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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CLIPPING EDUCACIONAL QUINTA, 26 DE JANEIRO DE 2012

Matérias de Hoje
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  • MEC verificará cobranças e poderá descredenciar instituições irregulares > Correio Braziliense - Brasília DF
  • Faculdade baiana suspeita de superfaturar mensalidade de bolsistas do ProUni será investigada pelo MEC > Correio Braziliense - Brasília DF
  • Mercadante assume o MEC e sugere 'residência' para professores > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • MEC divulga lista da segunda chamada dos candidados do Sisu > O Globo - Rio de Janeiro RJ
  • Enem: juiz dá 5 dias para Inep se pronunciar sobre pré-teste > Terra Educação
  • Ministério tirou 58 faculdades do Prouni por não cumprirem regras > IG Educação

Editoriais, artigos e opiniões
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  • Reprovado no Enem > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Reflexões sobre a USP > O Estado de São Paulo - São Paulo SP
  • Extraordinárias aulas de graça > Folha.com

Matérias
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> Correio Braziliense, 25/01/2012 - Brasília DF MEC verificará cobranças e poderá descredenciar instituições irregulares
Ascom Mec
O Ministério da Educação notificou a Faculdade de Artes, Ciência e Tecnologia (Facet), de Salvador, para que apresente em 48 horas esclarecimentos sobre os fatos denunciados pelo portal de notícias IG. Segundo a reportagem, a instituição estaria cobrando dos bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) valores indevidos da anuidade escolar, como forma de driblar as bolsas parciais do programa. O ministro Aloizio Mercadante determinou supervisão in loco e ordenou o deslocamento imediato de uma equipe da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu) para verificar as práticas da instituição baiana, tanto no ProUni quanto no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “Não há tolerância com desvios”, disse o ministro.

Mercadante solicitou ainda uma rigorosa apuração junto a outras instituições para conferir o
cumprimento das normas da legislação que regem os dois programas, que abrigam em conjunto mais de 1,5 milhão de estudantes do ensino superior. As instituições que não cumprirem as normas serão excluídas do ProUni e do Fies e o resultado da apuração será encaminhado à Receita Federal, por se tratar de crime fiscal. Os estudantes que forem lesados pelas instituições terão que ser ressarcidos.
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> Correio Braziliense, 25/01/2012 - Brasília DF Faculdade baiana suspeita de superfaturar mensalidade de bolsistas do ProUni será investigada pelo MEC
Agência Brasil
Após denúncia de que a Faculdade de Artes, Ciência e Tecnologia (Facet), de Salvador, cobrava mensalidade mais cara dos bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni), o Ministério da Educação (MEC) fará uma investigação no local para apurar o caso. Reportagem publicada ontem (24) pelo Portal IG denunciou que a Facet cobra valor diferenciado dos alunos que têm bolsa parcial do ProUni, que custeia metade da mensalidade. Enquanto para o público em geral a mensalidade do curso de direito era R$ 690, para os bolsistas subia para R$ 1,2 mil.

Na prática, segundo a denúncia, a instituição estaria cobrando dos bolsistas quase o mesmo valor de uma mensalidade integral e, ao
mesmo tempo, receberia do governo as isenções fiscais previstas para as faculdades que fazem parte do programa. A Facet já foi notificada e tem 48 horas para prestar esclarecimentos ao MEC. O ministro Aloizio Mercadante, que assumiu ontem o comando da pasta, também determinou que uma equipe da Secretaria de Ensino Superior do ministério vá até a faculdade baiana para verificar as práticas da administração em relação à cobrança de mensalidades de alunos beneficiados pelo ProUni e pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Se forem constatadas irregularidades, será aberto um processo administrativo e a Facet poderá ser excluída do programa de concessão de bolsas. A Agência Brasil procurou a Facet, mas não obteve retorno da direção da instituição de ensino. Um comunicado divulgado na página da Facet na internet informa que o valor “real” da mensalidade é R$ 1,2 mil, estabelecido em contrato. Segundo a nota, “a política de convênios da Facet, tais como pagamento antecipado [sic], é que levou à interpretação equivocada”. De acordo com a instituição, o valor de R$ 690 é cobrado apenas dos alunos que optam pelo pagamento antecipado, uma espécie de desconto. Em nota, o MEC informou que, caso haja descumprimento das regras, encaminhará as informações à Receita Federal “por se tratar de crime fiscal”.

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> O Estado de São Paulo, 25/01/2012 - São Paulo SP Mercadante assume o MEC e sugere 'residência' para professores
'Só se forma o professor botando a mão na massa, na sala de aula', afirmou
Lisandra Paraguassu, da Agência Estado
BRASÍLIA - O novo ministro da Educação, Aluizio Mercadante, quer criar uma residência para estudantes de licenciatura - a exemplo do que ocorre com médicos. Em sua posse, na noite desta terça-feira, Mercadante já começou a vender os programas em que deve investir na sua gestão. A "residência" dos professores deve ser sua peça central. "Só se forma o professor botando a mão na massa, na sala de aula", afirmou. A intenção do novo ministro é que o estudante de licenciatura, antes de ser aprovado para dar aulas em qualquer lugar, passe um período dentro das escolas públicas, como professor-assistente ou mesmo para dar apoio aos alunos. Apesar de ainda incipiente, a ideia encantou secretários estaduais e municipais de educação. O novo ministro também quer ver os melhores professores das redes públicas dando aulas nas regiões e escolas com os piores índices de qualidade. A troca, afirmou, ajudaria a romper um ciclo vicioso em que os melhores professores recebem sempre as melhores escolas e os melhores alunos.

Essa mudança, no entanto, já não é tão simples. Até hoje nenhum Estado ou município e nem mesmo o governo federal encontrou uma fórmula para avaliar os professores e descobrir quais deles são os melhores. Qualquer forma de avaliação encontra uma ferrenha resistência dos docentes.
Mercadante também anunciou, no seu discurso, outras duas propostas que recebeu praticamente prontas de Haddad. Uma delas é o Pronacampo, um conjunto de projetos para tentar melhorar a educação no campo. Outro, chama-se Alfabetização na Idade Certa, uma proposta de alocar os melhores recursos das redes de ensino - os melhores alfabetizadores, as melhores escolas e salas de aula, os melhores turnos - para as crianças até 8 anos, em fase de alfabetização. "Se essa criança não aprende a ler até os oito anos você corre um grande risco de perdê-la depois", afirmou o ministro.

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> O Globo, 26/01/2012 - Rio de Janeiro RJ MEC divulga lista da segunda chamada dos candidados do Sisu
Aprovados devem se matricular nos dias 30 e 31 nas instituições de ensino
O GLOBO / Agência Brasil
RIO - O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta quinta-feira (26) a lista da segunda chamada dos candidatos do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Os que estão nessa relação têm os dias 30 e 31 deste mês para efetuar as matrículas. Caso ainda haja vagas disponíveis, o sistema gera uma lista de espera que será disponibilizada para as instituições de ensino preencherem as vagas remanescentes. O candidato interessado em participar dessa lista deverá pedir a inclusão de hoje até 1° de fevereiro. Para se inscrever, o estudante deve ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e recebido nota diferente de zero na redação. No ato da inscrição, o aluno deve apresentar os documentos relacionados em seu boletim de acompanhamento, disponível no site do Sisu e na própria instituição de ensino.

Pelos dados do Ministério da Educação, 108 mil candidatos passaram pelo processo de seleção. Se não fizer a matrícula, o
participante que foi selecionado para a primeira opção de curso é retirado automaticamente do sistema e perde a vaga. O Sisu é uma ferramenta criada pelo MEC para unificar o processo seletivo de universidades públicas por meio das notas do Enem. Por esse sistema, as instituições públicas de ensino oferecem vagas para candidatos que participaram do exame. O processo seletivo deste ano se refere a matrículas para o primeiro e o segundo semestres de 2012.


> Terra Educação, 25/01/2012 Enem: juiz dá 5 dias para Inep se pronunciar sobre pré-teste
O juiz Luis Praxedes, da 1ª Vara da Justiça Federal do Ceará, decidiu no final da tarde desta quarta-feira dar um prazo de cinco dias para que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) se pronuncie sobre os cadernos do pré-teste do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De acordo com o procurador Oscar Costa Filho, que apresentou o pedido para que o Inep disponibilize todos os cadernos do teste aplicado em 2010, a intenção é comprovar se o vazamento foi maior que as 14 questões anuladas do exame para os estudantes do colégio Christus, de Fortaleza (CE). De acordo com a assessoria da Justiça Federal, após o prazo de cinco dias para esclarecimentos do Inep, o magistrado vai decidir se acata o pedido do procurador de disponibilizar o conteúdo dos testes. De acordo com Costa Filho, o Inep teria se negado a entregar a Polícia Federal (PF) os cadernos. "O Inep alegou que o material era sigiloso, mas ele já perdeu o sigilo com o vazamento", disse o procurador. "O que foi comprovado no inquérito (da Polícia Federal) é que a prova do Enem que foi realizada em 2011 é um espelho do pré-teste aplicado no Christus e em outros colégios do País. Nós sabemos que o número de questões que vazou é maior, agora precisamos identificar, por meio da prova original, quantas e quais foram", afirmou.

PF cobra maiores informações ao Inep - Também nesta quarta-feira, a Polícia Federal solicitou ao Inep informações sobre a quantidade de questões que formam o banco de itens do Enem, quantas foram pré-testadas e em que ano. A polícia também pediu que sejam apresentados todos os cadernos de prova do pré-teste aplicado em 2010. O pedido foi feito após solicitação do MPF-CE para que a PF aprofunde as investigações sobre o vazamento de questões do último Enem. Alunos do colégio Christus tiveram acesso antecipado a 14 questões que foram cobradas na prova de outubro por meio de uma apostila distribuída pela escola semanas antes da aplicação do Enem. A PF concluiu, depois de
dois meses de investigação, que os itens vazaram da fase de pré-tese da qual a escola cearense participou, em 2010. A polícia pediu o indiciamento de um professor e um funcionário do colégio por envolvimento no caso, mas segundo o MPF os elementos apresentados no inquérito são insuficientes para que a denúncia seja aceita. Por isso a PF solicitou novas informações ao Inep para complementar a investigação.

A prova do Enem é composta por questões que integram um banco de itens do Inep. Antes de entrar para esse banco, cada questão passa por um pré-teste, que avalia se o item é válido e qual é o grau de dificuldade. Os alunos que participam do pré-teste são escolhidos aleatoriamente e, após responder ao caderno de questões, devolvem o material que deve ser incinerado. Segundo o Ministério da Educação (MEC), 91 alunos do Christus participaram do pré-teste em 2010 e as questões foram copiadas de dois dos 32 cadernos de prova aplicados na escola.

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> IG Educação, 25/01/2012 Ministério tirou 58 faculdades do Prouni por não cumprirem regras
Só em 2009, governo deixou de arrecadar R$ 530 milhões com o programa. Para sindicato, descontos não podem ser "sobrepostos"
Priscilla Borges e Severino Motta, iG Brasília
O Ministério da Educação desvinculou 58 faculdades do Programa Universidade para Todos (Prouni) porque elas não ofereceram a quantidade de bolsas combinadas com o governo. Agora, a Facet pode engrossar essas estatísticas caso o processo administrativo aberto pela pasta para apurar denúncia feita pelo iG – de que a instituição estava cobrando mensalidades de valores diferentes para os bolsistas do programa – comprove irregularidades. O iG revelou que a Facet, faculdade sediada na Bahia, cobra uma mensalidade de R$ 690 para alunos em geral. Quando se trata de um bolsista do Prouni, no entanto, a instituição eleva o valor para R$ 1.210. O desconto que o bolsista parcial do Prouni deveria ter, de 50%, acaba saindo por 12%. “Isso está errado. O bolsista não pode ser tratado de forma diferente”, ressaltou o secretário de Educação Superior, Luiz Cláudio Costa.

Pela lei que criou o programa, as bolsas parciais (de 50%) deverão ser concedidas “considerando-se todos os descontos regulares e de caráter coletivo oferecidos pela instituição, inclusive aqueles dados em virtude do pagamento pontual das mensalidades”. O caso pode
ser configurado como crime fiscal e será investigado pelo ministério. O novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou em nota que determinou uma visita in loco de uma comissão do ministério para averiguar os fatos. Ele espera uma resposta em 48 horas e afirmou que vai apurar se o mesmo tipo de prática é feito por outras instituições. “Não há tolerância com desvios”, garantiu.

Isenção fiscal - As instituições que participam do Prouni não recebem do governo parte do valor da mensalidade dos bolsistas do programa. Na verdade, o “pagamento” do governo federal é feito por meio de isenção fiscal. Ele não coincide com o valor exato das prestações e é calculado pela Receita Federal com base na arrecadação feita pela faculdade. O último levantamento feito pelo Ministério da Educação com dados da Receita, em 2009, mostra que o custo mensal de cada bolsa do programa saía para o governo R$ 175,38. Só naquele ano, o governo federal deixou de arrecadar cerca de R$ 530 milhões. Somente as instituições com fins lucrativos ganham a renúncia fiscal, de acordo com o MEC. A partir deste ano, as faculdades que participam do ProUni só receberão a isenção
de impostos de acordo com as bolsas que, de fato, forem preenchidas por alunos. Até o ano passado, a concessão era feita em cima do número de bolsas oferecidas. Com isso, o governo deve perder menos arrecadação. A quantidade de bolsas oferecidas também é determinada pelo MEC. O iG procurou a Receita Federal para saber quanto a Facet já deixou de pagar em impostos desde que participa do Prouni. A assessoria informou que esse era um dado sigiloso e não poderia ser divulgado.

Acúmulo de descontos - Para a presidente do Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios, os descontos oferecidos pelas instituições não podem ser “sobrepostos”. “Precisamos ver com cuidado o que está acontecendo, porque todas as faculdades têm várias políticas de bolsas, além do Prouni. A mensalidade deve ser uma só para todo mundo e os descontos não podem ser sobrepostos”, diz. “Há políticas diferentes de bolsas e o aluno deve optar apenas por uma delas. Não dá o aluno do Prouni querer receber descontos de mais de uma”, completa.

Editoriais, artigos e opiniões
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> O Estado de São Paulo, 26/01/2012 - São Paulo SP Reprovado no Enem
José Serra, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza, em 1998, como parte de um esforço para melhorar a qualidade das escolas desse ciclo educacional. Para isso precisava de um instrumento de avaliação do aproveitamento dos alunos ao fim do terceiro ano para subsidiar reformas no sistema. Iniciativas desse tipo também foram adotadas para o ensino fundamental e o universitário. Nada mais adequado que conhecer melhor o seu produto para adotar as terapias adequadas. O principal benefício para o estudante era avaliar o próprio conhecimento. O Enem é uma prova voluntária e de caráter nacional. As questões são as mesmas em todo o Brasil. Sua expansão foi rápida: até 2002, cerca de 3,5 milhões de alunos já tinham sido avaliados. Note-se que Paulo Renato chegou a incentivar as universidades a levarem em conta o resultado do Enem em seus respectivos processos seletivos. Em 2002, 340 instituições já faziam isso. Ainda que o PT e seus sindicatos tivessem combatido o Enem, o governo Lula manteve-o sem nenhuma modificação até 2008, quando o Ministério da Educação (MEC) anunciou, pomposamente, que ele seria usado como exame de seleção para as universidades federais, o que "acabaria com a angústia" de milhões de estudantes ao pôr fim aos vestibulares tradicionais. A partir dessa data, dados os erros metodológicos, a inépcia da gestão e o estilo publicitário (e só!) de governar, armou-se uma grande confusão: enganos, desperdício de recursos, injustiças e, finalmente, a desmoralização de um exame nacional.

O Enem, criado para avaliar o desempenho dos alunos e instruir a intervenção dos governos em favor da qualidade, transformou-se em porta de acesso - ou peneira - para selecionar estudantes universitários. Uma estupenda contradição! Lançaram-se numa empreitada para "extinguir os vestibulares" e acabaram criando o maior vestibular da Terra, dificílimo de administrar. A angústia de milhões de candidatos, ao contrário do que anunciou o então ministro Fernando
Haddad, cresceu, em vez de diminuir. E por quê? Porque a um engano grave se juntou à inépcia. Vamos ao engano. Em 2009 o Enem passou a usar a chamada Teoria da Resposta ao Item (TRI) para definir a pontuação dos alunos, tornados "vestibulandos". Mas se recorreu à boa ciência para fazer política pública ruim. A TRI mede a proficiência dos alunos e é empregada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Sabe) desde 1995, prova que não seleciona candidatos - pretende mostrar o nível em que se encontra a educação, comparar as escolas e acompanhar sua evolução, para orientar as políticas educacionais.

Como o Enem virou prova classificatória, o uso da TRI, que não confere pontos aos alunos segundo o número de acertos (Teoria Clássica dos Testes), renovou a "angústia". O "candidato" não tem ideia de que pontuação lhe vão atribuir porque desconhece os critérios do examinador. Uma coisa é empregar a TRI para avaliar o nível dos jovens; outra, diferente, é fazer dela um mistério que decide seu destino. Na verdade, o "novo" Enem passou a usar a TRI para, simultaneamente, selecionar alunos, avaliar o desempenho das escolas, criar rankings, certificar jovens e adultos que não completaram o ensino médio e orientar o currículo desse ciclo. Não há exame no mundo com tantas finalidade discrepantes. A Teoria Clássica dos Testes não distingue o acerto derivado do "chute" do decorrente da sabedoria. A TRI pode ser mais apropriada como forma de avaliar o nível da educação, mas como critério de seleção vira um enigma para os candidatos. Os vestibulares "tradicionais", como a Fuvest, costumam fazer sua seleção em duas etapas: uma primeira rodada com testes e uma segunda com respostas dissertativas - que não comportam o chute.

O Enem-vestibular do PT concentrou, ainda, na prova de redação a demonstração da capacidade argumentativa do aluno. Além de as propostas virarem, muitas vezes, uma peneira ideológica, assistimos a um
espetáculo de falta de método, incompetência e arbítrio. O País inteiro soube de um aluno, em São Paulo, que recorreu à Justiça e sua nota, de "anulada", passou para 880 pontos - o máximo é mil. Outro, ao receber uma explicação de seus pontos, constatou um erro de soma que lhe roubava 20 pontos. Outros 127 estudantes conseguiram ter suas notas corrigidas. Atentem para a barbeiragem técnica: nos testes, recorre-se à TRI para que o "chute" não tenha o mesmo peso do acerto consciente, mas o candidato fica à mercê de uma correção marcada pelo subjetivismo e pelo arbítrio. É conhecida também a sucessão de outros problemas e trapalhadas: quebra do sigilo em 2009, provas defeituosas em 2010 e nova quebra de sigilo em 2011. Além disso, os estudantes que, via Justiça, cobram os critérios de correção das redações costumam receber mensagens com erros grotescos de português. Todos nós podemos escorregar aqui e ali no emprego da norma culta. Quando, porém, um candidato questiona a sua nota de redação e recebe do próprio examinador um texto cheio de erros, algo de muito errado está em curso.

Se o MEC queria acabar com os vestibulares, não poderia ter criado "o" vestibular. Se o Enem deve ser também uma prova de acesso à universidade, não pode ser realizado apenas uma vez por ano - prometem-se duas jornadas só a partir de 2013. A verdade é que o governo não criou as condições técnicas necessárias para que a prova tivesse esse caráter. A quebra de sigilo em 2011 se deu porque questões usadas como pré-testes foram parar na prova oficial. O banco de questões do Enem não suporta a demanda. O PT esqueceu-se de cuidar desse particular no afã de "mostrar serviço" - um péssimo serviço! O ex-ministro Haddad, antes de deixar o cargo, fingiu confundir a crítica que fizeram a seu desempenho com críticas ao próprio Enem, o que é falso. Talvez seu papel fosse mesmo investir na confusão para tentar apagar as pegadas que deixou. O nosso papel é investir no esclarecimento.

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> O Estado de São Paulo, 15/01/2012 - São Paulo SP Reflexões sobre a USP
Registro a minha inconformidade com os surtos de violência no câmpus da capital
Celso Lafer
O próximo 25 de janeiro assinalará os 78 anos de existência da Universidade de São Paulo (USP). Cabem, por isso mesmo, algumas reflexões sobre o papel que vem tendo na vida do nosso Estado e do País. Criada em 1934, a USP foi concebida como uma instituição de natureza pública, voltada para promover o desenvolvimento da sociedade paulista e nacional por meio da geração e transmissão de conhecimento e a formação de especialistas e profissionais em todos os ramos do saber. O lema da USP, Scientia Vinces, traduz a ideia a realizar do seu projeto. Este é o do bem público que objetiva ampliar continuamente a capacidade do País de enfrentar com autonomia crítica os múltiplos desafios da dinâmica do mundo contemporâneo. Tornar viável esse bem público requer recursos, que, no caso, provêm do contribuinte paulista. Atualmente a USP administra com autonomia (Decreto n.º 29.588, de 2 de fevereiro de 1988) a parcela anual de 5,0295% da quota-parte do Estado na arrecadação do ICMS. Em valores monetários isso significou, em 2011, R$ 3.778.388.716,00. São valores muito expressivos. Por isso cabe a análise - contínua e republicana - da relação entre esses recursos, originários do contribuinte paulista, e o modo como estão sendo cumpridos os objetivos pioneiramente vislumbrados na criação da USP. A governança da USP é regida pelo seu Estatuto, que data de 1988, e pelo seu Regimento-Geral, de 1990. Esses dois documentos básicos, com alguns ajustes feitos subsequentemente, assim como o decreto de 1988 que consagrou a autonomia na gestão de recursos oriundos de um porcentual do ICMS, foram elaborados no contexto da plena redemocratização do País, que se seguiu ao término do regime autoritário-militar implantado em 1964. É esse contexto que dá o significado do artigo 3.º do Estatuto: "A USP, como Universidade pública, sempre aberta a todas as correntes do pensamento, reger-se-á pelos princípios de liberdade de expressão, ensino e pesquisa". É esse artigo que norteia os princípios comuns do Código de Ética da USP de 2001, que, com base na tolerância e no pluralismo (artigo 1.º) e respeitando as opções individuais dos seus servidores docentes e não docentes e de seus alunos, consagra a não adoção de posições partidárias na sua governança, assim como a sua não submissão a pressões de ordem ideológica, política ou econômica que possam desviar a universidade de seus objetivos científicos, culturais e sociais (artigo 3.º, II e III).

É tríplice a missão da USP, consolidada em seu Estatuto (artigo 2.º): promover e desenvolver o conhecimento por meio do ensino e da pesquisa; formar pessoas capacitadas para a investigação, o magistério e o exercício de atividades profissionais; estender à sociedade os serviços que são indissociáveis do ensino e da pesquisa. Sob a égide do atual regime de governança, são muito expressivos os indicadores do desempenho e os resultados alcançados na sua vigência. No item da formação e qualificação, menciono que a USP, em 2010, manteve 240 cursos de graduação nos seus câmpus da capital e do interior (90,5% de crescimento em relação a 1989), ofereceu 10.622 vagas (crescimento de 57,4% no mesmo período), teve 57.300 alunos matriculados (79,6% de aumento no período). Observo que em 2010 a USP abriu 3.627 vagas em cursos noturnos, o que representou um aumento de 97% em relação a 1989. Na pós-graduação, em 2010, 5.830 alunos foram titulados. Destes, 3.492 obtiveram o mestrado - um aumento verificado de 237,1% entre 1989-2010 - e 2.338, o doutorado - um crescimento de 291% no mesmo período.

No item pesquisa, a produção científica da USP atinge 8.417 artigos indexados (nas bases Thomson-Reuters-IST) e o crescimento foi de 751,9%. O Estado de São Paulo contribui com cerca de 50% da produção científica brasileira e, destes 50%, metade provém da USP, que é a principal universidade brasileira de pesquisa. Contribui assim, e muito, a
USP para a densidade do conhecimento que singulariza São Paulo na Federação. Sei, vindo da área de Humanas, que os indicadores não exprimem toda a realidade, mas dela são uma válida aproximação que oferece componentes do objetivo e reduz a subjetividade da avaliação. Foram os indicadores do desempenho da USP que a colocaram em primeiro lugar entre as universidades da América Latina, situando-a entre as 200 melhores universidades do mundo.

Esses resultados, que são o fruto de uma ação coletiva da comunidade uspiana, foram alcançados na vigência do seu regime de governança. Por isso é uma obrigação dos que questionam esse regime indicar de que maneira outros critérios e aperfeiçoamentos poderiam fazer mais e melhor do que está sendo feito. Como professor da USP durante 40 anos, recém-aposentado pela compulsória, registro minha inconformidade com os recorrentes e minoritários surtos de violência no câmpus da capital, que afetam o patrimônio público, destroem e não criam, como ensina Hannah Arendt; com ineptas alegações de desobediência civil que, num Estado de Direito democrático, nada têm que ver com a resistência à opressão; com minoritárias e raivosas manifestações de professores, alunos e servidores, frontalmente contrários ao Código de Ética da USP, que estipula que entre os membros da universidade o direito à liberdade de expressão deve ser exercido dentro de normas de civilidade e sem nenhuma forma de desrespeito. Esse raivoso desrespeito, também em relação ao reitor João Grandino Rodas, inclusive da parte de professores da minha Faculdade de Direito, ecoa um verso de Yeats, quando aponta que the worst are full of passionate intensity. Essa intensidade passional pode ser expressão de um mal-estar em relação ao mundo que nos cerca. Pode ter objetivos político-partidários. Na USP são irresponsáveis palavras e vozes que só levam a um beco sem saída.


> Folha.com, 26/01/2012 Extraordinárias aulas de graça
Gilberto Dimenstein
Alunos, pais e professores brasileiros já podem acessar gratuitamente aulas de matemática e ciências que são um sucesso nos Estados Unidos e se espalham pelo planeta. O idealizador desse projeto foi um dos personagens mais interessantes que conheci em minha passagem por Harvard. Chama-se Salman Khan, um daqueles gênios em ciências que preferiu jogar fora sua carreira bem-sucedida no mercado financeiro para ajudar a educar crianças, tornando atrativas as intricadas (e chatas) aulas de matemática. É de uma simplicidade extraordinária. Apenas uma mão na lousa e a locução do próprio Khan. O método fez sucesso e prosperou por que muita gente começou a acessar os vídeos. Um deles era Bill Gates, que usava o material para ajudar na lição de casa do filho. Daí surgiram os recursos para Salman se dedicar apenas a esse projeto. Estava ali uma possibilidade simples e barata de usar os recursos digitais para amenizar nossas carências educacionais. Considerei uma das minhas tarefas ajudar a popularizá-lo aqui no Brasil. O problema é que o material era apenas em inglês, dificultando o uso por brasileiros. A boa notícia é que esse material já começa a ser traduzido. Os primeiros vídeos, traduzidos pela Fundação Lemann, em parceria com a Intel, já estão ar. Se as escolas, pais e alunos usarem esse material vamos ter um ganho educacional.

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