alunos
FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO
Quatro tradicionais universidades de São Paulo, todas com mais de 40 anos, enfrentam problemas neste início de ano letivo. Pagamentos de professores estão atrasados e as aulas estão incertas em ao menos duas escolas. As instituições em dificuldades são Unisant'Anna, São Marcos, Unib (Universidade Ibirapuera) e Unicastelo. Juntas, possuem 30 mil alunos. O caso mais grave é o da São Marcos, despejada de seu campus principal. Até agora não há novo local para aulas. Na Unisant'Anna, haverá paralisação e assembleia de professores na quinta-feira, para discutir os atrasos. As aulas começam hoje. Analistas do setor afirmam que, além de problemas de gestão, as escolas sofrem com a falta de crescimento no número de novos alunos, o que acarreta forte concorrência entre as instituições. SEM CAMPUS - A São Marcos foi despejada no final de 2011 do campus no Ipiranga por atraso de aluguel. O início das aulas já foi adiado, para a próxima segunda, mas os alunos não foram informados sobre onde serão as novas instalações. "Já achamos que não vamos conseguir estudar neste semestre", disse Fabiana Araújo, 28, aluna de psicologia. Ela conta que, além da indefinição sobre o campus, não consegue acesso a documentos para transferência. "Fico revoltado, porque muitos dos alunos prejudicados são bolsistas do Prouni, e o governo não faz nada", afirma Fabio Zambon, diretor do Sinpro (sindicato dos professores da rede privada). "Os estudantes são iludidos, não recebem o ensino que prometem", disse. CONCORRÊNCIA - Diretor executivo do Semesp (sindicato das universidades privadas), Rodrigo Capelato diz que os problemas das escolas decorrem da recente desaceleração nas matrículas, que causou uma "guerra" por estudantes. Nos últimos três anos, as matrículas cresceram menos de 10% no Estado. "As quatro universidades não conseguiram acompanhar o mercado, em que a regra passou a ser a guerra de preços", diz. "Elas possuíam estruturas pesadas, em geral com muitos professores, e não conseguiram baixar os preços." Capelato reconhece que, ao menos num primeiro momento, o setor perdeu qualidade, pois docentes com salários melhores foram demitidos para baixar mensalidades. Agora, afirma ele, tem sido encontradas alternativas que até melhoram o ensino, como substituir diversos professores horistas por um com dedicação integral.



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Situação será regularizada, dizem escolas
DE SÃO PAULO
A Unisant'Anna e a Unicastelo informaram que já estão analisando formas para quitar os pagamentos atrasados. Procurada há mais de duas semanas, a direção da São Marcos não retornou aos contatos feitos pela Folha. Devido a atrasos trabalhistas, a Justiça nomeou uma espécie de interventor para a escola. Também já foi escolhida nova reitoria. A antiga direção tenta retomar o posto. Comunicado do dia 16 de janeiro publicado no site diz que "a universidade está sendo reestruturada" e que espera comunicar "em breve" o local do novo campus. A Universidade Ibirapuera não se pronunciou. Sobre bolsistas do Prouni, o Ministério da Educação disse que eles podem pedir transferência a qualquer momento, e a escola não pode reter documentos. (FT)



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Grandes grupos passaram a orientar as tendências no setor educacional
JOÃO DOS REIS SILVA JÚNIOR ESPECIAL PARA A FOLHA
Universidades privadas de SP estão com problemas para o início deste ano letivo. Há duas décadas o setor privado evolui e se consolida como opção deliberada de política de Estado. Neste período, a proporção de oferta de vagas oscilou em torno de 75% para o setor privado e 25% para o público. É necessário diferenciar os grupos no setor privado. Pequenas instituições foram fundidas em empresas educacionais maiores e, em seguida, foram vendidas para grupos financeiros internacionais ou nacionais. Há também os grandes grupos de capital nacional e as confessionais. Paralelamente a isso, e por isso, o Estado produziu programas como o Prouni [bolsas de estudo em escola privada] e o Fies [financiamento estudantil] para produzir oferta e atender a demanda. Disso resulta a forte tendência da internacionalização da educação superior privada pela via da abertura de capitais na bolsa de valores.

Grupos que trilham esse itinerário passam a orientar as tendências do setor. Com uma gestão ditada pela rentabilidade do capital financeiro internacional, os professores sofrem as consequências neste grupo. Porém, nos demais a situação é pior, pois não há entrada de capital internacional. Esta é a situação das  
quatro universidades em pauta. Ressalte-se também que pesquisas mostram que alunos estão trabalhando para estudar, e não estudando para conseguir e manter colocação no mercado de trabalho. Outrora a educação superior era questão de Estado. Hoje, se encontra em fórum normatizador de acordos e contratos de comércio internacional. O Estado não tem soberania no setor. A educação se tornou mercadoria e fetiche. Os atores do setor devem reivindicar e mostrar isso à sociedade. Mas, em última instância encontra-se o Estado. É bom lembrar-se das palavras bíblicas "quem pariu Matheus que o embale".



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> Terra Educação, 06/02/2012 Pronatec terá quase 1,2 milhão de vagas em 2012
Agência Brasil
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) vai oferecer, este ano, quase 1,2 milhão de vagas em cursos de qualificação em áreas como construção civil, informática, mecânica, turismo e enfermagem. A presidente Dilma Rousseff disse, em entrevista ao programa Café com a Presidenta, que os cursos serão feitos em parceria com o Senac, Senai e escolas técnicas federais. "O mercado de trabalho está exigindo cada vez mais qualificação. No ano passado, mais de 60% dos trabalhadores nas regiões metropolitanas tinham feito pelo menos o ensino médio, ou seja, estudaram pelo menos 11 anos", disse. No ano passado, foram criados quase 2 milhões de empregos com carteira assinada. No setor de serviços, foram 925 mil vagas, no comércio, 452 mil, e na construção civil, 223 mil novos empregos.

Segundo a presidente, o desemprego atingiu o nível mais baixo dos últimos dez anos, chegando a 4,7% em dezembro. "Esses resultados são muito positivos, principalmente quando a gente observa o que acontece na Europa e nos Estados Unidos, onde uma séria crise econômica gerou estagnação e desemprego", disse. "Com investimento, criação de emprego e distribuição de renda, estamos transformando o Brasil em
um país de classe média", completou. Dilma Rousseff lembrou que o trabalhador com carteira assinada tem acesso a benefícios como décimo terceiro salário, férias remuneradas, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro desemprego, além de acesso a crédito mais barato. "O emprego, com aumento do salário e da renda das famílias, é o motor do crescimento sustentável. Esse é o segredo do sucesso da economia brasileira. As pessoas melhoram de vida, podem consumir mais. A indústria e o comércio crescem, aumentam o investimento, a produtividade."



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> IG Educação, 04/02/2012 Faculdades dos EUA mentem para melhorar posições em rankings
Claremont McKenna é a primeira instituição considerada de alto padrão a admitir que falsificou índices, mas prática é comum
New York Times
Ciente da obsessão norte-americana pela classificação de faculdades em rankings, o mundo acadêmico dos Estados Unidos ficou decepcionado com a notícia de que uma faculdade de elite, a Claremont McKenna, falsificou seus índices em uma aparente tentativa de tentar melhorar sua posição na lista das melhores do país. Decepcionado, porém não completamente surpreso. Várias faculdades nos últimos anos têm sido acusadas de tentar burlar o sistema – principalmente, para aparecer em uma boa posição no U.S. News & World Report (Relatório de Classificação Americano e Mundial, em tradução livre) – alterando os significados das regras, apresentando apenas os dados positivos ou simplesmente mentindo.

Em um exemplo recente, o Iona College, em Nova Rochelle, ao norte da Cidade de Nova York, admitiu no ano passado que seus funcionários haviam mentido durante anos, não apenas sobre os resultados dos exames, mas também sobre o índice de formandos, o número de calouros, as relações do número de alunos presentes em cada aula e as
doações feitas por ex-alunos. Outras instituições têm encontrado maneiras de manipular os dados sem necessariamente ir contra as regras. Em 2008, a Universidade de Baylor ofereceu recompensas financeiras para que seus alunos refizessem os exames de SAT (prova de admissão de estudantes), na esperança de aumentar sua pontuação média. Os diretores de admissões dizem que algumas faculdades não aceitam inscrições de alunos com baixa pontuação até janeiro, excluindo-os das médias das salas que começam em setembro, enquanto outras faculdades buscam mais inscrições para relatar uma menor percentagem de estudantes não aceitos. A Claremont McKenna, de acordo com Robert Morse, diretor de pesquisa de dados do Relatório Acadêmico, é "a escola de mais alto padrão a ter reconhecido isso publicamente e admitido que deu declarações incorretas". Este ano, o relatório colocou a instituição como em 9º lugar entre as faculdades com o melhor programa de artes do país.

Segundo ele, não há nenhuma razão para pensar que as classificações do relatório estão
repletas de informações errôneas e a publicação se esforça muito para policiar os dados, ajustar suas métricas e melhorar métodos que possam ser contornados. Mas as contínuas tentativas de manipulação dos dados demonstram o poder e a importância que as classificações têm nas mentes dos futuros alunos, dos conselheiros escolares, dos pais, dos ex-alunos, dos doadores, dos professores e, obviamente, das próprias faculdades. A Claremont McKenna, parte do aglomerado das Universidades Claremont dos arredores de Los Angeles, reconheceu segunda-feira que um de seus funcionários renunciou após admitir que havia alterado a pontuação média dos exames de SAT desde 2005. Em um comunicado aos funcionários da faculdade e estudantes, a presidente Pamela B. Gann escreveu: "Embora o grau de imprecisões tenha variado ao decorrer do tempo, entendemos que a pontuação na parte de matemática nos exames do SAT foram geralmente alteradas por uma média de 10 a 20 pontos cada".




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Editoriais, artigos e opiniões
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> Estado de Minas, 06/02/2012 - Belo Horizonte MG Tablets para professores
Medida é bem-vinda, mas será inócua sem o preparo dos docentes
Editorial
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, não esperou nem mesmo a montagem da equipe com a qual vai trabalhar e anunciou quinta-feira sua primeira ação à frente da pasta. Quer distribuir ainda no primeiro semestre 600 mil tablets a professores da rede pública urbana de ensino médio, número suficiente para atender a todos os docentes desse nível. A licitação para a compra dos aparelhos ainda depende de análises técnicas das propostas vencedoras, mas o ministro já pensa em fazer a mesma distribuição aos professores do ensino fundamental logo em seguida. Distribuir tablets aos professores da rede pública constitui passo importante mas não suficiente. A inclusão digital é, sem dúvida, uma das urgências nacionais. Sem domínio das novas tecnologias, a pessoa fica à margem da modernidade — privada de informações e de oportunidades no mercado de trabalho.

O assunto ganhou tal relevo que se criou o termo analfabeto digital em analogia ao analfabeto funcional.
Este, apesar de alfabetizado, é incapaz de ler e escrever textos simples. Aquele, apesar de dominar o código linguístico nas duas modalidades, não tem condições de navegar na internet nem de se beneficiar dos recursos que a rede mundial de computadores proporciona. Prover as escolas dos modernos recursos tecnológicos é o caminho para sintonizar a nova geração com o novo paradigma que se impõe. Mas, embora essencial, deve ser acompanhado de outras medidas. Uma delas é a qualificação dos professores. Experiências comprovam que existem resistências no corpo docente. Sobretudo os profissionais mais velhos — acostumados à didática tantas vezes repetida — ignoram a necessidade dos avanços. Preferem manter o certo a apostar no duvidoso. O resultado, surpreendente no primeiro momento, mostrou-se coerente. A meninada não progrediu no uso dos novos recursos. Impõe-se, pois, qualificar os mestres. Não significa apenas ensiná-los a ligar, desligar e acessar esse ou aquele conteúdo predeterminado. Significa familiarizá-los de tal forma com a novidade que a internet venha a se tornar indispensável instrumento para responder a questões, suscitar perguntas e satisfazer curiosidades.

Outra providência é o material didático. Escolas da rede privada têm adotado o tablet como substituto do livro impresso. Em vez de ler no papel, o estudante lê na tela o mesmo texto. Seria forma de poupar crianças e adolescentes de carregar pesadas mochilas. Convenhamos: sem modernizar o sistema, fica-se no faz de conta — muda-se para ficar na mesma. Encontrar respostas novas e criativas desafia o mundo desenvolvido e subdesenvolvido. A era digital põe em xeque o modelo de escola vigente. Crianças sentadas uma atrás da outra, currículo único, professor expositor, material didático, avaliação de conteúdo determinado — tudo precisa ser revisto. Novo paradigma se impõe. Sem ele, o tablet e outros recursos eletrônicos serão mais do mesmo.



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Pedagogia da licitação
Centenas de milhares de tablets para professores e estudantes não vão resolver as graves deficiências da educação pública no Brasil
Editorial
Talvez em breve materiais educativos inseridos nos computadores do tipo tablet substituam livros didáticos, adicionando recursos de que o papel não pode dispor. Talvez a tecnologia dos tablets já ofereça possibilidades de incrementar o aprendizado -países que educam suas crianças de modo competente testam com parcimônia o potencial do instrumento. O governo federal brasileiro, de seu lado, financia a compra de livros didáticos de má qualidade. Dos municípios à União, governos administram redes de ensino ineptas. Mas o governo federal e os de alguns Estados preferem adquirir tablets às centenas de milhares.

Na realidade, o governo federal nem sabe o que fazer dos 900 mil aparelhos que acaba de adquirir. Como relatou esta Folha, num dia os equipamentos seriam distribuídos a estudantes. Noutro, a professores. Com qual finalidade?
Em tese, segundo diretrizes do programa Um Computador por Aluno, criar núcleos experimentais que servirão de base para a difusão da tecnologia nas escolas. O pouco que se sabe a respeito do uso de laptops já bancados pelo governo comprova os temores de desperdício e falta de rumo do projeto: falta conexão de qualidade à rede, metade dos aparelhos foi abandonada, não há apoio técnico. Mais relevante é o contraste entre a avidez com a qual o governo se entrega à pedagogia da licitação e a letargia no enfrentamento de problemas elementares. Faz-se tanto demagogia quanto propaganda de (suposta) modernização. A publicidade custosa ocupa o lugar do árduo trabalho de reformar, de fato, a educação brasileira.

Educação básica é atribuição de Estados e municípios; o Brasil é uma federação imensa. É, de fato, tarefa complexa coordenar um
programa que envolve tantos problemas políticos, interessados e dezenas de milhões de estudantes. Ainda assim, caberia ao Ministério da Educação liderar o esforço. O que se faz para rever os currículos de modo a adequá-los às realidades das crianças de hoje? Ou para melhorar os materiais didáticos o bastante para minorar tanto as deficiências de um professorado mal formado quanto as das crianças, a maioria das quais vêm de famílias de baixa formação escolar? Em que estado estão creches e escolas infantis, essenciais para uma escolarização posterior mais eficiente das crianças pobres? O que tem feito o governo federal para lidar com o problema da falta de professores qualificados, em especial de matemática e ciências? Sem providências críveis para tais problemas, compras de equipamentos serão apenas maquiagem para encobrir a inépcia e o descaso com a educação.



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Ocupe o tablet
Melchiades Filho
BRASÍLIA - Uma série de ressalvas pode ser feita à distribuição de tablets na rede pública de ensino. Mas a largada confusa dada pelo Ministério de Educação prejudicou o reconhecimento de aspectos positivos da iniciativa, vários também. O edital de compra foi divulgado pelo governo sem alarde (na surdina?), enquanto Dilma oficializava a troca de ministro -e o setor tratava de discutir Haddad x Mercadante. Mais: ao contrário do que havia sido dito, a licitação prevê tablets para professores, não estudantes.

Mais ainda: o projeto começa com amostra e orçamento enormes (900 mil unidades; R$ 330 milhões),
porém sem roteiro pedagógico. Ninguém sabe até agora qual sistema operacional prevalecerá -se o MEC ficará com dispositivos mais abertos ou recuará e cederá à Apple. Nem se haverá banda larga suficiente para conectar os aparelhos. Os céticos lembram, por fim, dos boletins pouco animadores do Um Computador por Aluno. Continua no caixote parte dos 150 mil laptops do plano lançado na gestão Lula. Ainda assim, parece míope condenar de saída e por completo ideia tão afinada com demandas do tempo -internet, inglês e matemática.

O futuro é o software. A meninada precisa conviver com tabuleta,
computador, celular. Desmontá-los e destruí-los, para dominá-los. Do ponto de vista do ensino, os tablets, no mínimo, ajudarão a uniformizar o currículo. Hoje, os conteúdos oscilam segundo humores e precariedades de cada escola. Com as aulas detalhadas e catalogadas no portal do MEC, um clique no aparelho permitirá aos pais (e prefeitos, vereadores etc.) monitorar as classes e conferir seu ritmo. A novidade também resultará em política mais transparente e barata de compra de material didático. A oferta de livros tenderá a crescer. Haverá, claro, dispersão. Mas ela não deixa de ser instrutiva. Games, Facebook e Twitter para todos.



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> Folha de São Paulo, 06/02/2012 - São Paulo SP Educação não é fotografia
A rede municipal de ensino em SP conta com currículo, materiais e programas de recuperação que garantem a melhoria do aprendizado
Alexandre Schneider
Retrospectivas e balanços são pertinentes aos fins e começos. Ainda que a vida não obedeça calendários, somos produto e consequência do tempo e a ele, deferentes, prestamos contas. No caso da gestão pública, a lógica é a mesma. A cada começo de ano somos reapresentados ao retrato do país e das cidades. Projetos, serviços e equipamentos públicos são avaliados e uma enxurrada de números se apresenta para embasar as análises propostas. Ainda que o registro seja necessário, precisamos, afinal, compreender de que forma as novas políticas nos afetam. É também fundamental considerar como e por que a dita "numerologia" administrativa varia de forma, por vezes, tão desigual. Em 2006, não havia na Secretaria da Educação nenhum dado sobre a espera por vaga em creche. Optamos por um sistema informatizado, aberto, que obedece a ordem de inscrição e que, portanto, gera uma "fila". Escolhemos a transparência. Hoje é possível que uma mãe saiba em que posição seu filho está na fila. E que a sociedade acompanhe a evolução do atendimento à demanda. São Paulo mais do que dobrou o número de vagas em creche nos últimos sete anos. Com 48% das crianças em idade de creche atendidas, a cidade está próxima, em 2012, de cumprir a meta estabelecida pelo MEC para 2020. No caso da pré-escola, também temos bons resultados e estamos próximos do atendimento integral à demanda. Mas, certamente, em março teremos outros dados. São Paulo não é um retrato. As pessoas se movimentam. E modificam a cidade.

Cabe, assim, ao poder público identificar e acompanhar esse movimento. O caso dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) é um bom exemplo. Quando assumimos, existiam 21 unidades. Hoje são 45. Mais do que atender o dobro de crianças, os CEUs fazem parte do calendário cultural de São Paulo. A periferia da cidade recebe uma variedade muito maior de shows, filmes, peças e campeonatos esportivos. Artistas locais se revezam com grandes nomes do teatro e da música, levando às comunidades da periferia algo antes restrito aos moradores das regiões centrais. Sem contar os milhares de alunos que diariamente frequentam cursos de música, iniciação artística e cursos técnicos. O CEU não é o único exemplo. Temos o programa Inclui, pioneiro no Brasil, que garante a alunos com deficiência e
suas famílias suporte e assistência integral nas nossas unidades. Derrubamos as escolas de lata, enfrentamos o chamado "turno da fome", valorizamos os profissionais. O piso salarial mais do que dobrou em cinco anos.

Hoje a rede municipal conta com currículo, materiais de apoio e programas de recuperação que garantem a melhoria do processo de aprendizado dos alunos, verificada a partir de exames externos, como a Prova São Paulo, criada pela prefeitura em 2007. Com uma hora a mais de aula, foi possível incluir as disciplinas de educação artística, educação física, leitura e tecnologia de informação, algo que antes só acontecia nas escolas privadas. O mesmo com o inglês, que passou a ser disciplina obrigatória. Nossos diretores têm melhor estrutura em suas escolas e nosso plano de obras prevê para 2012 mais de cem novos prédios para suprir as demandas ainda existentes em certas regiões da capital. Todos os dias, milhares de servidores públicos, nos dirigimos às nossas unidades com o objetivo de servir aos nossos alunos e suas famílias. Para eles, trabalhamos para construir e oferecer mais que um mero retrato.



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> Folha de São Paulo, 05/02/2012 - São Paulo SP Ministério da Educação de Base
Na verdade, o MEC é o Ministério do Ensino Superior e Escolas Técnicas; pouca importância é dada à educação de base
Cristovam Buarque
Durante os meses em que fui ministro do presidente Lula, recebi centenas de parlamentares em audiências. Apenas um deles fez um pedido relacionado ao ensino fundamental. Poucos falaram sobre as escolas técnicas. Quase todos trataram do ensino superior. Na verdade, o MEC (Ministério da Educação) é um Ministério do Ensino Superior e das Escolas Técnicas. As ações educacionais de base para crianças e adolescentes estão sujeitas à falta (e à desigualdade) de recursos dos Estados e municípios. O ministro comemora as suas realizações e assume responsabilidades apenas no que se refere ao ensino superior. Ele não assume a responsabilidade pelo analfabetismo e pelo atraso educacional. Os governos FHC e Lula aumentaram o número de alunos no sistema superior e criaram novas escolas técnicas, mas o Brasil não saiu da vergonhosa tragédia de sua educação de base. E tanto a ampliação do sistema universitário quanto a do ensino profissional estão fracassando por falta de base educacional de seus alunos. Temos uma história de apoiar o ensino superior, menosprezando a educação de base. Temos um programa "Universidade para Todos", mas não temos um programa ambicioso para "Todos Alfabetizados". Não há também o "Todos com Ensino Médio de Qualidade".

Assumimos o ensino superior como questão nacional e deixamos a educação de base como questão local, Estadual ou municipal. A prova é que, em 2009, o governo federal cobriu apenas 3% dos gastos diretos com a educação de base, chegando a 13% se incluirmos o ensino profissional. Graças ao programa Bolsa Escola, que não é mais administrado pelo MEC, foi possível avançar na universalização da matrícula, mas não na frequência, na assistência e na permanência -e ainda menos no aprendizado. Lula sancionou a lei do Senado para o piso salarial do professor, mas o valor é mínimo e até hoje não é cumprido pela maioria dos Estados e municípios. O Brasil precisa de um ministério que se dedique à educação de base, como no passado fez com a saúde, com a cultura e com o esporte. Para cada setor da sociedade, temos um ministério. Só na área econômica, são cinco. Mas não há qualquer autoridade nacional responsável pela educação de base.
Em diversos países, além do ministério da educação de base, há outro dedicado apenas ao ensino superior. Sugeri isso ao presidente Lula antes da sua posse. Hoje, com 38 ministérios, é difícil justificar mais um. Mas é possível concentrar o MEC na educação de base, migrando a Secretaria de Ensino Superior para o MCT, que passaria a ser o Ministério da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Inovação. A principal justificativa para isso é político-administrativa. O ministro dedicado apenas à educação de base terá de concentrar a sua atenção nesse setor. Há também uma justificativa do ponto de vista estratégico: criar no Brasil um sistema nacional do conhecimento, que será eficiente quando todos receberem uma boa educação de base. Esse é um passo necessário e decisivo para transformar o setor que mais emperra o avanço civilizatório do Brasil, propiciando o salto para economia baseada no conhecimento e quebrando a desigualdade social por meio da igualdade no acesso à educação de base. Esse é o objetivo do projeto de lei do Senado 518/2009.



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> Folha.com, 03/02/2012 Tecnologia, desperdícios e bobagens
Gilberto Dimenstein
O governo federal anuncia que vai distribuir um tablet para cada professor de ensino médio da rede pública. As escolas privadas incluíram o aparelho como material escolar obrigatório. Tudo isso soa a modernidade e eficiência. Será mesmo? Como os leitores desta coluna sabem, aprecio o uso da tecnologia para ajudar a vida das pessoas e tento divulgar o que existe de novo em educação. Tendo, em geral, a olhar positivamente. Mas a distribuição de tablets é interessante, mas está longe de me entusiasmar. Receio inclusive desperdícios --o que, aliás, como mostram inúmeras pesquisas, é o que ocorre no Brasil. É algo que também se vê em países desenvolvidos, onde não se consegue provar cientificamente a relação entre os computadores e o desempenho dos alunos. Perde-se dinheiro público e privado com bobagens pedagógicas. Não estou dizendo para deixar as invenções de lado, mas apenas enfatizo o óbvio: que faz uma educação de qualidade é um professor que saiba fazer a gestão da curiosidade, seduzindo o aluno, fazendo-o traduzir criativamente o mundo.

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