Páginas

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL, SEGUNDA, 30 DE JANEIRO DE 2012

Matérias de Hoje
<><><><><><>
  • Pósgraduação: Educação estendida > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Perfil dominante é o de mulher de 34 anos > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Setor espacial tem carência de cientistas > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Pós-doutor tem vaga em pesquisa empresarial > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Com que pós eu vou? > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Multidisciplinares é área que mais cresceu no país > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Economia banca alta em sociais > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Humanas se propaga pelo interior > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Burocracia emperra ciências biológicas > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Engenheiros se afastam da academia > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Governo federal aumenta em 85% bolsas-sanduíche > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Universidade se prepara para receber estrangeiros > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Faltam vagas fora do meio acadêmico > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Número de bolsas dobra em 5 anos > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Vida de estudante > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Curso a distância encontra resistência > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Empresa só valoriza pós 'com critério' > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Reconhecimento de mestrados aumenta > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Reversão da "fuga de cérebros" traz médicos de volta ao país > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • "Em breve, Brasil vai competir com EUA e Europa" > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • "Aqui tem verba para pesquisa em novas áreas" > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Volta às aulas evidencia abismo entre redes pública e particular > O Tempo - Belo Horizonte MG
  • MEC quer tablets nas escolas, mas programa anterior que entregou laptops chegou a menos de 2% dos alunos > UOL Educação


Editoriais, artigos e opiniões
  • O que queremos do novo ministro da Educação? > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Desafios da educação > Estado de Minas - Belo Horizonte MG
  • A batalha do piso dos professores > Correio Braziliense - Brasília DF
  • Educar > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Quem deve se ligar na ciência? > Folha de São Paulo - São Paulo SP
  • Uma nova realidade? > Gazeta do Povo - Curitiba PR






Matérias
<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Pósgraduação: Educação estendida
Governo quer aumentar oferta de cursos stricto sensu em mais de 15% até 2013; falta de especialistas no país motiva criação de programas
BIANCA BIBIANO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) 2011-2020 divulgado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no ano passado estabelece como objetivo para a década um crescimento de pouco mais de 15% a cada três anos no número de cursos de pós-graduação registrados no país. Se a expectativa se cumprir, em 2013 serão 6.029 cursos formando mais de 60 mil mestres e doutores. A projeção favorece quem procura cursos nos campos de tecnologias, ciências agrárias e da terra, engenharia e saúde, considerados prioritários para esses dez anos. "O cenário da formação superior é positivo para todas as áreas, mas o Brasil carece de mão de obra especializada sobretudo nesses setores", explica Lívio Amaral, diretor de avaliação da Capes. Pelos dados de 2009, a maior parte dos cursos são de ciências da saúde e ciências humanas, com respectivamente 725 e 588 registros. De 2004 a 2009, o número total de cursos passou de 2.970 para 4.101 -alta de 38,1%-, chegando, em 2010, a 4.757.


DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL - Ana Lúcia Almeida Gazzola, relatora do PNPG e docente da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz concordar que o quadro atual é positivo, mas ressalva que ele só será eficaz quando o crescimento for redimensionado, considerando-se a capacidade instalada do parque universitário brasileiro. A especialista diz acreditar que a formação de centros de referência espalhados pelo território nacional possa direcionar as metas repassadas às instituições de ensino. A maioria dos cursos de pós se concentra no Sudeste e no Sul. "Em 24,1% das mesorregiões brasileiras [subdivisões dos Estados que agrupam cidades pelo perfil econômico e social], há apenas um ou nenhum doutor, e essa ausência é maior no Norte, no 
Nordeste e no Centro-Oeste", situa Danilo  Giroldo, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Furg (Universidade Federal do Rio Grande). "É grave se pensarmos no destaque que essas regiões terão com a Copa de 2014." Programas como a Rede Centro-Oeste, do governo federal, e a Renorbio (Rede Nordeste de Biotecnologia) buscam suprir a falta de pós-graduandos e de pesquisa científica em regiões como a do cerrado e o Pantanal. "Criar cursos que tenham no corpo docente professores de diferentes faculdades é alternativa para se instituir um campo de pesquisa forte nessas regiões", frisa Giroldo. MASSA CRÍTICA - Para 2013, as agências de fomento Capes e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) estimam a distribuição de 105 mil bolsas para mestrado e doutorado. "Teremos o resultado apenas daqui a quatro ou cinco anos, quando essa massa crítica estará formada e produzindo", destaca Amaral.

<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Perfil dominante é o de mulher de 34 anos
Maioria dos 330 mil estudantes de pós no país está em cursos lato sensu; renda familiar média dos alunos é de R$ 7.200, de acordo com dados do IBGE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A busca por pós-graduação no Brasil, lato e stricto sensu, parte de um grupo majoritariamente feminino, com idade média de 34 anos e renda acima da média nacional. É o que apontam os dados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2009. As mulheres representam 58% dos estudantes nesse nível de ensino. Apenas no mestrado profissional o número de homens é maior. Segundo a Capes, 4.167 mulheres se matricularam nos cursos da modalidade, contra 5.937 registros masculinos. Estudantes de ambos os sexos têm renda familiar média de R$ 7.227,76. Para Fabio Gallo Garcia, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e autor do livro "Como Planejar a Educação", trata- se de uma parcela da população que tem acesso à formação superior. A Pnad, que considerou alunos inscritos em instituições de ensino privadas, contabilizou 330.351 matrículas em cursos de pós no país. "O alto número de alunos se deve ao fato de que parte deles faz cursos de especialização lato sensu, não computados nas pesquisas encomendadas pelo governo federal", explica Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e especialista em pesquisas sobre ensino superior. Na pesquisa da Capes sobre pós stricto sensu com dados do mesmo ano, as matrículas somam 161.117, um pouco acima do contabilizado pela Pnad só no setor público, que oferece a maioria dos cursos desse tipo no Brasil. FORMAÇÃO TARDIA - A idade com que os brasileiros têm concluído a pós-graduação preocupa os especialistas. "Caracteriza a formação tardia, causada principalmente por alguns doutorados ainda requererem o mestrado como etapa intermediária, prolongando o tempo para a qualificação", observa Schwartzman. Para quem entra diretamente no doutorado após a graduação, é possível se formar antes dos 30 anos. Para o pesquisador, essa é a maneira mais rápida de alcançar melhores salários e impulsionar a carreira antes daqueles que entram na pós com idade superior. "A maioria das pessoas com essa formação no país é mais velha que em países mais desenvolvidos e trabalha sobretudo na docência", especifica. (BB)

<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Setor espacial tem carência de cientistas
Capes pretende direcionar vagas e bolsas de pós para áreas que estabeleceu como estratégicas; em ciências agrárias, faltam 17 mil doutores em universidades e institutos de pesquisa
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Logo que se formou em física, Flávio Damico, 43, encontrou na área de astronomia a possibilidade de fugir da docência e de trabalhar com pesquisa espacial. A escolha pelo mestrado, seguido do doutorado em astrofísica pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi a base da formação para que ele prestasse concurso na própria instituição, em que hoje é pesquisador. O setor espacial é um dos que têm destaque no PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) 2011-2020 da Capes. Himilcon de Castro Carvalho, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB (Agência Espacial Brasileira) e um dos redatores do PNPG, frisa que, na atividade espacial, há carência imediata de 2.000 cientistas, técnicos e engenheiros, tanto em órgãos públicos quanto em privados. DOUTORES EM FALTA - As áreas de ciências agrárias e da terra, engenharias, tecnologias, ciências biomédicas, biologia e saúde também são citadas no plano. No campo de ciências agrárias, que teve aumento de 40% no número de cursos entre 2004 e 2009, estima-se que seja necessário formar 17 mil doutores para universidades e institutos de pesquisa, principalmente nas regiões Norte e Centro-oeste. "Não significa que as demais áreas não terão novos cursos", afirma Lívio Amaral, diretor da Capes. "Mas devemos direcionar mais vagas e bolsas para esses setores, que são considerados estratégicos para a economia." (BB)

<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Pós-doutor tem vaga em pesquisa empresarial
Empresas têm poucos mestres e doutores; áreas que mais contratam são farmácia, biotecnologia, petróleo e aeronáutica
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao contrário do que se pensa, o pós-doutorado não é um curso, mas a extensão de uma pesquisa que pode ocorrer tanto em um centro universitário como em uma empresa. "Ele [pós-doutorado] é importante porque o profissional faz 'networking' com outros professores", avalia Paulo Lemos, da FGV Management. Na USP (Universidade de São Paulo), a categoria configura um programa de pesquisa, feito por doutores em unidades, órgãos de integração e órgãos complementares com o objetivo de melhorar o nível de excelência científica da universidade. No mercado de trabalho, a demanda por esses profissionais é maior em empresas com departamento de P&D (pesquisa e desenvolvimento) bem desenvolvido, sobretudo nos setores de agronegócio, petróleo e energia, cita Euclides de Mesquita Neto, pró-reitor de pós-graduação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Geralmente, o pós-doutor é responsável pela coordenação de grupos de pesquisa nessas companhias.


EXIGÊNCIAS - "No mercado de agronegócio, as oportunidades surgem principalmente no que se relaciona ao desenvolvimento de novas tecnologias, como novas sementes e novos agroquímicos",
complementa Caio Arnaes, da Robert Half. Mas é mesmo na carreira acadêmica que o pós-doutorado é mais valorizado. "A procura por profissionais com titulação de doutor e pós-doutor é grande na universidade devido às exigências do MEC [Ministério da Educação]", diz Arnaes. Para ser considerado mestrado ou doutorado, um curso deve ter uma porcentagem mínima de mestres e doutores em seu quadro de professores, e um pós-doutorado valoriza o profissional ao provar para a academia que ele está focado em pesquisa. (MCN)

<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Com que pós eu vou?
Assim como acontece no MBA, foco do mestrado profissional está no mercado de trabalho, mas sua exigência teórica é maior
MARIA CAROLINA NOMURA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A avaliação de que programa de pós-graduação melhor se encaixa em seu perfil passa por três pontos principais: objetivo de carreira, desenvolvimento profissional e viabilidade financeira. Cursos do tipo stricto sensu são indicados se a meta é seguir uma carreira técnica ou acadêmica. Dentre o rol desses programas, o mestrado e o doutorado são mais direcionados à academia, para formar professores e pesquisadores. O candidato costuma escolher esse caminho ao final da graduação, quando ruma para a iniciação científica. Quando o foco é a carreira executiva, frisa Caio Arnaes, gerente da consultoria Robert Half em Campinas, a melhor opção são os cursos lato sensu, como o MBA (Master in Business Administration), cuja aplicabilidade prática é valorizada pelas empresas. O mestrado profissional é um modelo híbrido, com disciplinas técnicas e foco voltado ao mercado de trabalho, no que se assemelha ao MBA. Porém, é mais exigente em relação a conhecimento teórico. Além disso, por ser uma modalidade stricto sensu, dá direito a prosseguir no doutorado, diferentemente da pós lato sensu.


DEDICAÇÃO PARCIAL - "Quem
faz mestrado profissional são executivos que não querem ou não podem deixar de trabalhar para a dedicação exclusiva aos estudos, como exigem o mestrado e o doutorado regulares", explica Fátima Bayma, especialista em educação e professora da Ebape-FGV (Fundação Getulio Vargas). Em geral trata-se de pessoas com mais experiência profissional que querem ser professores, acrescenta Paulo Lemos, diretor-adjunto da FGV-Management de São Paulo. Para custear a pós, é possível obter subsídios do empregador ou bolsas de estudo, para mestrado ou doutorado.


> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Multidisciplinares é área que mais cresceu no país
Regiões com poucos mestres e doutores têm grupos de pesquisa com especialistas em mais de um campo de estudo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Entre as grandes áreas de pós stricto sensu definidas pela Capes, a multidisciplinares foi a que mais cresceu entre 2004 e 2009. O número de cursos passou de 152 para 382, um avanço de 151%. Regiões com menor número de docentes, como Norte e Nordeste, e cidades do interior dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo lideram a oferta de programas. A facilidade para criar grupos de pesquisa unindo diferentes campos de estudo é o principal fator do salto, afirma Pedro Geraldo Pascutti, coordenador-adjunto da Comissão de Avaliação da Área de Interdisciplinar da Capes. "Onde há poucos doutores e mestres, é possível formar um corpo docente com professores de áreas disciplinares diferentes. Biólogos e engenheiros podem lecionar em um curso de biotecnologia com proposta multidisciplinar." O crescimento rápido também se deve ao fato de a área ser nova. As primeiras pós que agrupavam duas ou mais disciplinas datam do início dos anos 1990.


SEM PERDA - Cursos multidisciplinares são indicados para quem quer mudar de área sem perder o que ganhou na formação inicial e procura inovação. Nadja Maria Souza Araújo, graduada em comunicação social, fez mestrado
em informação e comunicação em saúde da Fundação Oswaldo Cruz (RJ) para atuar tanto em ciências e saúde como em comunicação. "Assessoro projetos ligados à saúde pública sem deixar de lado o tratamento da informação", diz. Profissionais com formação multidisciplinar, porém, enfrentam dificuldade para atuar em universidades públicas, pelas especificidades dos editais de concursos. "Matemática, medicina e letras contratam doutores em suas especialidades tradicionais", cita Glaucius Oliva, presidente do CNPq. (BB)

<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Economia banca alta em sociais
Na área de ciências sociais aplicadas, competitividade no mercado de trabalho fomenta procura por pós em gestão
FERNANDA KALENA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número de cursos de pós na área de ciências sociais aplicadas aumenta com a valorização dos campos de economia e administração. Os profissionais dessas áreas enfrentam no mercado de trabalho uma competição tanto interna como externa, argumenta o diretor adjunto da FGV Management em São Paulo, Paulo Lemos. "O Brasil tem se inserido na economia global com força crescente e isso cria uma demanda por executivos que tenham melhor formação e preparo", afirma. A consequência, frisa, é uma busca maior por especializações e qualificações. Na Fundação Getulio Vargas, o crescimento tem sido verificado sobretudo nas áreas de administração que envolvem gestão empresarial e gestão de negócios.


FALTA DE PROGRAMAS - Por outro lado, comunicação, ciências da informação e museologia ainda têm muito o que se desenvolver. Não existem programas de 
mestrado profissional nessas subáreas no Brasil, embora a tendência seja que eles surjam em breve, diz Maria Helena Weber, coordenadora da área de ciências sociais aplicadas 1 da Capes. Em ciências da informação, que estudam a transformação de dados em conhecimento, os mestrados profissionais, com um enfoque mais técnico do tema, trariam muitos ganhos tanto para aqueles que buscam a especialização como para a academia, avalia Weber.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Humanas se propaga pelo interior
Programas da área crescem em regiões menos atendidas do país; desafio é elevar qualidade
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os cursos nas grandes áreas de ciências humanas e de linguística, letras e artes se multiplicaram nos últimos anos adotando uma política de interiorização e de expansão nas regiões Norte e Nordeste. "Hoje temos cursos em todos os Estados brasileiros, exceto Maranhão, que terá em breve. Houve uma política de criação de novos cursos em centros que já possuíam a graduação", explica o coordenador de letras e linguística da Capes, Demerval da Hora Oliveira. De 2004 a 2009, o número de programas na área passou de 168 para 225, em grande parte pelo incentivo da instituição em qualificar professores da educação básica através de mestrados profissionais, mais práticos. "A linguística hoje está voltada para a questão social, não é mais concebida como puramente teórica e desvinculada das questões da sociedade", afirma Oliveira. "O ensino e a qualificação de professores são o foco das atenções nos próximos anos." A tendência é que a área dê lugar também a linhas de pesquisa mais pragmáticas.


QUESTÕES REGIONAIS - Já na área de ciências humanas, o
número de programas passou de 421 para 588 entre 2004 e 2009, amparado num forte crescimento no Norte e no Nordeste. O próximo passo é elevar a qualidade desses programas - 85% dos cursos dessas regiões tiveram notas 3 ou 4 no sistema de avaliação da Capes.Na busca da ampliação de cursos com nível de excelência, têm sido criados programas voltados a demandas regionais vinculadas a políticas públicas. Estudo de questões indígenas, estudos estratégicos e de segurança e história da cultura regional são exemplos. (FK)





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Burocracia emperra ciências biológicas
Pós-graduação não é quesito essencial na formação de profissionais dessa área
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma pós não é o único caminho para o profissional de ciências da saúde e biológicas melhorar sua formação. Ele pode aprofundar conhecimentos em residências e na prática da profissão, destaca a professora Regina Célia Mingroni Netto, coordenadora do programa de pós-graduação em ciências biológicas da USP. Para a especialista, isso explica a desaceleração no crescimento do número de cursos de mestrado e doutorado entre 2004 e 2009 não só em ciências biológicas (de 11,2% para 9,2%) e ciências da saúde (de 19,6% para 17,7%) mas também em ciências exatas e da terra (de 10,8% para 10,2%). Os valores de bolsas também são desestimulantes, acrescenta o professor Edmilson Dias de Freitas, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo). LENTIDÃO - Segundo Netto, a lentidão para aprovar projetos em comissões de ética, a demora ao importar produtos e peças de equipamentos e a burocracia em universidades e institutos também contribuem para o quadro. "No tempo em que um americano faz dez pesquisas, eu faço uma", compara.






> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Engenheiros se afastam da academia
Falta de profissionais no país faz com que salários no setor privado sejam mais atrativos para o recém-formado que bolsas de estudantes de pós-graduação
LÍGIA MENEZES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O ritmo de crescimento de cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil caiu entre 2004 e 2009, segundo relatório da Capes, e uma das maiores responsáveis pela puxada no freio de mão foi a área de engenharia. Pelo relatório, em 2004 a oferta de cursos de especialização, mestrado e doutorado para engenheiros era de 11,5% do total de cursos. Em 2009, caiu para 10,9%. De 800 mil concluintes de pós em diversas áreas naquele ano, só 5,9% foram de engenharia, produção e construção. O fenômeno pode ser explicado pela falta de engenheiros no país, que acarreta contratação em massa logo após a graduação, fazendo com que os profissionais nem sequer tenham tempo (ou interesse) para uma pós. Apenas com diploma de graduação, eles recebem propostas atrativas em multinacionais e grandes empresas. De acordo com o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, Marcelo Trindade, a situação pode ficar preocupante. "O país precisará de mais engenheiros especializados e focados em pesquisa para sustentar o desenvolvimento da indústria nacional", frisa. Para o professor Gherhardt Ribatski, membro da Comissão de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da USP, o decréscimo se relaciona ao reduzido valor das bolsas de estudo em comparação aos salários na iniciativa privada. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por exemplo, paga a mestrandos bolsas de R$ 1.477 a R$ 1.568. Doutorandos recebem de R$ 2.177 a R$ 2.695. Um trainee da área pode começar em uma empresa com R$ 4.000.


PRIORIDADES - A carreira de um engenheiro deverá passar por áreas que a Capes priorizará nos próximos dez anos -caso de geração e distribuição de energia e desenvolvimento de transporte eficiente. Para ampliar a visão sobre esses temas, a interdisciplinaridade é tendência, cita Estevam Barbosa de Las Casas, coordenador da área de avaliação Engenharias 1 da Capes. "Em engenharia de materiais, há profissionais de saúde e físicos; na engenharia de estruturas, fisioterapeutas e cientistas da computação."





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Governo federal aumenta em 85% bolsas-sanduíche
Em doutorado feito parte no país, parte no exterior, projeto Ciência sem Fronteiras deve bancar 24.600 alunos até 2014
RENAN HENRIQUE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nos últimos oito anos, a modalidade de doutorado-sanduíche -parte do curso é feita no exterior e parte no país de origem- foi a que mais cresceu entre estudantes brasileiros de pós-graduação. A Capes, que é ligada ao MEC (Ministério da Educação), distribuiu 1.019 bolsas-sanduíche para doutorandos em 2004. O número subiu para 1.890 em 2010 -85% mais. No CNPq, ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, o crescimento também bateu os 86%: entre 2004 e 2011, o número de bolsas saltou de 112 para 208. O aumento desse tipo de subsídio, que oferece até um ano de intercâmbio no exterior (veja oportunidades na pág. 28), deu-se ao mesmo tempo em que o doutorado pleno -o estudante faz o curso inteiro em universidade estrangeira- perdeu força. De acordo com Marcio de Castro, diretor de relações internacionais da Capes, isso aconteceu porque o Brasil construiu nos últimos 20 anos uma rede de pós-graduação de ponta. "Hoje são quase 3.200 programas."


INTERNACIONALIZAÇÃO - Para estimular a internacionalização dos cursos de pós, o governo federal lançou em 2011 o programa
Ciência sem Fronteiras. A ideia é qualificar profissionais de setores em que o país se desenvolveu mais nos últimos anos, mas onde ainda há carência de talentos -os principais exemplos são as áreas de ciência e tecnologia. O projeto prevê, até 2014, a doação de 24.600 bolsas de doutorado sanduíche. Serão distribuídos ainda 27.100 subsídios de graduação sanduíche, 9.790 de doutorado pleno, 8.900 de pós-doutorado, 2.660 de pesquisas, 700 de treinamento de especialistas empregados, 860 de formação de jovens cientistas e 390 para trazer pesquisadores de outros países.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Universidade se prepara para receber estrangeiros
USP criou no ano passado um programa de integração voltado para estudantes que chegam ao país
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando chegou ao Brasil em 2008, o estudante norte-americano Peter Thomas, 25, sentia-se até incomodado com a obsessão dos brasileiros em ajudá-lo. "Parecia que todo mundo queria praticar inglês comigo", diz ele, que veio da Filadélfia, na Pensilvânia. Thomas cursava graduação em sistemas da informação na Drexel University, que exigia dos alunos duas experiências no exterior. Optou pelo Brasil após morar na França. No entanto, diz que não conhecia quase nada sobre o país. "Sabia apenas que era muito grande, que falava português e que tinha a floresta amazônica." Ao estagiar em Campinas, conheceu a então estudante de antropologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Ruth Almeida, hoje com 27 anos, com quem se casou. Hoje o americano está prestes a concluir um mestrado em linguística na Unicamp.


IFRIENDS - Muitos estudantes de outros países escolhem universidades brasileiras para fazer um curso de pós-graduação. Para melhor recebê-los, a USP (Universidade de São Paulo) criou, em julho do ano passado, um programa com o objetivo de integrar intercambistas e alunos. O USP iFriends surgiu depois que a universidade percebeu que os
próprios estudantes se organizavam para ajudar estrangeiros. O projeto teve quase mil inscrições. O estudante francês Kevin Bastard, 22, diz ter ficado surpreso com o tratamento que recebeu dos colegas na Escola Politécnica da USP, onde cursa engenharia naval. Mas faz uma ressalva quanto ao tratamento que recebeu em sala de aula. Apesar de haver estudado português antes de viajar, Bastard diz ter encontrado dificuldades para acompanhar as aulas no início. "Alguns professores não tiveram muita paciência. Eles me consideravam como um aluno 'normal'."





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Faltam vagas fora do meio acadêmico
Farmácia, biotecnologia, petróleo e aeronáutica são os setores produtivos que mais empregam pós-graduados
LARA SILBIGER COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número de empresas que absorvem mestres e doutores ainda é reduzido no país. A principal causa são os escassos investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento), na avaliação de acadêmicos ouvidos pela Folha. Segundo o IBGE, hoje os pós-graduados representam somente 9,1% dos funcionários da indústria nacional -no Canadá, compõem 62,2% do quadro. Na universidade pública brasileira estão 63% dos doutores do país, de acordo com o MEC. "Faltam oportunidades fora da universidade", frisa Luiz Carlos Dias, coordenador de química da Capes. "São poucas as empresas no país que se dedicam à pesquisa com vistas à inovação." OPORTUNIDADES - Elas estão nos setores de farmácia, biotecnologia, petróleo e aeronáutica, lista Eduardo Correia, professor de macroeconomia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). No time médico, regulatório e de farmacovigilância da Bayer, 35% dos funcionários são pós-graduados. "Para inovar, precisamos de pessoas com senso crítico, discernimento e capacidade de avaliação", justifica Sandra Abrahão, diretora médica. Também cresce a procura por cientistas especializados em química renovável e materiais de alto desempenho para o pré-sal, diz Edmundo Aires, vice-presidente de tecnologia e inovação da Braskem.






> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Número de bolsas dobra em 5 anos
Capes bancou 71.142 estudantes em 2011; obter o benefício passa por currículo, estágios, congressos e publicações
KÁTIA KAZEDANI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Capes aumentou em 121% o número de bolsas oferecidas nos últimos cinco anos para os cursos de pós-graduação stricto sensu. Em 2006, foram 32.199; no ano passado, 71.142. Conseguir o subsídio, porém, não é simples. O processo começa na graduação, onde o aluno deve ter um bom currículo e fazer estágios de iniciação científica, explica Daisy Maria Fávero Salvadori, assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp. "Para mestrado, é necessário ter participado de congressos. No doutorado, é fundamental ter publicado artigos em revistas científicas." Em geral, é preciso ainda passar por avaliações que variam de acordo com a área. "Na maioria dos cursos de ciências da saúde há só uma prova. Em ciências humanas, normalmente o candidato apresenta um pré-projeto", esclarece Euclides de Mesquita Neto, coordenador do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. "Nas engenharias, é preciso definir em que área irá trabalhar, ter um orientador e encaminhar o projeto para a instituição que concede a bolsa."





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Vida de estudante
RICARDO RIBEIRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tudo na vida tem o seu lado bom e o ruim. Para quem está planejando fazer um curso de pós-graduação, estudantes e formados alertam para as principais dificuldades no caminho e descrevem os maiores benefícios obtidos com o incremento de sua formação. DEDICAÇÃO - O principal desafio é encontrar tempo para a severa rotina de estudos, que muitas vezes precisa ser conciliada com o trabalho. "A pós exige muita dedicação e você abre mão de muita coisa. Você perde o gol do seu time, o beijo do seu filho e fica sem dormir. Costumo dizer que o melhor horário para estudar é das 4h às 6h da manhã, quando você está sozinho no mundo e rende mais", conta o engenheiro Jardel Folco, 46, que procurou a pós de nanotecnologia da UFABC. Falta tempo até para comer. "Todo mundo fala que eu emagreci, mas, com pressa, acabo comendo algo na frente do computador mesmo", diz Claudia Valasek, 23, mestranda em distúrbio do conhecimento no Mackenzie. MÁGICA - É comum o período de remuneração das bolsas ser menor que o tempo necessário para a realização do projeto. Os estudantes precisam fazer milagres no orçamento ou se desdobrar para cumprir as tarefas dentro do prazo. ORIENTAÇÃO - Conseguir o orientador não é fácil. Nem sempre as linhas de pesquisa combinam com o trabalho pretendido. Escolhido o professor, resta a complexa relação durante o processo. "Um orientador presente é fundamental para um bom resultado, mas cumprir todas as alterações pode deixar a gente doido", diz a aluna de mestrado Luciana Pinho, 32. HERÓI - Quem interrompe o trabalho tem dedicação integral, mas esbarra em dificuldades financeiras e falta de reconhecimento. "'Faço pós-graduação.' 'Mas você só estuda?' Em 99% das vezes vão te fazer essa pergunta e te ver com esses olhos. Quem vive de pesquisa no Brasil é um herói. É uma bolsa de R$ 1.166 por mês. Até um camelô ou um vendedor de hot dog ganha mais", desabafa Jardel Folco. RESULTADOS - O sacrifício é recompensado. "A pós melhorou muito minha inserção no mercado de trabalho e a minha forma de trabalhar", diz o médico Luciano de Azevedo, que fez doutorado em UTI. Já a mestranda Cláudia Valasek destaca a perspectiva de aumento de salário. "Sendo um profissional mais preparado, a remuneração aumenta", avalia Valasek.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Curso a distância encontra resistência
Contra preconceito, candidato deve preferir área técnica em escolas sérias
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Embora reconheçam a praticidade dos cursos a distância, empregadores ainda desconfiam de sua eficácia. Para minimizar o efeito, alertam especialistas, o ideal é escolher um programa de escola de renome, preferencialmente em área técnica, e demonstrar disciplina. O Brasil só possui um curso stricto sensu a distância recomendado pela Capes, o Profmat (Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional), da Sociedade Brasileira de Matemática. Mas a situação deve mudar. João Carlos Teatini, diretor de EAD (Educação a Distância) da Capes, diz que, por ser uma metodologia recente, há resistência em programas mais conceituados de pós. "Isso existe por força do tradicionalismo e pelo desconhecimento da modalidade." Entre os lato sensu a oferta é enorme - bem como o preconceito dos empregadores, afirma o consultor Paulo Buchsbaum. "No entanto, para cursos mais técnicos, o ensino à distância pode representar uma opção viável", diz. DISCIPLINA - Daniela do Lago, "coach" de executivos e professora de MBA da FGV, recomenda especial dedicação aos estudos. "Para estudar a distância é importante o aluno ter disciplina. Se for desorganizado, a empresa vai desconfiar da efetividade do curso." A desconfiança em relação ao método, contudo, tende a diminuir, afirma a consultora Dulce Magalhães. "A geração Y já traz outra percepção a respeito da EAD", pondera.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Empresa só valoriza pós 'com critério'
Encher currículo de cursos não é uma boa estratégia, alertam consultores
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Do ponto de vista das empresas, a pós costuma ser bem-vista, mas se feita com critério, dizem especialistas. Em outras palavras, o currículo carimbado por várias universidades pode chamar a atenção em um primeiro momento, mas logo será matizado por valores como experiências práticas, competências comportamentais, atitudes, personalidade e inteligência emocional. "Na maior parte dos casos, quem tem formação adicional será visto com mais atenção", diz o consultor Paulo Buchsbaum. "Mas é comum que pessoas com currículos menos brilhantes se revelem, na prática, mais promissoras do que pessoas com currículos estrelados." Daniela do Lago, "coach" de executivos e professora de MBA da FGV, lembra ainda que a pós pode ser valorizada não apenas pelo conteúdo em si, mas por mostrar a disposição do funcionário de se manter atualizado. "Todo e qualquer curso que demonstre que o colaborador está em constante desenvolvimento é bem visto." PELA CULATRA - Em outras situações, o tiro sai pela culatra - caso de empresas que valorizam a cultura da "mão na massa" e têm preconceito com a academia. "Numa situação ideal, todo o processo de aperfeiçoamento deveria ser visto positivamente pelas empresas, mas isso vai depender da cultura empresarial e até mesmo do propósito da pós-graduação", declara a consultora Dulce Magalhães.







<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Reconhecimento de mestrados aumenta
Empresas já reavaliam estigma de que curso é 'puramente acadêmico'
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os empregadores, ao avaliar ou sugerir um curso de aperfeiçoamento, pensam primeiro na modalidade lato sensu, associada a aplicações práticas. Companhias de ponta, contudo, crescentemente têm reconhecido o mestrado como melhor opção de estudos. Um dos fatores para tanto, segundo o consultor Paulo Buchsbaum, tem sido justamente a precariedade de muitos cursos lato sensu, como os MBAs, que se multiplicaram desenfreadamente. "A qualidade média dos cursos de MBA e pós lato sensu deixa a desejar. Então o mestrado pode ser bastante interessante, porque envolve outro tipo de profundidade acadêmica", analisa. Segundo ele, fatores como esses fazem com que "mais e mais empresas comecem a enxergar o mestrado com outros olhos e não apenas como um curso puramente acadêmico". "Essa visão mais ampla e menos preconceituosa é mais alinhada com a dos países de primeiro mundo." PERFIL DA EMPRESA - A consultora Dulce Magalhães afirma que o perfil da companhia determina a opção pela melhor pós. "Empresas com foco em pesquisa e desenvolvimento de produtos terão preferência por mestrados e doutorados", diz. "A pós lato sensu serve para refletir sobre áreas específicas do negócio, como RH e marketing. O MBA segue em alta para executivos porque oferece uma vantajosa combinação de conhecimento, aplicabilidade e networking."





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Reversão da "fuga de cérebros" traz médicos de volta ao país
Expansão de hospitais privados e aumento das verbas para pesquisa no Brasil impulsiona retorno. Na última década, verbas para pesquisa e desenvolvimento caíram 20% nos Estados Unidos
CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO
Tradicional exportador de cérebros, o Brasil começa a receber de volta médicos e pesquisadores que deixaram o país em busca de melhores condições de trabalho, consolidaram carreiras no exterior e agora retornam motivados pelo crescimento da economia brasileira e o aumento de verbas para pesquisa. A expansão de hospitais privados -só em São Paulo, os investimentos são na ordem de R$ 2,7 bilhões nos próximos cinco anos- também tem atraído esses profissionais de volta. Não há dados sobre a reversão da fuga de cérebros brasileiros, mas tanto o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) quanto a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) confirmam a tendência.


A Folha conversou com quatro médicos que estão voltando (ou já retornaram) ao país, após anos trabalhando em instituições americanas, como o NIH (Institutos
Nacionais de Saúde) e a Universidade de Pittsburgh. Na última década, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país passaram de R$ 26,3 bilhões (em 2000) para R$ 43,7 bilhões (em 2010), segundo o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação). O valor representa 1,19% do PIB brasileiro, quase o dobro da média de outros países da América Latina. Mesmo assim, o país não atingiu a meta estabelecida pelo governo de ter investido 1,5% do PIB em pesquisa até 2010. No mesmo período, o orçamento dos Estados americanos para ciência caiu 20%. "Está muito difícil obter financiamento para pesquisa nos EUA", diz o professor da USP Rodrigo Calado, que trabalhou nove anos no NIH e retornou ao Brasil.


"Temos atraído não só pesquisadores brasileiros que estão no exterior e querem voltar como estrangeiros que procuram o país para desenvolver projetos", afirma
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Artigo publicado em 2011 na revista "The Economist" coloca o Brasil como líder internacional em pesquisa em medicina tropical e sugere que o país é um destino promissor para pesquisadores do mundo todo. Diz o título: "Go south, young scientist" (vá para o sul, jovem cientista). Desde 2003, o Ministério da Saúde tem destinado recursos a linhas de pesquisa relacionadas às doenças "negligenciadas", também chamadas de doenças infecciosas da pobreza (como dengue, doença de Chagas e malária). O Brasil está no topo da lista de países que financiam pesquisas em dengue, por exemplo. Mas nem tudo é festa. A burocracia ainda emperra os projetos de pesquisa. "Tem um aparelho que estou tentando comprar desde outubro, que já foi aprovado pela Fapesp, mas que a papelada ficou parada em alguma mesa, à espera de algum carimbo", diz Rodrigo Calado.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
"Em breve, Brasil vai competir com EUA e Europa"
DE SÃO PAULO
Após concluir a residência médica em um hospital em Miami, em 1997, o hematologista Phillip Scheinberg, 41, foi convidado para ficar. Quatro anos depois, o seu endereço de trabalho já era o NIH, na área de pesquisa clínica e laboratorial. Tornou-se responsável pelo desenvolvimento de protocolos de pesquisa na área de falência medular. "Os americanos vão te dando corda, seu nome começa a aparecer e você não consegue parar mais. É um 'miniópio'", brinca. Nos últimos cinco anos, publicou mais de 50 artigos em periódicos de renome, entre eles o "Jama". No início do mês, Scheinberg passou a chefiar o serviço de hematologia do Hospital São José. Também continua dedicado à pesquisa médica. "Em breve, o Brasil estará competindo com os EUA, a Europa e o Japão. Quero ajudar nisso."





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
"Aqui tem verba para pesquisa em novas áreas"
DE SÃO PAULO
Foi uma bolsa de dois anos do CNPq que possibilitou ao cirurgião do aparelho digestivo Ruy Cruz Júnior, 41, fazer seu pós-doutorado na Universidade de Pittsburgh (EUA). Quatro anos depois, em 2006, após intenso treinamento na área de transplantes, ele conseguiu uma vaga de professor-assistente na mesma universidade. No final de fevereiro, Cruz Júnior retorna ao Brasil, onde integrará o grupo de transplante multivisceral do Hospital das Clínicas de São Paulo. Volta casado com uma enfermeira americana. Segundo ele, a intenção é continuar a parceria com a universidade americana. "Vim para os Estados Unidos para treinar e, algum dia, voltar para o Brasil. Nunca foi meu sonho morar aqui para sempre", diz ele. Cruz Júnior acredita ser o momento propício para o retorno de pesquisadores brasileiros. "Tem verba para pesquisa e novas áreas médicas estão sendo valorizadas."






> O Tempo, 31/01/2012 - Belo Horizonte MG
Volta às aulas evidencia abismo entre redes pública e particular
Estudantes que perderam 70 dias letivos em 2011 revelam desânimo
JOANA SUAREZ
Prestes a começar um novo ano letivo, a educação em Minas Gerais enfrenta desafios. A volta às aulas, marcada para depois de amanhã em algumas escolas e para dia 6 em outras, impõe ainda mais obstáculos aos alunos da rede estadual. Impactados pelos efeitos negativos da greve dos professores, eles revelam desânimo e preocupação. A corrida para colocar o ensino nos trilhos, após a paralisação, só aumenta o abismo entre a qualidade das instituições públicas e particulares. Cerca de 270 instituições da rede estadual nem conseguiram ainda terminar a reposição do conteúdo perdido nos 70 dias letivos de greve no ano passado. Uma das metas agora é realinhar o calendário prejudicado pela paralisação de 112 dias, a mais longa da história do Estado.


"A reposição é apenas o cumprimento de uma norma, mas não atende à necessidade pedagógica do aluno", critica o pedagogo e consultor educacional Guilherme José Barbosa. "A greve interrompeu o processo de aprendizado e aprofundou o desnível com a rede particular". A fórmula que o ensino público deve seguir para tomar um novo rumo, de acordo com especialistas, passa pela melhor preparação dos
professores, incentivo à leitura interpretativa e melhor aproveitamento do tempo em sala de aula. Comparação. Um bom termômetro da deficiência da educação pública é o desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A discrepância entre o resultado das alunas Letícia dos Santos e Marina Gonçalves de Aguiar, ambas com 17 anos, exemplifica a situação. Enquanto Letícia, que estudou em uma renomada escola particular de Belo Horizonte, teve boa nota no Enem e espera a publicação da lista de aprovados para o curso de medicina em duas instituições, Marina se saiu mal no exame, após ficar quase três meses sem aula por causa da greve, e viu sua expectativa de passar no vestibular de uma universidade pública se desmanchar. "Corri o risco de tomar bomba e não me sinto preparada para começar a faculdade".


A dificuldade que frustrou o sonho de Marina também será enfrentada neste ano por Lucas Alexandre Teixeira, 18, aluno da Escola Estadual Villa Lobos, na capital. Ele se diz inseguro para fazer o Enem. "Não recuperamos quase nada do conteúdo perdido", disse Teixeira, que mal vai concluir a reposição, no dia 10 de fevereiro, e já vai
começar o novo ano letivo uma semana depois. Tentando minimizar os impactos negativos da greve, a secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, afirma que o movimento se concentrou na região metropolitana de Belo Horizonte e teve a adesão de só 10% dos professores. "Tenho certeza de que a greve prejudicou os alunos. Mas, em cerca de 3.000 escolas, não tivemos nem uma hora de paralisação", disse.
Mau uso do tempo reduz aprendizado - Para o especialista em educação, professor e economista Claudio de Moura Castro, um problema grave, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, é a falta de produtividade nas aulas. "Pesquisas mostram que menos da metade do tempo de aula é realmente produtivo e se torna aprendizado. O restante é perda de tempo". A questão, na opinião do consultor, é mais séria do que uma greve de professores. O ensino médio das escolas brasileiras é o pior do mundo na avaliação de Castro. "Temos um modelo único de ensino, com 15 matérias obrigatórias, sem flexibilidade e sem considerar o grau de preparação, interesse e motivação do aluno".(JS)





<><><><><><><><><><><><><><>
> UOL Educação, 30/01/2012
MEC quer tablets nas escolas, mas programa anterior que entregou laptops chegou a menos de 2% dos alunos
Amanda Cieglinski da Agência Brasil, em Brasília
Quando o computador começou a chegar nas escolas, no final da década de 1980, ficava restrito às atividades administrativas. O equipamento começou a ser inserido no cotidiano dos alunos por meio dos antigos laboratórios de informática, ainda sem acesso à internet. Hoje, em plena era digital, a promessa é que, em pouco tempo, os tablets estejam nas mãos dos alunos disputando espaço com o quadro negro, livros e cadernos. Para isso, o MEC (Ministério da Educação) vai lançar este ano um edital para que as redes de ensino possam adquirir o equipamento a custo mais baixo, como fez com os laptops do programa UCA (Um Computador por Aluno). “Estamos definindo as características do aparelho, vai depender muito inclusive do custo. Não soltamos ainda o edital porque precisa ter uma definição clara dos pré-requisitos do equipamento. Tem que ter acessibilidade, ser resistente e rodar qualquer conteúdo”, explica Sérgio Gotti, diretor de Formulação de Conteúdos Educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC. Atualmente, cerca de 500 escolas do país contam com os laptops educacionais do UCA. O MEC calcula que 574 mil equipamentos foram adquiridos por meio do pregão do UCA, seja pelo próprio governo federal ou por prefeituras e governos estaduais - o número inclui máquinas que já foram solicitadas e estão a caminho das escolas. Considerando o total de matrículas na rede pública nos ensinos fundamental e médio, o número de estudantes que têm um computador em mãos hoje dentro da sala de aula representa menos de 2% das matrículas - se cada máquina estiver sendo utilizada individualmente, como previa o projeto original. Segundo Gotti, a intenção nunca foi universalizar o programa e levar os laptops a todos os alunos. O ministério defende que os tablets não virão para substituir os laptops, mas complementar as tecnologias existentes nas escolas.


As políticas na verdade se complementam e a gente espera universalizar a tecnologia unindo os tablets, os laptops e os computadores de mesa. As tecnologias se somam e a gente trabalha com as alternativas disponíveis dentro da melhor realidade de cada ambiente”, explica o diretor do MEC. O UCA começou a ser pensado em 2005, mas demorou a sair do papel, e as máquinas só chegaram aos estudantes em 2009. Os primeiros computadores foram distribuídos pelo MEC para alguns municípios e na segunda fase as próprias prefeituras adquiriram os aparelhos por meio de um edital organizado pelo governo que reduziu os custos. O governo ainda não decidiu se irá comprar parte dos tablets com recursos próprios e distribuir para as redes de ensino consideradas prioritários pelo baixo desempenho nas avaliações, como ocorreu com o UCA. Mas o edital para que as prefeituras e os governos estaduais possam comprar os equipamentos se tiverem interesse já está sendo produzido. Às vésperas da chegada de uma nova tecnologia nas salas de aula das escolas brasileiras,
ainda não há uma avaliação oficial dos resultados alcançados pelo UCA em termos de melhoria da qualidade do aprendizado. A percepção nas redes de ensino é que o equipamento desperta grande interesse nos alunos e dá mais motivação, diz Gotti.


A UFC (Universidade Federal do Ceará) está fazendo esse trabalho de avaliação do UCA, mas não há resultados ainda porque faz pouco tempo que os laptops estão em uso. Mas em geral tem-se constatado que há muito interesse por parte dos alunos no uso do computador em sala de aula que foge daquele modelo tradicional do laboratório de informática. Ele traz um ganho em termos de curiosidade desse aluno que pode pesquisar e entender melhor os conteúdos”, explica. Neste ano, o MEC divulga o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2011, indicador que mede a qualidade do ensino oferecido pelas escolas do país e é calculado a cada dois anos. Com esses dados será possível comparar se houve melhoria no desempenho das escolas que receberam os laptops entre 2009 e 2011. A Agência Brasil visitou duas escolas que fazem parte do UCA e encontrou realidades diferentes a respeito do uso da tecnologia em sala de aula. Conheça as histórias do Centro de Ensino10 da Ceilândia, em Brasília (DF), e da Escola Municipal Jocymara Falchi Jorge, em Guarulhos (SP), além da opinião de especialistas sobre os impactos da tecnologia no aprendizado.





<><><><><><><><><><><><><><>
Editoriais, artigos e opiniões






> Folha de São Paulo, 30/01/2012 - São Paulo SP
O que queremos do novo ministro da Educação?
Os jovens estão abandonando os estudos, pois a escola é vista por eles como desinteressante, sem conexão com o mundo real e com o mercado de trabalho
Maria Alice Setubal
Refletir sobre o que queremos do novo ministro da Educação é também uma oportunidade para estabelecermos um debate sobre qual educação o Brasil precisa para realizar o seu potencial de país emergente. A educação é uma questão prioritária para a realização desse potencial. O nível educacional da população é um fator imprescindível para o desenvolvimento. Já sentimos hoje no Brasil a falta de mão de obra qualificada para suprir as demandas de expansão da economia. Mas os nossos jovens estão abandonando os estudos, pois a escola é vista por eles como desinteressante, sem conexão com o mundo real e com o mercado de trabalho. A exigência de maior qualificação poderia ser respondida de imediato com a readequação do ensino médio e com a implementação de cursos técnicos, tecnológicos e profissionalizantes. Eles são, sem dúvida, da maior importância. Entretanto, a questão é bem mais complexa. Tivemos inúmeros avanços na melhoria da qualidade de vida da nossa população. A continuidade dessas políticas é de fundamental importância. Ainda estamos, porém, distantes uma educação de qualidade para todos. O Ministério da Educação é o responsável pela definição e pela indução de políticas. É nos Estados e municípios, entretanto, que a educação acontece.


É necessário, portanto, que o
governo federal costure um pacto com os entes federados. Para uma real mudança na qualidade da educação, dois pontos são prioritários para esse pacto e devem ser considerados de forma conjunta: novos parâmetros para a profissionalização docente e a definição de um currículo ou de metas de aprendizagem para o século 21. Vivemos a transição para uma sociedade cujos eixos centrais são a diversidade, a justiça social, a democracia e a sustentabilidade. O mundo tem discutido novas formas para uma economia mais verde com energia limpa, com inovação para produtos e com serviços ligados à agricultura, à cultura criativa, à indústria e à gestão de recursos naturais. As diversas manifestações políticas, ainda que de forma desordenada, tanto em nível nacional como internacional, têm apontado para o estabelecimento de criativas e inovadoras relações entre o Estado, o mercado e a sociedade civil.


Os avanços tecnológicos possibilitaram o surgimento de novas formas de comunicação global e de acesso à informação e à construção do conhecimento. É fundamental um novo currículo, adequado a esse novo tempo. É também fundamental que a profissão do professor seja socialmente valorizada, com salários adequados e melhores condições de trabalho. É necessário também que as
formações inicial e continuada ocupem um espaço central no exercício docente. Essa formação deve estar atrelada aos novos conhecimentos exigidos na sociedade contemporânea, para que a sala de aula possa refletir a articulação de conteúdos variados. Além disso, a capacitação do professor e os currículos dos alunos devem ser coerentes com as diversidades regionais e culturais do país.


É preciso reforçar que alguns avanços devem ser reconhecidos: o Plano Nacional de Educação, que está para ser votado pelo Congresso; e o debate iniciado em torno do currículo, da formação docente e da proposta de um exame nacional para professores. Assim, esperamos que o novo ministro leve adiante as conquistas e tenha a ousadia de estabelecer um real diálogo com toda a sociedade. Um diálogo pautado em metas claras de implementação de políticas que reflitam não apenas a prioridade da educação para o desenvolvimento do país, mas, sobretudo, que contemplem o que a sociedade considera importante para formar as nossas crianças e jovens. MARIA ALICE SETUBAL, 60, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, presidente dos Conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, da Fundação Tide Setubal e do IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade)





<><><><><><><><><><><><><><>
> Estado de Minas, 30/01/2012 - Belo Horizonte MG
Desafios da educação
Troca de comando no MEC renova expectativa de mais eficiência
A troca de comando do Ministério da Educação (MEC) vem em boa hora. Prioridade incontestável de qualquer nação que aspire lugar entre as mais desenvolvidas, a educação ainda está longe de orgulhar os brasileiros. Perdemos feio até para países da vizinhança, como comprovam rankings organizados por entidades internacionais idôneas e, o que é pior, em todos os níveis de ensino. Já vão longe as conquistas quanto à universalização do acesso à escola de primeiro grau e o Brasil continua patinando, contentando com resultados pífios, embora comemorados como se fossem dignos de festa. A verdade é que o MEC precisava mesmo de novas cabeças e, principalmente, de gente disposta a reconhecer que temos feito pouco e mal para avançar na qualidade do ensino.


Para começar, é hora de recuperar a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), iniciativa mais do que bem-vinda para deixar no passado o anacrônico sistema de vestibulares, que já tinha se transformado num funil injusto, num promotor de mais desigualdade social. É certo que a elevação do Enem a condição de porta de
entrada para as universidades federais, inclusive as que costumam figurar entre as melhores instituições de ensino do país deveria ter sido precedida por um grande esforço de restruturação do ensino médio prestado pela escola pública. Esse gargalo tem sido negligenciado pelo MEC e permanece como um dos desafios abertos à sua nova administração. Já o Enem precisa de livrar das trapalhadas patrocinadas pelo amadorismo com que tem sido levado.


Em vez de perder tempo e dinheiro em disputas judiciais com alunos prejudicados e com o Ministério Público, melhor fará o ministro Aloizio Mercadante se montar equipe com conhecimento e nível técnico para deixar no passado falhas que desmoralizaram o Enem e custaram caro ao erário. Foi o caso da quebra de sigilo das provas, da troca de gabaritos, complicações no sistema de informática (Sisu) e o inacreditável episódio da repetição no exame nacional de questões usadas em teste aplicado antes em uma escola do Ceará. Mais recentemente, alunos que tiraram péssimas notas na redação conseguiram revisão na
Justiça e, com o mesmo texto produzido, obtiveram ótimos resultados.


Apenas para ficar nos níveis fundamental e médio, está em discussão a adoção de um currículo único em todo o país. É preciso avançar nesse tema, superar questões menores e abir mão de arrogãncias e tentativas de impor de cima para baixo falsas realidades. A meta não pode ser nivelar por baixo. Pelo contrário, trata-se de equiparar, no mais breve tempo possível, o ensino nas escolas do país, preservando janelas regionais. Tampouco pode se afastar o MEC da formulação e da defesa de políticas de qualificação e de valorização da figura central da escola, o professor. É muito mais do que a simples decretação de piso salarial profissional, atitude cômoda para a União, que não tem o compromisso de pagá-lo, embora concentre 70% da arrecadação tributária do país. Seriedade, profissionalismo e capacidade de liderar um vigoroso processo de avanços reais e não apenas de perfumarias. É o que se espera do novo comando da educação no Brasil.






> Correio Braziliense, 28/01/2012 - Brasília DF
A batalha do piso dos professores
Reformas pretendidas por Mercadante no Ministério da Educação passam pela unificação salarial em estados e municípios
Karla Correia
A saída de Malvina Tuttman do comando do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (lnep) marcou o início das reformas pretendidas pelo novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em uma pasta recheada de problemas na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e pelo insucesso na negociação com estados e municípios em torno do piso salarial dos professores — hoje considerado pelo setor como um dos maiores desafios do ministério para os próximos anos.


A articulação com governos estaduais em relação ao cumprimento do piso salarial de professores da rede pública de ensino é uma das prioridades de Mercadante. O petista teve apoio amplo dos profissionais de educação em São Paulo em sua campanha pelo governo estadual, em 2010, e é visto pelo setor como um quadro de peso para a negociação. A conquista do cumprimento do piso, fixado em R$ 1.187,97 e ratificado em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), contará pontos para Mercadante, que tem ambições de voltar a
disputar o governo paulista em 2014.


Mercadante ainda terá que enfrentar uma dura queda de braço com as demais pastas da Esplanada para evitar um contingenciamento de grande porte em seu ministério e garantir, dessa forma, seus planos de expansão do investimento no ensino infantil. O crescimento dos recursos para o setor são fundamentais para destravar o programa Mais Educação, que pretende ampliar o tempo de permanência de alunos da rede pública com a oferta de jornada em tempo integral. Lançado por Fernando Haddad em 2008, ainda na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto não vingou até agora. Priorizar a alfabetização de crianças de até 8 anos, objeto do programa Alfabetização na Idade Certa, que será lançado neste semestre, também depende do crescimento do aporte para o ensino infantil. O projeto é considerado como uma das principais bandeiras de Mercadante.


Inep - A necessidade de ajustes na logística do Enem, que atinge cerca
de 5 milhões de estudantes e envolve um universo em torno de 400 mil profissionais, a cada edição, foi citada diretamente por Mercadante já em seu discurso de posse. “Pretendo realizar ampla consulta com especialistas de alto nível para buscar soluções que melhorem a eficiência e reforcem o caráter republicano e democrático do Enem”, afirmou o ministro, na solenidade. Apesar dos fracassos colecionados pelo instituto na realização do exame, Mercadante enfrenta resistência interna no Inep em relação às mudanças pretendidas no órgão. Os dois nomes mais cotados para suceder Malvina — o atual secretário da Educação Superior, Luiz Cláudio Costa, e a diretora de avaliação da educação superior do Inep, Cláudia Griboski — são rechaçados dentro do instituto. A secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, também já anunciou sua saída do MEC. Os secretários de Educação Profissional e Tecnológica, Eliezer Pacheco, e de Articulação com os Sistemas de Ensino, Carlos Abicalil, devem ser os próximos a deixar o governo, em meio às mudanças promovidas por Mercadante.





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 30/01/2012 - São Paulo SP
Educar
Aécio Neves
Vamos deixar de lado, por um instante, aquilo que a educação no Brasil tem de números, numa matemática cruel que pouco soma e muito subtrai -um dos piores cenários da exclusão social no âmbito da nossa sociedade. E falar de outro tipo de deficit educacional: o deficit da qualidade. Não existe, sabemos, a menor possibilidade de uma nação figurar entre as grandes do mundo -e esta é uma justa e viável aspiração do povo brasileiro- se os bancos escolares não servirem de ponto de partida para o nascimento de cidadãos plenos, bem informados e academicamente preparados. Mas também cidadãos donos de suas próprias ideias e convicções, resultado de um esforço coletivo aluno-professor-instituição que vá muito além das demandas do mercado de trabalho. Trato desse tema hoje e escolho essas palavras para fazer uma homenagem ao escritor Bartolomeu Campos de Queirós, falecido neste mês. Reconhecido internacionalmente, reverenciado em Minas Gerais e respeitado por tantos autores nacionais, Bartô -permitam-me o afeto da amizade- dedicou sua inteligência apurada e sua militância sensível às causas da educação e da literatura.


"O homem é feito de real e de ideal", dizia ele, no depoimento que acompanhou o manifesto fundador do Instituto Brasil Literário, organização não governamental cuja causa ele abraçou com dedicação. Sendo assim, prosseguia, a educação não pode se contentar em informar o que já foi feito e, sim, abrir a porta para a imaginação e a fantasia. Se a escola é o lugar da transformação, e não somente o da informação, não há como aceitar a redução dos currículos à acumulação estatística de saberes específicos. Ao liberar o direito de todos de criar, recriar, imaginar e romper o limite do provável- dizia ele- a educação estará exercendo o imprescindível
dom da democratização.


Em lugar de impor dogmas, cabe fermentar, no cultivo da dúvida e da inquietação, o direito cidadão de firmar sua trajetória cultural e intelectual. Refletir deixa de ser, assim, um privilégio de classe. Aprendemos muito com pessoas como Bartolomeu. Ele estava convencido de que a literatura poderia ser o grau zero para o profícuo estímulo da imaginação criadora. Dirão os céticos: tudo isso é romântico demais quando se trata de reparar, já, agora, deficiências bem pragmáticas no ensino brasileiro. As prioridades cobram atitudes imediatas, é verdade. Mas que qualquer iniciativa se assente em base humanista, sem desprezar a dimensão que a educação encerra de valores fundamentais ao ser humano. Como disse nosso escritor: "A gente só suporta o dia de hoje porque tem uma perspectiva do amanhã".





<><><><><><><><><><><><><><>
> Folha de São Paulo, 29/01/2012 - São Paulo SP
Quem deve se ligar na ciência?
Há uma distância cada vez maior entre a ciência que as pessoas consomem e a ciência que conhecem
Marcelo Gleiser
Para muitos leitores da minha coluna, a pergunta do título tem uma resposta óbvia. Mas esse não é o caso da maioria das pessoas. Basta entrar em uma livraria e tentar encontrar a parte de ciência. Ou checar as listas dos livros mais vendidos da Folha ou de outras editoras. Claro, volta e meia um livro sobre ciência entra na lista e fica por lá durante um tempo. Mas, em geral, são títulos que combinam ciência e religião ou ciência e política. A mesma coisa acontece no caso dos documentários sobre ciência.


Ninguém espera que a população brasileira se ligue nas últimas descobertas da ciência como se liga em novelas ou no "Big Brother". Mas o que me preocupa é a distância cada vez maior entre a ciência que as pessoas consomem e a ciência que conhecem. Cada vez mais, a tecnologia se torna uma "caixa preta" em que celulares e GPSs não são tão diferentes de objetos mágicos, importados do mundo do Harry Potter. Isso sem incluir questões científicas mais fundamentais -como a origem do Universo ou a da vida -e seu impacto cultural, por extensão, na nossa visão de mundo. Podemos
separar os modos de interação da ciência com o público em duas vertentes principais. A primeira lida com os usos da ciência, suas aplicações tecnológicas na eletrônica, na medicina ou na exploração e no uso de diferentes formas de energia. A segunda lida com questões mais metafísicas como "origens" ou o fim do Universo ou o que existe dentro de um buraco negro.


Em ambos os casos, a educação tem um papel crucial: tanto formal, nas escolas em todos os níveis, quanto informal por meio de livros, documentários, palestras e jornais. Algo curioso ocorreu a partir do início do século 20: quanto mais a ciência progrediu, mais ela se afastou dos fenômenos do dia a dia, tornando-se progressivamente mais abstrata e até mesmo bizarra. Para uma pessoa do século 18, não há dúvida de que muitas descobertas foram estarrecedoras. Por exemplo, a descoberta de Urano e de centenas de nebulosas por William Herschel expandiram dramaticamente as dimensões do Cosmo. Mesmo assim, eram descobertas "palpáveis", que necessitavam de um telescópio que podia ainda ser montado num
jardim -embora tivesse de ser bem poderoso.


No entanto, para se "ver" uma molécula de DNA ou um quasar a 5 bilhões de anos-luz são necessários instrumentos altamente especializados, fora do alcance de um cidadão comum. A distância entre os objetos e métodos da ciência e a maioria das pessoas só tende a aumentar. Talvez seja por isso que um leitor outro dia me disse que, para ele, acreditar em Deus ou no que os cientistas dizem sobre a teoria do Big Bang era a mesma coisa. Algo similar acontece com o aquecimento global: sem evidências concretas e imediatas, as pessoas acham difícil "acreditar" no assunto -mesmo que ninguém precise acreditar em asserções científicas, apenas examinar a evidência disponível e chegar a uma conclusão. Se mais cientistas se engajarem no ensino da ciência nas escolas e na sua popularização por meio da mídia, a distância entre as descobertas da ciência e a sua compreensão pelo público não especializado diminuirá. Cada vez mais, quem não se ligar na ciência ficará para trás.






> Gazeta do Povo, 30/01/2012 - Curitiba PR
Uma nova realidade?
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma boa ideia que padece de vários males. A prova, implementada inicialmente pelo Ministério da Educação com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino médio brasileiro, teve seu uso ampliado ao longo do tempo, passando a funcionar também como mecanismo de acesso a algumas universidades públicas, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A tentativa de estabelecer um único exame como um dos parâmetros de avaliação do ensino no país e como forma opcional para o ingresso em universidades possui grande relevância – e o agora ex-ministro da Educação Fernando Haddad nunca escondeu de ninguém seu sonho de fazer com que todas as instituições públicas de ensino superior adotassem o Enem como método único de seleção. Mas reiteradas falhas e disputas judiciais acabaram gerando insegurança e dúvidas nos alunos, professores e sociedade, que passaram a colocar em xeque a possibilidade de o Enem ser considerado um instrumento idôneo e eficiente para atingir os objetivos a que se propõe.


O imbróglio jurídico mais recente envolvendo o exame foi noticiado na semana passada, quando, em 24 de janeiro, o Tribunal Regional Federal da 5.ª Região (TRF5) suspendeu a liminar que permitia o acesso de estudantes a provas e espelhos de correção das redações do Enem de 2011. O Ministério Público Federal tinha pedido à Justiça Federal cearense que o direito de acesso à redação e revisão de nota, que já havia sido garantido para 12 alunos, fosse estendido a todos os candidatos do país. Até então, 71 alunos haviam obtido na Justiça o direito ao
acesso à correção da redação. Os pedidos foram pautados em um problema concreto e que jogou dúvidas sobre os cuidados e critérios de correção de provas subjetivas: por decisão judicial, o MEC precisou alterar a nota da redação de um estudante paulista, que passou de zero a 880, numa escala em que a pontuação máxima é mil. Esta foi a primeira vez em que o ministério se viu obrigado a rever a nota auferida a um aluno.


Além disso, o Enem sofre com denúncias de vazamento de questões e provas. No exame de 2011, 14 questões foram anuladas em Fortaleza por causa de vazamentos, atingindo 1.139 alunos. Estudantes do Colégio Christus, de Fortaleza, tiveram acesso antecipado às questões da prova em uma apostila da escola. Num passado não muito distante, em 2009, a prova vazou, foi cancelada e uma nova avaliação teve de ser estruturada. O incidente onerou os cofres públicos em milhões de reais e, ainda, causou diversos transtornos aos estudantes, pois a data do teste foi remarcada e acabou coincidindo com vários vestibulares no Brasil. Para completar a sucessão de problemas, em 2010, houve erros de impressão em um lote de provas, com questões e cabeçalhos invertidos, o que ocasionou confusão para parte dos alunos. Também foram constatadas, no mesmo ano, no sistema eletrônico de inscrições do Sisu falhas que levaram o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Joaquim Soares Neto, a deixar o cargo ainda no início de 2011.


A judicialização do teste, o vazamento de questões, o cancelamento do exame e os
problemas de impressão de provas são episódios que acabam por minar a confiança no Enem. Isso é nocivo porque, com um porcentual baixo de participação, o MEC não consegue fazer uma avaliação aprofundada do ensino médio brasileiro. Para se ter uma noção da pouca participação de estudantes no exame, no ano de 2010, em 60% das escolas do país menos da metade dos alunos prestaram a prova. Além disso, tantas falhas em anos consecutivos têm gerado em grande parte dos vestibulandos brasileiros dúvidas e incertezas com relação a seu ingresso em universidades públicas. Para citar dois exemplos apenas no Paraná, as duas maiores instituições de ensino público federal do estado – Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – utilizam de maneiras diferentes o exame em seus métodos de seleção. No caso da UFPR, 10% da avaliação do candidato é composta pela nota do Enem; já a UTFPR faz parte do Sisu, ou seja, utiliza exclusivamente o desempenho do vestibulando no exame nacional.


O que se espera é que o novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tenha empenho em corrigir – e não repetir – os erros do passado que fragilizaram o Enem. O exame, se bem aplicado, pode decidir os rumos de muitos jovens brasileiros, ao mesmo tempo em que pode se mostrar um excelente indicador para estabelecer outras políticas públicas de ensino. É desejável que as mudanças ministeriais impliquem não só acomodações políticas, mas novas realidades para a educação brasileira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário