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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL, QUINTA 23 DE FEVEREIRO DE 2012



Matérias de Hoje
  • ProUni abre inscrições para vagas remanescentes > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Em uma década, cursos tecnológicos receberam 547% mais alunos em SP > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Bacharéis também buscam tecnólogos para se atualizar > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • 2012 é último ano de adaptação ao Acordo Ortográfico no Brasil > O Globo - Rio de Janeiro RJ
  • Atraso do MEC poupa de corte cursos de ciências contábeis e administração > Folha de São Paulo - São Paulo SP



Editoriais, artigos e opiniões
  • Empresas e pesquisa > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Os desafios da educação > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • A parada no crescimento do ensino superior > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Cuidados com os gastos na Educação > O Globo - Rio de Janeiro RJ



Matérias
> O Estado de São Paulo, 21/02/2012 - São Paulo SP
ProUni abre inscrições para vagas remanescentes
Candidato precisa informar CPF, número de inscrição e senha do Enem 2011; prazo vai até sexta-feira
Estadão.edu
Estão abertas a partir desta quarta-feira, 22, e até sexta-feira, 24, as inscrições para os interessados nas vagas remanescentes do ProUni. Elas podem ser feitas no sitehttp://prounialuno.mec.gov.br/. O candidato precisa ter em mãos seu número de CPF e o número de inscrição e senha do Enem 2011. Ao fim deste prazo, serão feitas duas convocações. A primeira, a partir de 27 de fevereiro, com prazopara comprovação de documentos e matrícula dos dias 28 a 2 de março. A segunda, em 9 de março, com prazo de 12 a 15 de março. Neste processo seletivo foram oferecidass 195.030 bolsas – 98.728 integrais e 96.302 parciais, de 50% da mensalidade – em 1.321 instituições de ensino superior particulares, entre universidades, centros universitários e faculdades. Ao final de seis dias de inscrições,o programa registrou 1.208.398 candidatos. O número superou o de inscritos em 2011 - 1.048.631, até então a maior marca. Cada estudante teve o direito de fazer duas opções de cursos. Dessa forma, o número de inscrições chegou a 2.323.546. Criado em 2005, o ProUni já concedeu 919 mil bolsas de estudos em cursos de graduação e sequenciais de formação específica.


O Estado de São Paulo, 21/02/2012 - São Paulo SP
Em uma década, cursos tecnológicos receberam 547% mais alunos em SP
Nas graduações tradicionais, houve queda de 20% no número de novos ingressantes no mesmo período, mostra o Censo da Educação Superior do MEC; especialistas citam curta duração e especificidade da formação para o mercado como atrativos
Mariana Mandelli
Entre 2000 e 2010, o porcentual de ingressantes em cursos superiores tecnólogos aumentou 547% no Estado de São Paulo, enquanto caiu 20% nas graduações tradicionais. Os dados incluem instituições privadas e públicas. Para especialistas, os números mostram a tendência de expansão dos cursos tecnológicos em detrimento dos bacharelados convencionais. Em 2000, eles representavam 3,6% dos novos alunos. Em 2010, dado mais recente, esse número foi para 23,3% - ou seja, um em cada quatro novos alunos escolhe um curso tecnólogo. Em contrapartida, a porcentagem de novos estudantes nas graduações tradicionais, nesse mesmo período, caiu de 96,4% para 76,7% do total no Estado. Os dados são um recorte do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), feito pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). As graduações tecnológicas são cursos de curta duração, com foco na atuação no mercado de trabalho. Atualmente, os cinco mais procurados pelos estudantes paulistas são Gestão de RecursosHumanos, Gestão Logística, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Gestão Financeira e Mercadologia (Marketing), nessa ordem.

O crescimento identificado em São Paulo corresponde à tendência brasileira. Em 2005, o número de ingressantes nesses cursos representava 8,5% do total de novos alunos no ensino superior do País. Já em 2010, essa taxa subiu para 14,8%. Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, as taxas crescentes mostram que o preconceito contra esse tipo de curso está, aos poucos, diminuindo. "Havia uma resistência muito forte dos alunos, que achavam que o diploma não valia nada, e também do mercado de trabalho, que não queria empregar os formados", afirma. "Alguns conselhos profissionais não queriam conceder registro e algumas empresas não admitiam quem tivesse essa formação." Tendência. Para especialistas, a curta duração é um dos maiores atrativos dos tecnólogos. Segundo eles, é esse o tipo de formação que se adapta mais rapidamente às transformações e tendências econômicas.
"O mundo e o mercado estão mais ágeis. O aluno vai atrás desse tipo de curso porque ele responde com mais eficiência às demandas do mercado", explica Maria Stela Crotti, diretora do Centro Universitário Senac de Campos do Jordão. "Além disso, são formados profissionais específicos - que não têm formação generalista - para certas áreas de forma rápida, atendendo às demandas. A demora para tirar o diploma pode formar um profissional desatualizado", diz ela. A atualização dos currículos interdisciplinares e a constante simulação de ambientes profissionais durante o curso também são outros aspectos que colocam o aluno em sintonia com o mercado. "Procuramos desenvolver no aluno essa capacidade empreendedora, para o estudante ter uma visão ampla", explica Danilo Duarte, pró-reitor da Universidade Cruzeiro do Sul. Carlos Monteiro, especialista em ensino superior, afirma que a tendência de crescimento dos cursos superiores de tecnologia deve permanecer. "As graduações tecnológicas e a educação a distância são as chaves para o Brasil ampliar efetivamente o número de alunos no ensino superior", considera.



Bacharéis também buscam tecnólogos para se atualizar
Mariana Mandelli
A graduação tecnológica também pode servir como atualização para quem já está no mercado e quer mudar de área. Foi o caso de Nelson de Almeida, que já tinha uma carreira na área de sua formação, Administração de Empresas. Mas seu sonho sempre foi estudar Gastronomia, curso no qual é recém-formado pela Universidade Cruzeiro do Sul."Quando era adolescente, não tinham tantas opções de curso como hoje e ele era considerado uma especialização", lembra. Para ele, o fato de a grade curricular ser muito prática é um dos maiores trunfos desse tipo de curso. "Com isso, a gente enxerga diversas oportunidades dentro da graduação." Já Marília Gama descobriu por acaso o curso deTecnologia de Eventos no Senac. "Após um intercâmbio, decidi fazer Hotelaria. Pesquisando sobre o curso, achei esse e vi que tinha tudo a ver comigo", conta. "Minha área é nova, mas penso que, com eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas acontecendo no Brasil, muita gente que já atua no mercado está procurando esses cursos para se atualizar."


> O Globo, 21/02/2012 - Rio de Janeiro RJ
2012 é último ano de adaptação ao Acordo Ortográfico no Brasil
Professores afirmam que vão cobrar mais dos alunos o uso das regras
Marcelle Ribeiro
SÃO PAULO - No último ano de adaptação ao Acordo Ortográfico no Brasil, professores afirmam que neste ano letivo vão cobrar mais o uso das novas normas pelos alunos. Muitos professores reclamam que não receberam treinamento ou orientações das secretarias de Educação sobre a nova ortografia, que ainda provoca muitas dúvidas nas salas de aula. E ainda há algumas escolas usando livros não adaptados às novas regras, em casos considerados excepcionais. Em 1990, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, mas ele só passou a valer no Brasil depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o promulgou, em setembro de 2008. Ficou estabelecido um período de transição de 1 de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, com o convívio das duas normas no país. A partir de 1º de janeiro de 2013, as novas regras passam a ser obrigatórias.

O acordo alterou 0,5% das palavras do vocabulário comum do brasileiro, menos que em Portugal, que teve 1,6% das palavras atingidas. Professores de várias regiões do país afirmam que, desde que o acordo passou a vigorar, eles passaram a ensinar nas salas de aula a nova ortografia e que as mudanças têm sido absorvidas de maneira gradual. - Como este vai ser o último ano de transição, a matéria vai ser mais cobrada dos alunos. Até agora eu fiz uma cobrança muito light, não descontava pontos nas provas de quem não usasse as regras novas - afirma a professora Maria Sufaneide, que dá aulas numa escola estadual da capital paulista. Segundo o professor de Português Marcos Fábio, que dá aula no Ceará, educadores e alunos ainda têm muitas dúvidas: - Todos nós temos que recorrer ao dicionário, sempre surgem dúvidas, principalmente sobre o hífen. Para alguns, a mudança não foi tão ruim. Aluno do 1º ano do Ensino Médio do colégio particular Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, Gabriel Luna, de 14 anos, diz que as novas regras são mais fáceis. - Eu achava mais difícil, por causa dos acentos. Logo que saiu o acordo, já comecei a escrever usando as regras novas, para me adaptar mais rápido. Rio promove treinamento - Para alguns professores, o governo deveria fornecer treinamento específico para os educadores sobre o novo acordo. - Muitos colegas que dão aulas de Português têm dúvidas, que dirá os de outras disciplinas. Seria interessante um curso de formação. E não adianta dizer que vai ter curso 
online. Se o acordo ortográfico era tão importante, deveria haver uma forte preocupação com a formação de quem vai transmiti-lo - diz Alayr Pessoa Filha, professora de Língua Portuguesa do Liceu Estadual Nilo Peçanha, em Niterói. No Rio, o governo do estado afirma que parte dos professores já recebeu treinamento sobre o novo acordo, e outra parcela receberá neste ano. Em São Paulo, a prefeitura e o governo do estado afirmaram que treinarão professores em 2012. E o governo do estado diz que já fez várias ações de divulgação sobre o novo acordo para os professores, além de ter disponibilizado material sobre o assunto. O GLOBO ouviu professores e secretarias de Educação de vários estados e a maioria afirma que todos os alunos da rede pública já está usando livros didáticos adaptados ao acordo ortográfico. No Mato Grosso, porém, a secretaria estadual de Educação informa que uma pequena quantidade de livros não adaptados continua sendo usada em algumas salas de aula de forma complementar. Isso acontece quando o total do material didático com as novas regras não é suficiente para o número de alunos, devido ao aumento de estudantes de uma turma após o recebimento das publicações, ou para substituir livros danificados.

- A direção da escola fala para trabalhar o acordo ortográfico no quadro-negro ou com material fotocopiado. Isso confunde o aluno. Mas a gente frisa toda aula as novas normas - afirma a professora Anny Weicler, que ensina Língua Portuguesa em uma escola estadual de Cuiabá. O Ministério da Educação (MEC), que encaminha livros didáticos para 99% das escolas públicas de todo país, afirma que todo material que enviou para uso a partir de 2010 para alunos de 1 ao 5 ano do ensino fundamental já estava de acordo com as novas regras. Segundo o MEC, livros com a nova ortografia começaram a ser usados por estudantes do 6 ao 9 ano do ensino fundamental em 2011. O ministério diz que distribuiu publicações adaptadas para o ensino médio em 2012. A compra dos livros é feita a cada três anos e são usados por igual período. No entanto, a distribuição de dicionários escritos com a nova ortografia será feita pelo MEC apenas entre junho e setembro deste ano, para 1 milhão de salas de aula. Mas alguns estados não esperaram o MEC e já compraram seus próprios dicionários.

Além de livros e dicionários, o MEC investiu na compra de 204 mil exemplares do Vocabulário 
Ortográfico da Língua Portuguesa (conhecido pela sigla Volp), editado pela Academia Brasileira de Letras para esclarecer dúvidas sobre a grafia das palavras. Todos os exemplares, segundo o ministério, já foram distribuídos. Mas isso não quer dizer que eles estejam sendo usados: há professores de Língua Portuguesa que garantem que nunca viram o Volp nas suas escolas. Em São Paulo, alunos afirmam que materiais didáticos que supostamente estão de acordo com as novas regras ainda apresentam palavras na grafia antiga. - Os livros estão adaptados, mas nas apostilas ainda há “erros” ortográficos, apesar de elas terem um carimbo dizendo que o material passou por revisão para se adequar ao acordo. Já vi a palavra ideia acentuada, por exemplo - afirma Rafael Blessa, aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Buenos Aires, na capital paulista. O governo de São Paulo informa que todo material distribuído, no entanto, está de acordo com a nova ortografia.

As regras ortográficas não são objeto de preocupação só de estudantes do ensino regular. Muitas empresas têm disponibilizado para os funcionários cursos para que passem a escrever de acordo com as novas regras. - De todas as empresas que nos contrataram para prestar treinamento de Língua Portuguesa para funcionários, 80% solicitaram que incluíssemos um módulo sobre a nova ortografia. As empresas estão preocupadas, principalmente as que têm funcionários que lidam com o público - afirma Ana Catarina Kretly, gerente de Marketing da Scritta, empresa que presta consultoria de comunicação a companhias. Apesar de o decreto prever a obrigatoriedade do uso da nova ortografia a partir de 1 de janeiro de 2013, ação popular que tramita na Justiça Federal pede que o prazo seja adiado. Impetrada pelo movimento Acordar Melhor, a ação afirma que a Academia Brasileira de Letras (ABL) desrespeitou o acordo assinado entre os países de língua portuguesa ao fazer alterações em palavras publicadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). - O Congresso Nacional teria que aprovar as alterações que o Volp apresentou ao acordo - disse o professor Ernani Pimentel, líder do Acordar Melhor. O acadêmico Evanildo Bechara nega que a ABL tenha desrespeitado o acordo: - Se for escrito num sistema ortográfico uniforme, um livro escrito em português na Europa, no Brasil, ou na África não precisa ser atualizado para ser publicado em outro país - afirma.



> Folha de São Paulo, 20/02/2012 - São Paulo SP
Atraso do MEC poupa de corte cursos de ciências contábeis e administração
Ministério demorou a finalizar avaliação do ensino superior, adiando a redução nos considerados ruins. Apenas área de saúde perdeu vagas; pasta afirma que as punições devem ocorrer no segundo semestre
RENATO MACHADO DE BRASÍLIA
O Ministério da Educação demorou para concluir o processamento de dados da avaliação de ensino superior e, por isso, os cursos de ciências contábeis e administração considerados ruins vão escapar neste semestre do corte no número de vagas. O ex-ministro Fernando Haddad anunciou em novembro a redução de cerca de 50 mil vagas nessas duas áreas e em dez cursos de saúde. As medidas deveriam entrar em vigor já neste semestre. No entanto, só os cortes de saúde (31,5 mil vagas) foram publicados no "Diário Oficial da União". Segundo o MEC, isso é consequência da demora na análise das avaliações das instituições de ensino, o que afetou o trabalho seguinte, que seria estipular as medidas punitivas àqueles mal avaliados, isto é, com baixos conceitos segundo os parâmetros do próprio ministério.Inicialmente, previa-se que os resultados das avaliações dos cursos ficariam prontos em outubro, mas eles só saíram na segunda quinzena de novembro. O ministério priorizou então os cortes em saúde e não teve tempo de finalizar os demais. Para que esses cortes pudessem ser efetuados, eles deveriam ter sido determinados antes dos vestibulares de janeiro e fevereiro, que já ocorreram na maior partes das instituições. "Isso não significa que abandonamos a supervisão para os cursos de ciências contábeis e administração. Eles vão passar pelo processo. Houve apenas um adiamento", disse Luís Fernando Massonetto, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC. A previsão é que as medidas punitivas para esses cursos sejam divulgadas nos próximos meses, para já valerem no segundo semestre.A estimativa do MEC é que 20% dessas áreas possam ter cortes de vagas, por serem mal avaliadas. Segundo o Censo da Educação Superior de 2010, existem hoje no país 1.052 cursos de ciências contábeis e outros 2.369 de administração. Estão sujeitos às medidas punitivas os cursos que tiveram conceito insatisfatório na avaliação nacional -índice 1 ou 2 no CPC (Conceito Preliminar de Curso), que tem escala de 1 a 5; esse conceito leva em conta o desempenho no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), a titulação dos professores e a infraestrutura do curso. Os que estão nessa situação passam pelo processo de supervisão, no qual há um corte de 20% a 65% do total de vagas. Quanto pior o desempenho, maior o corte.


Editoriais, artigos e opiniões
> O Estado de São Paulo, 22/02/2012 - São Paulo SP
Empresas e pesquisa
Bruno Queliconi
A relação entre empresas e centros de pesquisa no Brasil ainda é muito incipiente. Isso se deve a diversos fatores, como falta de capacitação dos formandos, falta de incentivo governamental e falta de vontade das universidades. A USP tem trabalhado no sentido de melhorar a relação com as companhias e fazer com que elas invistam em pesquisa aqui, mas isso ainda rende poucos frutos.

As áreas de engenharia e medicina atraem mais interesse das empresas e, muitas vezes, também têm professores que passaram por empresas. Desse modo é mais fácil o contato e a evolução dos investimentos nos laboratórios por companhias privadas. Entretanto, a indústria de biotecnologia, para citar um exemplo, investe pouco em nossos centros de pesquisa. O IQ
tem tentando melhorar essa relação criando o primeiro mestrado profissional da USP. Isso permitirá que pessoas já alocadas em empresas façam um mestrado que mescla uma parte de administração privada com desenvolvimento de conhecimento de ponta. As empresas bancam a bolsa e parte do trabalho do aluno, e o IQ fornece aulas e o ambiente para que se desenvolva a pesquisa desejada pela empresa.

Além disso, alguns laboratórios conseguiram fechar parcerias com empresas para estudar compostos ou soluções para problemas específicos. Nesse caso um técnico (em geral um aluno com mestrado ou doutorado) é pago pela empresa para tentar desenvolver um composto que poderá se desenvolver em um produto ou
patente. O problema, neste caso, é que o salário pago chega a ser menor do que uma bolsa de doutorado, dificultando a vida daqueles que gostam da pesquisa mas não gostariam de seguir a carreira docente. Essa novas iniciativas que começam a aparecer no Brasil já são bem estruturadas no exterior e permitem que alunos de pós tenham mais possibilidades de carreiras que somente a docência. Atualmente os pós-graduandos brasileiros concorrem com igualdade com os estrangeiros por vagas na pesquisa em indústria. Isso indica que só falta um bom incentivo para que as companhias montem no Brasil unidades de pesquisas e que possam surgir aqui empresas inovadoras de biotecnologia, como ocorre no exterior.




Os desafios da educação
Antonio Jacinto Matias
O novo ministro da Educação deu posse à sua equipe e inicia sua jornada para responder ao grande desafio do setor. A oportuna divulgação do relatório De Olho nas Metas 2011 pelo Movimento Todos pela Educação reforça o alerta sobre o grande desafio que ainda persiste para que o Brasil proporcione um ensino público de qualidade, concretizando o direito de aprender a crianças e jovens brasileiros, como estabelece a Constituição. Precisamos criar as condições para que o atual ciclo virtuoso da economia seja mantido nos próximos anos e alcancemos o desenvolvimento econômico e social sustentáveis. É inegável que tivemos importantes avanços. A ampliação do acesso ao ensino fundamental, a crescente inserção de programas de educação integral nas escolas públicas e a utilização de sistemas de avaliação que ajudam a estabelecer metas e a mensurar resultados de aprendizado foram pontos essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes na educação.

Embora o acesso ao ensino tenha aumentado 9,2% entre 2000 e 2010, o relatório indica, contudo, que ainda existem no País 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. Nenhum Estado brasileiro superou a meta intermediária e persistem grandes diferenças entre as regiões. De acordo com a análise, realizada com base no Censo Demográfico de 2010, 96,7% das crianças e dos jovens de 6 a 14 anos estão na escola. No entanto, o índice é bem menor nas faixas dos 4 aos 5 anos (80,1%) e dos 15 aos 17 (83,3%). A perspectiva é que até 2022 apenas 65,1% dos jovens de até 19 anos tenham concluído o ensino médio. Reside aí o maior desafio para universalização do acesso. No Sudeste, onde vivem 92% de crianças e jovens de 4 a 17 anos matriculados, embora com bons índices relativos, verifica-se a maior concentração de excluídos do sistema de ensino em números absolutos. O atendimento na pré-escola permanece em patamares muito mais baixos do que a meta estabelecida, particularmente no Norte, onde
somente 69% das crianças de 4 aos 5 anos são atendidas.

Os dados reforçam que a questão do fluxo escolar, determinada por atrasos na entrada na escola, repetência e abandono, é um ponto essencial a ser considerado nos investimentos públicos e na definição das políticas de educação para que os jovens concluam o ensino médio na idade certa. Em relação à meta de alfabetização de todas as crianças até os 8 anos de idade, um fator adicional que preocupa é a grande desigualdade entre as redes pública e particular. Nas avaliações de desempenho em leitura, escrita e matemática, a rede particular concentrou duas vezes mais alunos com o nível de conhecimento esperado para essa fase. Em matemática, 74,3% dos alunos da rede particular tiveram o desempenho esperado, ao passo que só 32,6% dos estudantes da rede pública chegaram ao mesmo nível de proficiência. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o investimento por aluno no Brasil, do ensino fundamental ao superior, era de US$ 2.416 dólares ao ano em 2008. A média da OCDE nesse mesmo ano foi de US$ 8.961. O Brasil ampliou em 130% seu investimento por aluno de 2005 a 2008, ante 54% da média da OCDE.

Aumentar o investimento é necessário, mas tão importante quanto o montante a ser investido é a qualidade da gestão desses recursos. Conforme o censo, o gasto público por estudante da educação básica no País é cinco vezes menor que o gasto por aluno do ensino superior, somados os investimentos do governo federal, de Estados e municípios. Embora essa disparidade venha sendo reduzida ao longo dos anos - em 2000 o gasto por estudante do básico era 11,1 vezes menor -, esse ponto certamente precisa receber atenção se desejarmos reverter os déficits de atendimento e aprendizagem no País. Algumas iniciativas que precisariam ser tomadas têm grande potencial para abrir caminho à construção de um sistema educacional
eficiente, que garanta condições de acesso, alfabetização e sucesso escolar a todos os estudantes brasileiros, o que só será possível a partir de uma boa gestão dos recursos públicos investidos na educação. Uma é a aprovação de uma lei de responsabilidade educacional, que desde 2006 vem sendo proposta e debatida, com o firme engajamento do movimento Todos pela Educação, dada a necessidade inquestionável de estabelecer regras para a aplicação dos recursos públicos no ensino. A execução do orçamento hoje depende muito da qualidade e do comprometimento dos gestores. Não há mecanismos de controle para garantir a aplicação dos recursos em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE), a Lei de Diretrizes de Bases da Educação e os objetivos pretendidos pelo Estado para a melhoria do ensino.

Um ponto fundamental para o cumprimento das metas do PNE é a construção de um regime de colaboração efetivo entre municípios, Estados e governo federal. Embora a Constituição de 1988 tenha transferido boa parte das atividades educacionais dos Estados para os municípios, ainda hoje não existem normas para explicitar os papéis de cada uma das esferas e articular suas ações. Essa situação se torna ainda mais desafiadora pelo fato de o Brasil ser um país federativo e seus municípios terem total autonomia para formular suas próprias políticas. Medidas estruturais, como formação e plano de carreira de professores, estabelecimento de um currículo nacional mínimo, ampliação da oferta de educação integral e da educação infantil e ações múltiplas para alavancar o ensino médio e torná-lo atrativo para os jovens são inviáveis sem a cooperação técnica e financeira dos entes federados. A agenda está repleta de desafios. É preciso que o novo ministério, os entes da Federação e a sociedade civil despertem para a grande prioridade nacional e comecem a desatar todos esses nós. Só assim vamos garantir o tão sonhado salto de qualidade do ensino público brasileiro.

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